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Com perfil atípico no vôlei, Walewska sugere exterior às brasileiras e quer estudar cinema

Walewska (camisa 1) é o principal reforço do Vôlei Futuro para a temporada 2011/2012 - Alessandro Iwata/Divulgação
Walewska (camisa 1) é o principal reforço do Vôlei Futuro para a temporada 2011/2012 Imagem: Alessandro Iwata/Divulgação

Paula Almeida

Em São Paulo

06/12/2011 06h01

Nas últimas três temporadas, a Superliga de vôlei tem se notabilizado pelo retorno de grandes atletas que, após anos no exterior, voltam ao país graças aos investimentos das empresas nos clubes brasileiros. A edição 2011/2012 não é diferente, e o grande destaque do mercado é a central Walewska, que está de volta depois de passar sete anos atuando por equipes internacionais. Além da vasta experiência profissional, ela traz na bagagem conhecimentos sobre as culturas dos três países em que jogou, uma análise diferenciada do esporte e conselhos para as atletas que ainda têm medo de se aventurar em outros territórios.

PRINCIPAIS TÍTULOS CONQUISTADOS POR WALEWSKA NA EUROPA

2004 a 2007: Perugia (ITA) - uma Champions League, duas Copas CEV, um Campeonato Italiano e duas Copas da Itália
2007 a 2008: Murcia (ESP) - um Campeonato Espanhol
2008 a 2001: Zarechie Odintsovo (RUS) - um Campeonato Russo

Jogadora de seleção brasileira desde 1997, Walewska já tinha uma carreira sólida quando decidiu deixar o Brasil na temporada 2004/2005 para compor, ao lado da também brasileira e amiga Fofão, um dos elencos mais fortes do mundo à época: o italiano Perugia. Em 2007, Walewska e Fofão (com Jaqueline) partiram para o novo time ‘galáctico’ do Velho Continente, o Murcia. Por fim, o ‘mochilão’ acabou no russo Zarechie Odintsovo. Ao todo, em sete anos, foram três títulos europeus (uma Champions League e duas Copa CEV), quatro Nacionais (dois Italianos, um Espanhol e um Russo) e várias Copas regionais.

Agora, Walewska é o principal reforço do Vôlei Futuro para a Superliga que começa na próxima sexta-feira.  “Eu não poderia estar em lugar melhor. Na Rússia, o clima era -30, em Araçatuba é 40º”, compara a jogadora. “Por isso, eu não vou reclamar do calor não, porque lá na Rússia era muito frio. Tudo é só uma questão de readaptação”.

Em sua passagem pelo voleibol internacional, Walewsca conheceu e enfrentou algumas das principais atletas do mundo. A experiência ajudou durante seu período na seleção brasileira, com a qual conquistou o ouro em Pequim-2008 e da qual se despediu naquela mesma Olimpíada.

UMA CENTRAL PASSADORA

  • Alessandro Iwata/Divulgação

    Não é só culturalmente que Walewska mostra um perfil diferenciado. Ela é uma das poucas centrais do mundo que faz passe e recepção e que não precisa ser substituída por uma líbero ao chegar no fundo de quadra.

    A versatilidade permitiu à jogadora até uma situação inusitada no Campeonato Paulista deste ano. Com as duas líberos do elenco sem condições físicas, Walewska foi improvisada na posição na partida contra o São Caetano. Apesar de gostar da experiência, ela fez ressalvas. “A sua energia fica muito canalizada, você fica só ali, preocupada com a defesa, não tem um escape. Mas como experiência, foi muito interessante”, conta.

Após os Jogos da China, a mineira avisou que não voltaria mais ao combinado nacional, e apesar de alguns pedidos informais de jogadoras e membros da comissão técnica, ela manteve a promessa. E garante: sem arrependimentos.

“Eu fui para a seleção muito nova, em 1997, e participei de quase três gerações. Eu fiz uma história lá dentro e foi tudo muito bem planejado. Então, fico feliz por isso e por não ter esse arrependimento”, conta, revelando que o interesse em continuar jogando no exterior foi um dos motivos que a mantiveram distante da seleção. “Eu queria continuar jogando fora e não conseguia conciliar com a seleção por causa do calendário”.

Se estivesse entre as comandadas do técnico José Roberto Guimarães na final do Mundial feminino do ano passado, no Japão, talvez a central pudesse ter ajudado a equipe a evitar alguns dos incríveis 35 pontos que a russa Gamova marcou na derrota brasileira por 3 sets a 2.

“Joguei várias vezes contra a Gamova na Rússia, e ela já está bem marcada. Posso dar as dicas se quiserem”, brinca Walewska, que agora pretende passar suas informações de ‘espiã’ para o técnico Paulo Coco, treinador do Vôlei Futuro e auxiliar de Zé Roberto.

Conhecer as jogadoras dos outros países e saber como as seleções estão atuando é, no ponto de vista da meio de rede, uma das principais razões para que as brasileiras se sintam motivadas a sair do Brasil. Para ela, apesar da força atual da Superliga e até da moeda brasileira, o intercâmbio é fundamental.

“Os patrocinadores têm ficado mais nas equipes, e isso, dando continuidade, fazendo essa programação, dá uma segurança a mais para os atletas. Mas eu acho muito importante esse intercâmbio lá fora, para poder conhecer as jogadoras, as equipes. Essas informações que a gente traz são muito importantes”, explica.

Mas não é só o crescimento profissional que conta na opinião de Walewsca. Poliglota, ela se orgulha de ter aprendido três idiomas (italiano, espanhol e russo) e de ter conhecido a cultura dos países onde jogou.

“Eram jogadoras de vários países. Então essa vivência de falar três línguas diferentes dentro da quadra não tem preço”, exalta. “Isso de o atleta só dormir, treinar e jogar não é pra mim. Depois que o vôlei terminar, eu vou poder dizer que eu fui aos museus na Rússia, que ia ao cinema ver um filme no idioma do país em que eu estava, que eu fui aos parques, que eu aprendi”.

Depois do vôlei, por sinal, nada mais de esporte. Diferentemente da maioria dos atletas, ela garante: não vai querer nem saber mais da quadra quando encerrar a carreira, no máximo daqui a dois anos. “Não tenho intenção de continuar no esporte. Eu gosto e queria muito estudar cinema, sou muito interessada no assunto. Quero ter outro emprego, quero viver a vida das pessoas normais”, conclui ela.