Larissa supera perda de dois bebês e deixa aposentadoria pelo ouro em 2016
De aposentada à grande esperança de medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Em apenas três meses, Larissa mudou completamente seu status e agora assombra o mundo do vôlei de praia com seu excelente retrospecto. Desde que voltou a jogar, em julho, ganhou três das cinco etapas do Circuito Mundial que disputou (Klagenfurt, Stare Jablonki e São Paulo) e as duas etapas já realizadas do Circuito Brasileiro. Formando parceria com Talita, a capixaba de 32 anos, ostenta atualmente 32 partidas de invencibilidade.
No tempo que fiou longe das areias, entre dezembro de 2012 e julho deste ano, Larissa, que é casada com a também jogadora Lili, esqueceu-se completamente do vôlei. Seu grande objetivo era ser mãe. Mas ela não teve sucesso em suas duas tentativas. Na primeira, a gestação de gêmeos chegou até a décima semana. Na segunda, perdeu o filho após oito semanas. Em ambos casos, fez inseminação artificial.
Neste retorno, teve de lidar com o sobrepeso. Afinal, sem fazer atividade e física e tomando hormônios para engravidar, ganhou oito quilos (pulou de 68 para 76). Mas os ótimos resultados obtidos animam a jogadora, que espera conquistar uma medalha de ouro no Rio de Janeiro para encerrar a sua carreira com todos os títulos possíveis.
Confira a entrevista exclusiva de Larissa ao UOL Esporte:
UOL Esporte: Como foi este tempo que você ficou afastada das quadras para tentar ser mãe? Sentiu muita saudade do vôlei de praia?
Larissa: Durante toda minha carreira, sempre tive uma cobrança excessiva e isso traz muito estresse apesar dos excelente resultados, como o heptacampeonato mundial. Precisava de um tempo para mim, cuidar da minha vida. Quando você está no circuito, abdica de muitas coisas. Vivi intensamente, esqueci o vôlei, foi muito bom. Fiz a escolha de me casar e engravidar. Perdi duas gestações. Talvez, Deus não quisesse que eu tivesse filho agora. Perder a primeira gestação foi horrível, um momento muito difícil, um baque grande. Estava com dez semanas de gravidez e havia grande chance de serem gêmeos. Já tinha pensando em colocar os nomes de Luiz e Maria, os mesmos dos meus pais. Na segunda, perdi com oito semanas, mas estava mais preparada, sabia que não era algo tão simples. Mas ainda não desisti do sonho.
UOL Esporte: E por que você resolveu voltar?
Larissa: Neste tempo que fiquei parada, não fiz nada. Nem na academia eu ia. Mas com o tempo, começou a bater aquela saudade, eu ia ver a Lili jogar as etapas. Aí, em maio deste ano, resolvi voltar a treinar e em julho comecei a jogar de novo.
UOL Esporte: Como surgiu a ideia de fazer a parceria com a Talita?
Larissa: Não tinha tantas opções. Jogaria com ela ou com a Juliana. A Talita sempre me perguntava sobre a minha situação. Se eu voltasse, ela estaria disposta a jogar comigo, acharia uma boa opção. Para mim, é um novo desafio, jogar com uma pessoa. Tudo o que passei com a Juliana vou guardar para sempre na minha memória, vou ser muito grata a ela. Mas hoje não é mais Larissa e Juliana.
UOL Esporte: E como é a sua relação com a Juliana hoje?
Larissa: É normal. Não somos melhores amigas, mas também não somos inimigas. É um convívio normal que temos, cada uma na sua.
UOL Esporte: Quando você formou a parceria com a Talita, imaginava que conseguiram resultados tão bons assim de forma rápida?
Larissa: Surpreendeu um pouco. Eu não esperava que fosse dar certo tão rápido. Fiquei muito tempo parada, mas a Talita estava competindo, ela foi campeã mundial e ganhou título do circuito brasileiro. Eu sabia que era uma parceria forte. Nosso objetivo era jogar bem e ganhar títulos, claro. Mas começamos a jogar pensando passo a passo, jogo a jogo. Com o tempo, queremos ir melhorando.
UOL Esporte: E qual foi a sua maior dificuldade neste retorno?
Larissa: Eu engordei, fiquei fora de forma. Tomei hormônio para engravidar e ganhei oito quilos. Meu peso normal é 68 quilos, mas cheguei a 76. Quando voltei a treinar em maio, teria dois meses para perder este peso e estar em forma para acompanhar o ritmo dela (Talita). Foi tudo na base de muito esforço, abdicação. As pessoas não sabem o que é um atleta profissional. Tenho uma rotina diária de oito horas de treino. Tenho de trabalhar parte física, técnica, atividade com bola, exercícios aeróbicos. Sou uma jogadora que depende muito da parte física para enfrentar as duplas chinesas, dos Estados Unidos. Tenho apenas 1,74m, então é importante estar bem fisicamente. Por isso voltei a trabalhar com minha equipe de antigamente, pessoas que estão acostumadas ao meu corpo e ao meu ritmo.
UOL Esporte: Precisou cortar muitas coisas de sua refeição?
Larissa: Não estou comendo nada de doce, nem de gordura, óleo. Cortei tudo. Até o café eu tomo sem açúcar. Suco também é sem açúçar. Estou com uma dieta bem saudável.
UOL Esporte: Em quadra, qual foi a sua maior dificuldade com a Talita?
Larissa: O desafio foi nos aceitarmos como parceiras, nos entrosarmos. Não sabíamos como seria Larissa e Talita. Era preciso saber se a gente ia conseguir jogar e conviver bem. Estamos nos dando muito bem. Conhecia o caráter dela, a personalidade sabia e sabia que ia se encaixar. Mas confesso que está acima das expectaticas.
UOL Esporte: E quando voltou ao circuito, como foi a recepção das demais jogadoras?
Larissa: Todo mundo me recebeu superbem, o pessoal estava sentido falta de jogar contra mim. Foi muito motivador o carinho, é bom saber deste reconhecimento do seu trabalho. Foi muito legal.
UOL Esporte: A americana Kerri Walsh sempre foi uma grande rival sua. Já conversou com ela?
Larissa: Conversei sim, ela me recebeu muito bem. A rivalidade só existe dentro de quadra para saber quem vai vencer, existe muito respeito. Até agora não tive um confronto com ela, mas espero ter em breve.
UOL Esporte: Já pensando na Olimpíada de 2016, se imagina com a medalha de ouro no peito?
Larissa: Jogar uma Olimpíada em casa sera incrível. Seria um sonho algo muito bacana, para fechar a carreira com chave de ouro. Quero muito isso. Acho que o vôlei me deu tudo que poderia ter dado, mas falta esta medalha de ouro. Uma medalha olímpica de ouro é diferente, seria incrível tê-la em casa. Mas se você me perguntar se eu trocaria todos meus títulos por uma medalha de ouro, eu digo que não.
UOL Esporte: Antes de você se aposentar, você não havia declarado ser homossexual, mas antes desta volta assumiu. Por conta disso, é tratada de maneira diferente? Vê algum tipo de preconceito?
Larissa: Não mudou nada. Não temos problema algum. E isso me deixa muito feliz. As pessoas respeitam muito meu namoro e casamento, elas veem a gente tão abertas que não tem coragem de ter preconceito. Mas também acho que às vezes a própria pessoa é preconceituosa, não tem coragem de dizer que amam. Mas eu nunca tive este problema.
UOl Esporte: Você pensa em jogar algum dia ao lado da Lili?
Larissa: Cada momento é o seu momento, é preciso separar um lado do outro. Não vejo desta forma, a gente jogando juntas.
Uol Esporte: Desde que voltou, já conseguiu acertar com algum patrocinador?
Larissa: Estou esperando, há negociações em andamento. Neste momento penso apenas em jogar. Quando estou no Circuito Mundial, tenho apoio da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). Aqui no Brasil, invisto no meu time. Mas não há problema nenhum.
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