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Cidade mais perigosa do mundo é maquiada para receber vôlei brasileiro

Mulher reza em frente a cruzes que simbolizam a chacina de 8 mulheres em C.Juarez - AP/Raymundo Ruiz
Mulher reza em frente a cruzes que simbolizam a chacina de 8 mulheres em C.Juarez Imagem: AP/Raymundo Ruiz

Guilherme Coimbra

No Rio de Janeiro

28/06/2011 07h00

Ciudad Juárez registra 229 homicídios para cada 100 mil habitantes. Sozinho, o número não significa muito. Mas é só comparar com índices de locais em situação de guerra, como Kandahar, no Afeganistão (169,9) que o perigo salta aos olhos. A cidade mexicana é a mais perigosa do mundo segundo dados da ONG Consejo Ciudadano para la Seguridade Pública y Justicia Penal.

BRASIL COM FORÇA MÁXIMA NO MÉXICO

  • FIVB/Divulgação

    José Roberto convocou o que tem de melhor. Apenas ponteira Mari, alegando problemas pessoais, pediu dispensa. Como o calendário de 2012 será muito apertado, o técnico pretende usar o time principal nas cinco competições oficiais de 2011 para ganhar conjunto. O objetivo é terminar a Copa do Mundo, em novembro, no Japão, entre os três primeiros lugares e garantir uma vaga em Londres, evitando o Pré-olímpico de maio do ano que vem.

    "A Superliga 2011/2012 termina no dia 28 de abril", explica. "Com as duas semanas de folga que damos para as jogadoras, começaríamos a treinar em cima do laço. Além disso, temos que disputar de 40 a 50 jogos internacionais até a Olimpíada para dar experiência ao grupo, principalmente às levantadoras [Fabíola e Dani Lins]."

    A seleção chega a Ciudad Juárez nesta terça-feira e realiza o primeiro treino às 17h30 (14h30 de Brasília). A estreia é sexta-feira, contra Trinidad e Tobago. O Brasil, que já venceu o torneio em 2006 e 2009, está no grupo B, que tem também Costa Rica, Estados Unidos, Peru e Porto Rico. Argentina, Canadá, Chile, Cuba, México e República Dominicana estão no grupo A.

     

Mesmo assim, a seleção brasileira feminina de vôlei que disputa a Copa Pan-Americana no local a partir de sexta-feira dificilmente sentirá os efeitos da violência. A tática é velha, foi usada pelo Rio de Janeiro (outra cidade entre as mais perigosas do mundo) durante o Pan de 2007 e funciona: maquiar a cidade enquanto os estrangeiros estiverem olhando com mais atenção.

“Os crimes a sensação de insegurança continuam. O que se faz é aumentar barbaramente o policiamento nas áreas envolvidas no evento, o que reduz momentaneamente os crimes comuns e causa a quem passa pela cidade uma falsa sensação de segurança”, diz Lucy Sosa, repórter premiada que cobre há 22 anos o mundo do crime para o jornal Diario de Juárez.

Ela ganhou, em janeiro, o prêmio Periodistas del Mundo, do jornal espanhol El Mundo, pela cobertura do dia-a-dia de Ciudad Juárez. E assunto para isso não falta. Os 1,3 milhão de habitantes vivem sob fogo cruzado da guerra entre cartéis narcotraficantes e forças de defesa mexicanas. A cidade é sede de duas poderosas organizações criminosas: os cartéis de Juárez e Sinaloa.

No último domingo, por exemplo, a polícia encontrou uma caminhonete com quatro corpos com marcas de tiros à queima-roupa ao lado de um campo de beisebol no bairro de Fidel Velázquez. O fato é tão corriqueiro que as duas equipes amadoras que se enfrentavam no campo continuaram a partida enquanto a polícia trabalhava.

Essa maquiagem, e a sensação de segurança que ela carrega, fez com que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) não procurasse proteção extra para as campeãs olímpicas que jogam no México durante a semana.  “Nós vamos com a preocupação normal que todo o mundo tem”, explica Antonio Rizola, gerente da Unidade de Seleções da CBV. “As pessoas em geral respeitam o esporte. Nunca tivemos problemas de segurança em lugar nenhum do mundo e não vejo problema em jogar em Ciudad Juárez”, completa o técnico José Roberto Guimarães.

“A partir do momento em que a FIVB [Federação Internacional] e a Norceca [Confederação Norte e Centro-americana] definem uma sede, temos certeza de que não vão faltar estrutura nem segurança. Já jogamos em Tijuana e Mexicáli, [também no Norte do México], quando os Estados Unidos mais apertavam o cerco contra o narcotráfico, e não tivemos problema nenhum”, fala Rizola.