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Se precisar, Murilo vai ao Ministério Público denunciar cartolas da CBV

17. set. 2014 - Murilo volta à seleção brasileira e vibra muito com time na vitória contra a Rússia - Divulgação/FIVB
17. set. 2014 - Murilo volta à seleção brasileira e vibra muito com time na vitória contra a Rússia Imagem: Divulgação/FIVB

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

14/12/2014 12h00

Terminar em pizza é tudo que Murilo não quer em relação às denúncias de que dirigentes da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) desviaram R$ 30 milhões. O montante foi apontado pela CGU (Controladoria-Geral da União), e o ponteiro da seleção brasileira afirma que se for necessário vai pessoalmente levar o caso ao Ministério Público. Tanta disposição ocorre para garantir a punição dos envolvidos e preservação da imagem do esporte.

Para isso, Murilo considera importante os jogadores tomarem posição. Neste sábado, quatro equipes entraram em quadra pela Superliga usando narizes de palhaço. A atitude também serve de mensagem aos patrocinadores. O ponteiro teme que o vôlei fique arranhado, perca investidores e uma crise comece. Além destes problemas, o escândalo acontece a um ano e meio dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e já atrapalha a preparação da seleção.

UOL Esporte - Você espera que o Ministério Público entre no caso daqui em diante?

Murilo - É isso que a gente espera. A gente conversa bastante e qual é o trâmite de agora em diante. Não posso eu ir no Ministério Público, mas se precisar eu vou. A gente espera que a CBV denuncie e mostre o relatório da CGU para o Ministério Público ou a Polícia Federal. Eu não sei quem agora vai investigar, mas é isso que a gente quer.

UOL Esporte - Os jogadores pensam em buscar auxílio jurídico se não acontecer nada?
Murilo - Se não acontecer nada a gente vai ver o passo que vai dar. A gente conversou um tempo atrás sobre formar uma associação dos jogadores. Então talvez esse seja um ótimo momento. Procurar uma assessoria jurídica e com certeza a gente vai ser mais forte.

UOL Esporte - Antes das matérias com denúncias contra a CBV você acreditava que isto acontecia?
Murilo - Não. A gente confiava porque...cara, eu estou na seleção há 10 anos, o Ary (Graça, presidente na época dos desvios) já era presidente e ele sempre foi muito de se vangloriar do modelo de gestão que tinha lá dentro. A conquista do Centro de Treinamento de Saquarema. Conquista atrás de conquista e a gente sempre elogiando, brigando junto. Descobrir isso é praticamente como ser traído. A gente sempre ficou ao lado dele, sempre apoiou as decisões dele e na verdade aquele castelo meio que desmoronou.

UOL Esporte - Você se sente roubado?
Murilo - Não, porque o dinheiro não era meu, mas era um dinheiro que devia ser investido no voleibol, nos clubes. Os clubes passam dificuldades a cada ano para procurar patrocinadores e pouco é investido por parte da confederação. Falaram dinheiro de prêmios. Talvez um ou outro campeonato a gente não tenha tido premiação, bonificação, mas isso era um acordo que a gente tinha com a CBV. A gente não tinha ideia de como era o contrato com o Banco do Brasil, não tinha acesso que todos os campeonatos eram premiados.

UOL Esporte - Os clubes de vôlei fecharem por falta de dinheiro é o que te mais indigna?
Murilo - Com certeza. São os clubes que pagam os salários da maioria de jogadores, de dirigentes, fisioterapeutas, preparadores físicos. Muita gente que tira o sustento de sua família do voleibol. Esse dinheiro poderia ter sido investido melhor, dar segurança aos clubes.

UOL Esporte - Como nasceu o protesto de usar nariz de palhaço neste sábado?
Murilo - Dessa indignação generalizada. A gente criou um grupo e apesar de ter ficado um pouco inativo depois que saiu o relatório da CGU a gente voltou a toda e falou 'dessa vez a gente não vai se omitir'. Vamos protestar, vamos cobrar, vamos dar a cara a tapa e é isso que a gente tá fazendo. A gente vai até o fim para que a CBV tome atitude em relação a isso.

UOL Esporte - Espera que tipo de providências da CBV e estudam uma paralisação?
Murilo - A gente não pensa em paralisação. Acho que prejudicaria muito os clubes e os patrocinadores que na verdade não fazem parte da CBV. A gente espera que a nova gestão corra atrás, cumpra com o que o relatório do CGU falou. Ou seja, procure meios legais para que essas pessoas que fizeram mal ao voleibol sejam punidas e que o dinheiro seja ressarcido.

UOL Esporte - O atual presidente da CBV era vice do homem responsável pelas irregularidades. Com este histórico dá para esperar providências?
Murilo - A gente vai saber quando ele tomar atitudes ou não com relação ao que a gente está cobrando sobre as irregularidades. O Toroca é vice-presidente há mais de 20 anos. A gente tá dando uma oportunidade de ele mostrar que não estava envolvido e vai cobrar isso. Ele dando sinais disso com certeza vai ter nosso total apoio.

UOL Esporte - Você teme que empresas tenham medo de investir no voleibol e que se inicie uma crise nos clubes por causa das irregularidades?
Murilo - É possível, mas a gente espera que não. Eu vindo aqui falar sobre isso a gente tá reconhecendo um erro. Acho que nós atletas temos um papel fundamental nisso. Separar as coisas.

UOL Esporte - O Brasil planejava sediar as finais da Liga Mundial para os jogadores se ambientarem à pressão e estranharem menos nas Olimpíadas, mas mudou de ideia por causa das denúncias. Isto prejudica a preparação?
Murilo - Pra gente seria importante para se adaptar à cobrança da imprensa, dos torcedores. Nós tivemos aqui o Pan de 2007 no qual foi bem difícil. Conquistamos o ouro, mas foi muita pressão em cima da gente, muito assédio. Precisamos ficar o mais concentrado possível. (Houve) Uma final de Liga em 2008 na qual a gente não foi bem e talvez por isso o Bernardo queira que venham as finais aqui, pra gente se acostumar.

UOL Esporte - A seleção já tá perdendo então?
Murilo - A gente vai dar um jeito (risos). Vamos resolver isso (escândalo) primeiro e dá para gente possa organizar um evento bacana.

UOL Esporte - Logo depois do relatório, a Federação Internacional anunciou punições a você, Bernardinho, Mário Junior e Bruninho. A entidade é dirigida por Ary Graça, presidente na época dos supostos desvios. Foi retaliação?
Murilo - Por ter saído logo depois de a gente ter se pronunciado, acho que sim. O caso estava em julgamento e tínhamos conhecimento, mas foi muito rápido, cara. Não teve nem tempo de a gente se defender.