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Cuba que irritava e provocava o Brasil virou time de "meninos bonzinhos"

Félix Emilio Chapman é da nova geração cubana - EFE/Andrzej Grygiel
Félix Emilio Chapman é da nova geração cubana Imagem: EFE/Andrzej Grygiel

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

07/09/2014 06h00

Marrentos, provocadores e com a capacidade de tirar muitos adversários do sério. Quem viu o voleibol cubano em sua época áurea se lembra dos palavrões e gritos na cara, os risos de deboche e olhares irônicos para o outro lado da rede. Mas quem assistir algum jogo da equipe no Mundial de 2014 e esperar o mesmo vai ter um grande susto.

Em Katowice, na Polônia, os cubanos que neste domingo enfrentarão a seleção brasileira, a partir das 15h15 (horário de Brasília), estão muito bonzinhos e não são nem sombra do que Joel Despaigne, Raul Diago e outros nomes históricos faziam. Tanto na bola como na busca por intimidar ou irritar os rivais.

Isso se explica pelo fato de a equipe estar com uma base muito jovem e que quase nada lembra o time que foi vice-campeão mundial em 2010, após derrota para o Brasil. Cuba vem em 2014 com uma equipe sem tarimba. Três jogadores, por exemplo, têm apenas 17 anos. A média de idade da equipe é de 21,9 anos, disparada a menor do torneio.

Nos jogos do Mundial, é perceptível a postura acuada e de certa forma assustada dos jovens. Muitos olhares para a arquibancada com certa surpresa pelo que veem. No jogo contra a Finlândia, venciam por 2 a 0 e sucumbiram quando a torcida rival começou a fazer barulho e muita pressão. “Acho que o time deles, por ser jovem, sentiu”, disse o finlandês Ekko, após a partida.

A juventude do atual elenco ocorre porque alguns dos jogadores mais experientes foram jogar fora do país. Consequentemente foram afastados pela federação local da seleção. É o caso de Wilfredo León, destaque do país nos últimos anos e no vice em 2010. Já não atua mais.

Coube ao técnico Rodolfo Sanchéz formar uma base e preparar atletas para Mundiais e Jogos Olímpicos futuros. E ele admite que o time não tem reagido bem ao ser testado em uma competição importante. “Não sei o que está acontecendo aqui, se é a pressão ou a juventude. Não estamos jogando o que podemos. Não sei, não sei. Tenho que conversar com os jogadores. Nós podemos fazer muito melhor do que isso”, explicou.

Sanchez foi um dos principais jogadores da história do país e fez parte da geração que rivalizou com o Brasil na década de 90 usando e abusando das provocações. Ele se recorda de um jogo entre os dois times em que tiveram que sair quase que escoltados no ginásio do Ibirapuera.

“Me recordo de uma na Liga Mundial um pouco antes dos Jogos de 92, que depois o Brasil seria campeão. Foi um jogo em São Paulo, e depois que nós ganhamos de 3 a 2 o Despaigne provocou a torcida (faz o gesto conhecido como sinal da "banana"). Aquilo foi terrível, terrível. Nós ganhamos aquele jogo, mas tivemos que sair protegidos. A torcida começou a tacar várias coisas na gente. Depois, na Olimpíada eles (time brasileiro) passaram por cima da gente no jogo”, recordou.

O treinador cubano disse que hoje nem dá pra se esperar uma postura parecida com atletas que ainda buscam uma confiança maior. “Infelizmente hoje não temos um time como aquele. Agora são muito jovens, é difícil transmitir para eles esse espírito. É o primeiro Mundial deles e se sentem até temerosos em jogar contra um time como o Brasil. É o melhor time do mundo. Não somos aquela Cuba de figuras relevantes, mas sim um time muito jovem. Vamos ver como eles se reagem”, declarou.

Emilio Chapmam, 17, é o mais jovem do grupo. E admite que com falta de resultado e competitividade fica muito difícil de usar o tradicional estilo provocador que marcou gerações do país. “Estamos aqui para adquirir experiência. Acho que nos falta mais decisão em jogadas, e é uma equipe mais jovem. Mas nos falta um pouco disso sim (de provocação) pela juventude e falta de experiência”, afirmou.

Cuba ganhou dois dos seus jogos (contra Coreia do Sul e Tunísia) e a tendência é que se classifique na quarta e última vaga. Perdeu duelos para Finlândia e Alemanha, países com tradição e história no vôlei bem menores do que a do país caribenho.

Já o Brasil venceu seus quatro compromissos até agora e se garantirá como o primeiro colocado do Grupo B se vencer a partida deste domingo.