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Gordinho da Bélgica usa atalhos no vôlei: "Nem corro pra chegar atrasado"

José Ricardo Leite

Do UOL, em Cracóvia (Polônia)

08/09/2014 06h00

No final das contas, o talento sempre faz a diferença. Essa máxima pode ser dita com peito cheio por Frank Depestele, levantador da seleção da Bélgica e considerado um dos melhores do mundo em sua posição no vôlei.

O jogador de 37 anos chamou a atenção no Mundial da Polônia por conseguir demonstrar sua qualidade no passes mesmo que com uma barriguinha saliente anormal para um atleta de alto rendimento.

É um dos xodós da torcida de seu país que compareceu às partidas disputadas na cidade Cracóvia, onde foi sediado o grupo da Bélgica. Depestele mostra uma incrível habilidade com as mãos e ao mesmo tempo visivelmente usa atalhos para poupar o esforço físico exagerado e não ficar cansado mais rapidamente em função dos quilos a mais.

Enquanto os companheiros correm mais rápido para vibrar um ponto, por exemplo, o levantador vai em passos mais devagar até a roda. No momento de sacar, faz uma caminhada sem tanta pressa. No jogo contra a Itália, por exemplo, já no segundo set estava ofegante e com as mãos na cintura.

No quarto set, que seria o último, usou da experiência em certo momento. Depois de um ponto da Bélgica, que crescia no jogo, estava próximo ao banco de reservas de seu time. Ao invés de se juntar à roda que comemoraria o ponto, já ficou por ali imaginando que o técnico italiano pararia o jogo. Foi o que o ocorreu. O camisa 5 então nem precisou dar sua caminhada até o meio da quadra para depois voltar. Já se sentou e pegou a garrafa de água como se estivesse em um deserto.

“Eu até gosto de correr, faz bem, mas não é fácil ter que fazer isso toda hora. Claro que com mais idade corro menos. Tem hora que não dá e vou correr pra chegar atrasado?”, indagou, sorridente. “Mas está tudo bem, é o jeito de fazer o meu trabalho”.

O levantador deu ainda a receita para manter as mãos calibradas e o ânimo com 37 anos e um físico acima do peso. “Sofri poucas lesões ao longo da minha carreira e eu me divirto quando venho pra cá. É algo que você tem que carregar em tudo que você faz, ainda mais para continuar a fazer isso por muito tempo, já numa idade avançada. Tem que curtir jogar. Eu gosto de estar aqui com esses times. É gostoso pra mim tudo isso.”

Vital Neynen, técnico da seleção da Alemanha no Mundial, é belga e jogou com Depestele por muitos anos em sua seleção local. Não se impressiona pelo fato de o ex-companheiro conseguir mostrar todo seu talento mesmo com a barriguinha saliente.             

“Sim, é possível. Ele jogou comigo e sempre foi um cara muito preciso. Lembro que ele tinha uma mão fantástica. E é um cara que joga para ganhar. Tem um espírito competitivo muito forte dentro de si”, explicou.

Pena que o levantador já despediu da competição. A Bélgica caiu no grupo mais forte do torneio, com Itália, Estados Unidos, França, Irã e Porto Rico. Fez jogos muito equilibrados contra todos eles, mas só conseguiu vencer Porto Rico.

Mas o gordinho fez bom papel. Terminou como o terceiro levantador com mais eficiência nos passes, segundo estatísticas da Federação Internacional de vôlei.