Topo

Mulheres não podem ver jogos de vôlei no Irã. E protestam no Mundial

Iraniana protesta em Cracóvia por mulheres não poderem ver jogos no país - José Ricardo Leite/UOL
Iraniana protesta em Cracóvia por mulheres não poderem ver jogos no país Imagem: José Ricardo Leite/UOL

José Ricardo Leite

Do UOL, em Cracóvia (Polônia)

04/09/2014 12h05

País conhecido mais por suas tensas relações diplomáticas com algumas das principais potências do mundo do que por louros no esporte, o Irã virou o time sensação no vôlei em 2014 por seus bons resultados e mantém a boa fase no Mundial disputado na Polônia. São duas vitórias até agora em seu forte grupo, contra as potências Itália e Estados Unidos.

A visibilidade que o time e a competição despertam está sendo usada por algumas mulheres do país como motivo para protestar contra o fato de o público feminino ser proibido de assistir partidas de vôlei dentro do país asiático.

Durante os dois primeiros jogos, algumas mulheres estenderam faixas para reivindicar o direito de poder ver partidas. Nesta quinta, contra a França, mais uma torcedora apareceu para protestar e usou uma camisa que pedia o direito de mulheres poderem presenciar as disputas.

Pandis Sadeghi acompanhava a partida ao lado de seu marido. Ambos já se mudaram do Irã e vivem hoje na cidade de Colônia, na Alemanha. “Só volto para lá o dia que o regime mudar e muito. O governo tem atitudes muito incompreensíveis. As mulheres dos governantes podem assistir, né?”, reclamou. “Mas mesmo sem morar lá vou ajudar as mulheres iranianas nessa questão.”

A polêmica decisão teve início em junho, quando o Irã disputava dois jogos em casa contra a Itália pela Liga Mundial. Segundo o site de notícias local Khabaronline, a polícia impediu a entrada não só de torcedoras, mas também de jornalistas iranianas credenciadas para aquelas partidas. Nos jogos anteriores, as torcedoras ficaram em frente ao ginásio fazendo protestos.

Segundo a imprensa local na época, Shahindokht Molaverdi, vice-presidente encarregado da Família e das Mulheres protestou na época contra a proibição, alegando que não existia até então para jogos de vôlei.

As mulheres iranianas são proibidas de acompanhar jogos de futebol oficialmente por causa do comportamento obsceno de torcedores homens.

O Irã vem há cerca de dez anos trabalhando para ser uma das potências do vôlei por meio do incentivo de intercâmbio com países com tradição no esporte, como o Brasil, e foram campeões mundiais sub-19 em 2007. Formou uma boa geração que neste ano colheu seu principal resultado no âmbito profissional, que foi chegar até as semifinais da Liga Mundial e terminar na quarta colocação.

Comandados pelo sérvio Slobodan Kovac, campeão olímpico em 2000 pela Iugoslávia, venceram o tricampeão mundial Brasil três vezes em cinco jogos na Liga deste ano. Antes de Kovac, o time foi treinado pelo renomado argentino Julio Velasco, bicampeão mundial e penta da Liga com a Itália na década de 90.