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Técnico concilia coragem e jeito "desligadão" ao carregar sonho da Polônia

Técnico da Polônia Stepháne Antiga mexe no celular em coletiva - José Ricardo Leite/UOL
Técnico da Polônia Stepháne Antiga mexe no celular em coletiva Imagem: José Ricardo Leite/UOL

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

20/09/2014 06h00

No que diz respeito ao comando técnico, a receita utilizada pelo Brasil para se manter no topo do vôlei e conquistar o título do Mundial em 2014 em nada tem a ver com a que os anfitriões da competição apostaram para tentar voltar a erguer a taça após 40 anos.

Se o time verde e amarelo aposta na manutenção de um trabalho de longevidade do comando de Bernardinho que dura 14 anos, os poloneses parecem acreditar que o contrário é que dará certo. 

Nada de trabalho a longo prazo visando a competição ou busca pela contratação de um nome com currículo extenso em taças no esporte para conduzir a seleção de um país apaixonado por vôlei. A aposta foi em alguém que nunca havia se sentado no banco na vida para comandar um time: o francês Stéphane Antiga, 38 anos.

A ideia foi bem ousada. Até abril desse ano, o agora comandante da seleção vermelha e branca atuava como jogador dentro do país. A aposta só não chega a ser tão chocante porque ele tem muita moral na Polônia, onde já jogava por sete anos.

Trocou a relativa tranquilidade de um jogador veterano para aceitar um desafio que envolve muita pressão, tanto pela adoração dos poloneses em relação ao vôlei como pela falta de estabilidade do cargo. Seu antecessor foi demitido quatro meses antes da competição no país.

A coragem demonstrada para a missão pra lá de difícil foi repetida semanas depois. O técnico francês barrou o ponteiro Kurek, um dos jogadores mais populares do país e cuja ausência gerou até uma saia justa antes do Mundial: ele é uma das principais imagens usadas como garoto propaganda do torneio em outdoors e comerciais na Polônia. Mas o comandante francês, mesmo sendo estrangeiro, ignorou e não fez média com ninguém.

As palavras que soletra quando fala de seu time parecem casar com o perfil arrojado de quem gosta de desafios difíceis. “Brigamos como nunca até agora e jamais podemos desistir. Vamos lutar até o final”, comentou na quinta ao falar sobre as qualidades de seu time nas vitórias sobre Brasil e Rússia.

E a raça é o que mais se vê no time polonês, que chegou até agora entre os quatro em muito pelo apoio de sua torcida e dedicação dos atletas, já que tecnicamente está abaixo de seleções como Rússia, Itália e Estados Unidos, times que já deram adeus ao torneio.

Se comparado aos outros técnicos do Mundial, Antiga transparece seu estilo mais de jogador do que técnico e até garotão” e desligado. Quase não se vê no francês as feições mais sérias e tensa de treinadores mais experientes tanto dentro da quadra como fora dela.

Durante os jogos, não é do tipo que dá pitos e gesticula sem parar. Fora dela, também. Fala tão baixo que é difícil ouvir o que diz, mesmo com microfone.

Na entrevista coletiva da última quinta, por exemplo, passava as mãos nos longos cabelos e sorria alegremente ao mexer no seu celular no mesmo momento em que o treinador da Rússia, Andrey Voronkov falava.

Agora, terá neste sábado, às 16h15 (horário de Brasília), contra a Alemanha, a chance de recolocar a Polônia em uma final de Campeonato Mundial. O país do Leste Europeu esteve pela última vez em uma decisão em 2006, quando perdeu justamente para o Brasil na decisão, no Japão.

Stepháne Antiga (esq.) mexe no celular enquanto russo fala com a imprensa - José Ricardo Leite/UOL - José Ricardo Leite/UOL
Imagem: José Ricardo Leite/UOL