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'Vilão' no caso Michael, Cruzeiro pede à CBV apuração de racismo a Wallace

Wallace disse ouvir de uma torcedora: "Wallace, seu macaco, volta para o zoológico" - Alexandre Arruda/CBV/Divulgação
Wallace disse ouvir de uma torcedora: "Wallace, seu macaco, volta para o zoológico" Imagem: Alexandre Arruda/CBV/Divulgação

Paula Almeida

Do UOL, em São Paulo

01/03/2012 13h49

O Sada Cruzeiro resolveu deixar unicamente a critério da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) a decisão de encaminhar ou não à Justiça Desportiva de vôlei as acusações do oposto Wallace de que teria sofrido insultos racistas por parte de uma torcedora do Vivo/Minas durante o jogo entre as duas equipes na última quarta-feira, em Belo Horizonte, pela Superliga masculina. A equipe denunciada, por sua vez, minimizou a situação e, apesar de manifestar repúdio a qualquer tipo de discriminação, mostrou-se cética sobre uma possível punição.

ENTENDA O CASO DE WALLACE

  • Alexandre Arruda/CBV

    O clássico mineiro entre Vivo/Minas e Sada Cruzeiro, pela Superliga masculina, nesta quarta-feira, ficou marcado por um incidente ocorrido fora de quadra. O oposto Wallace Souza, do Cruzeiro, foi vítima de um ato racista durante o segundo set da emocionante partida, que acabou vencida pelo Minas por 3 sets a 2 (20-25, 25-27, 25-23, 25-19 e 15-12). Uma torcedora, após um ponto do atleta, gritou "Wallace, seu macaco, volta para o zoológico". Depois, a palavra "macaco" foi ouvida outras vezes por quem estava na quadra.

O Cruzeiro exigiu que o incidente fosse reportado pelo delegado da partida no relatório do jogo a ser enviado à CBV, mas evitou pedir publicamente uma sanção à equipe rival.

“O que precisava ser feito nós já fizemos ontem. Solicitamos que o delegado colocasse no relatório o fato ocorrido. Agora cabe à CBV avaliar e encaminhar ao STJD”, explicou ao UOL Esporte o supervisor do Cruzeiro, Luis Carlos Sales. No entanto, o clube insinuou que espera uma posição firme da entidade. “A CBV pode entender que cabe denúncia, porque é um fato isolado, mas é um fato muito grave”, disse a assessoria de imprensa do time de Contagem (MG).

De sua parte, a CBV já informou que, de fato, analisará a situação. “A CBV, neste momento, reúne toda a documentação do caso para avaliar e, se necessário, encaminhar para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), órgão responsável por julgar este tipo de acontecimento em competições esportivas, como já ocorreu em outras ocasiões”, comunicou a entidade em nota oficial.

Curiosamente, o mesmo Cruzeiro, no ano passado, reclamou ao ser multado em R$ 50 mil pelo STJD por caso semelhante. Na ocasião, no primeiro jogo contra o Vôlei Futuro pelas semifinais da Superliga em Contagem, torcedores da equipe mineira chamaram por diversas vezes o central Michael de ‘bicha’. O Cruzeiro lamentou o ocorrido e se solidarizou ao atleta, mas em nota oficial relativa àquele episódio declarou que provocações são típicas do esporte.

“Nossos atletas, em vários ginásios pelo Brasil, também recebem gritos das torcidas adversárias, mas como profissionais são treinados para conviver e atuar com as provocações. A torcida emoldura o esporte competitivo. Campeões do mundo e olímpicos, consagrados na história do vôlei, já passaram por inúmeras provas. E as venceram por sua capacidade profissional”, divulgou o Cruzeiro em 2011.

RELEMBRE O CASO MICHAEL

  • Divulgação

    Em abril de 2011, o Cruzeiro esteve presente em outro caso de racismo no vôlei, mas do lado oposto. No 1º jogo das semifinais entre a equipe mineira e o Vôlei Futuro, a torcida presente no ginásio de Contagem chamou o central Michael de "bicha".

Minas não acredita em punição

Apesar da sanção aplicada ao Cruzeiro por caso semelhante no ano passado, o Vivo/Minas não acredita que possa ser punido pelo incidente de ontem por se tratar de um fato isolado e que partiu de uma pessoa, até agora, não identificada.

“Não acredito que tenha implicação, mas é uma questão que transcende a parte técnica e vai para o lado jurídico. Hoje, como supervisor, eu não esperaria”, afirmou o supervisor José Ricardo Claudino Ribeiro, que relatou não ter visto ou ouvido o suposto grito da torcedora.

“Eu cheguei em casa, gravei, assisti e não consegui identificar na transmissão o que o locutor do Sportv falou. Não sou perito, mas não duvido que tenha havido. Fiquei até surpreso com esse estardalhaço, porque sinceramente eu fiz questão de observar a fisionomia do Wallace e não me pareceu que estava abalado. Conversei com ele no final do jogo, mais até no sentido de não potencializar, porque ele é maior do que tudo isso”.

Apesar de minimizar o ocorrido, Claudino Ribeiro declarou que a torcedora será excluída do quadro de sócios do Minas Tênis Clube caso seja identificada e a injúria racista se comprove. O supervisor também repetiu a nota oficial do clube e reiterou que o Minas “repudia 100% uma atitude como essa”.

 

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