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Após vencer saudade do vôlei e do filho, Jaqueline agora teme desemprego

Jaqueline salta para atacar na partida da seleção contra a República Dominicana no Grand Prix de vôlei - FIVB/Oficial
Jaqueline salta para atacar na partida da seleção contra a República Dominicana no Grand Prix de vôlei Imagem: FIVB/Oficial

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

07/08/2014 14h56

Jaqueline é dona de um dos currículos mais prolíficos do voleibol mundial em todos os tempos. A ponteira da seleção brasileira é bicampeã olímpica (2008 e 2012) e tricampeã do Grand Prix (2005, 2006 e 2008), e recentemente adicionou dois triunfos a essa lista: superou a saudade das quadras e voltou a representar a equipe nacional após ter ficado afastada para a gestação do primeiro filho, e depois venceu a distância do primogênito enquanto representou o país na Itália. Agora, há um novo desafio para a atleta: encontrar um time e evitar o desemprego na próxima temporada.

Até 2013, quando se afastou das quadras para a gestação de Arthur, Jaqueline, 30, defendia o Sollys/Nestlé. Hoje, nenhuma equipe com potencial financeiro para contratar a ponteira tem espaço no ranking – a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) impõe limite de duas atletas com pontuação máxima em cada time.

“Estou sem clube. O mercado brasileiro está complicado, e eu não quero sair daqui agora. Tenho um filho pequeno, e o Murilo [marido da atleta, jogador da seleção brasileira de vôlei masculino] está no Sesi, que fica em São Paulo. Está difícil conseguir emprego no Brasil, e isso vale até para o voleibol”, disse Jaqueline em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (07), em São Paulo.

Arthur nasceu em dezembro de 2013, e a ponteira voltou à seleção brasileira em agosto de 2014. Jaqueline ganhou 12 quilos durante a gravidez, mas já perdeu 13,5 quilos desde o nascimento do primogênito.

“Fiz muito reforço no joelho depois que ele nasceu porque eu já passei por três operações. Treinei braço e não deixei de fazer nada que eu podia. Sabia que essa volta seria difícil, mas já fiquei longe das quadras por causa dos joelhos. Tinha confiança de que podia facilitar as coisas se trabalhasse muito”, relatou a ponteira.

O Grand Prix é a primeira competição oficial de Jaqueline com a seleção brasileira após o nascimento de Arthur. A equipe nacional venceu as três partidas da primeira fase, disputadas na Itália, e vai estrear na segunda etapa nesta sexta-feira (08), em São Paulo, quando enfrentará a Coreia do Sul.

“Foi difícil ficar longe, e eu estou muito feliz por estar de volta. Ainda mais por ter acontecido em tão pouco tempo. Foram só sete meses, e eu me esforcei muito para estar aqui”, afirmou Jaqueline, que tem sido uma das principais pontuadoras da equipe nacional: “Não quero ser a melhor em nenhum fundamento. Sei bem a minha função na seleção, e eu estou aqui mais para dar ritmo no fundo de quadra”.

O retorno à seleção brasileira criou outro desafio para Jaqueline: a distância do primogênito, que ficou no Brasil enquanto ela disputou a primeira fase do Grand Prix na Itália: “É complicado, mas isso faz parte da vida da mulher. O filho tem de entender, e eu sofro, mas sei que é melhor. Tem sido muito gostoso voltar para casa e encontrar o sorriso dele. É a melhor fase”.

Enquanto Jaqueline estava na Itália, o contato com o filho aconteceu por câmeras instaladas na casa da família. “A gente se via o tempo todo. Ficar longe dele foi muito difícil”, contou a atleta.

Agora, passadas todas essas etapas, o principal problema de Jaqueline é encontrar um time. Além da restrição imposta pelo ranking, a situação de mercado da ponteira é limitada por dois aspectos: ela quer ficar em São Paulo por causa da família e não tem tido tempo de procurar oportunidades porque está concentrada com a seleção brasileira.

“Eu tento esquecer um pouco essa situação, mas tem sido difícil. Espero que as coisas deem certo, mas sei que é bem difícil. Não dá tempo de negociar porque eu estou aqui, e a temporada já vai estar para começar quando eu sair da seleção. Torço para a situação mudar, mas talvez o jeito seja curtir férias forçadas e ficar mais um tempo sem time”, finalizou a ponteira.