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Murilo fala da aposentadoria do irmão Gustavo: "ele deu tudo para o vôlei"

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

18/03/2015 13h35

O campeão olímpico com a seleção brasileira em Atenas (2004) Gustavo Endres anunciou a sua aposentadoria das quadras na noite desta terça-feira (17) aos 39 anos depois da derrota do seu time, o Canoas, na Superliga de Vôlei Masculino. Agora a família Endres tem apenas um jogador de vôlei profissional atuando: Murilo.

Murilo falou ao UOL Esporte sobre aposentadoria do irmão e a carreira dos dois. Eles se  cruzaram em quadra na seleção brasileira, na chegada do caçula ao time de Bernardinho, em 2003, quando Gustavo já era considerado um dos melhores do mundo. Murilo ressaltou o sentimento de gratidão ao irmão e como foi receber a notícia sobre a aposentadoria pela televisão.

Aposentadoria:

“Eu estava assistindo ao jogo (Canoas x Taubaté) e escutando ele dar entrevista. Está difícil cair na real. Eu brinquei com ele ano passado sobre isso, porque ele falou que estava na dúvida se iria se aposentar. Eu falei para ele que ele não conseguiria ficar longe do vôlei. Acho que agora está mais sério. A família está pesando bastante, os filhos. A gente abre mão um pouco de estar com eles para estar na seleção, jogando no exterior, no próprio clube. Eu estou vendo isso agora com meu filho. O Erik, filho mais velho dele, já está com 15 anos.

Não é falta de vontade do Gustavo e nem algo físico, é que ele quer curtir a família. É mais que merecido. A gente vai sentir falta. O Canoas vai continuar, tenho certeza de que ele vai ficar no projeto ajudando, mas vai ser diferente fora de quadra.

Eu vi algumas pessoas postando várias coisas dele na internet. Eu não consegui escrever nada ainda. Eu não liguei para ele, porque é muito recente. Ele deve estar chegando em casa e perder uma partida é sempre ruim. Além de tudo é preciso alguns dias para esfriar a cabeça. Eu acredito que a decisão tenha sido tomada há um bom tempo em família. Foi muito justo. Ele já deu tudo para o vôlei.

Eu ainda não sei o que vou falar para ele. Eu não vou preparar discurso. Vai ser difícil. Eu não sei o quão emocionado estarei para falar. Eu não tenho o que falar, eu só tenho agradecimento. Todos vão agradecê-lo pela doação, tudo que ele representa. De irmão para irmão eu conheço bem ele. A palavra que vou dar vai ser só para constar. Ele sabe bem tudo que pensamos e tudo que ele representa para nós”.

Gustavo e seleção:

“O Gustavo é de uma geração muito especial. Aquela de 2004. O vôlei tem duas gerações que ficam guardadas no coração: a de 1992 e a de 2004. O pessoal de 2004 começou a parar agora. O Anderson parou há dois anos, Giba, André Heller.

Quando eu cheguei o Gustavo estava no auge. Eu acompanhei de pertinho. Sou muito fã dele e aprendi muito com ele. Cada vez que cada um anuncia a aposentadoria a gente acaba se emocionando. Boa parte dos resultados da seleção conquistados hoje começou com eles em 2001 quando o Bernardo assumiu. Eles sempre serão exemplo de tudo. A palavra que fica para falar para ele é de agradecimento por tudo que ele fez”.

O encontro dos irmãos na seleção brasileira:

“Ele nunca facilitou nada para mim. Tentava dificultar para desvincular essa coisa do irmão mais novo. Ele me cobrava bastante, nunca passou a mão na minha cabeça. Isso me fortaleceu muito. Ele fez um bem enorme para mim e para minha carreira.

Eu era um dos mais novos e não facilitavam não. Eu tinha que carregar as coisas, não era porque eu era irmão do Gustavo que não precisaria passar por isso. Quem tentava me ‘proteger’ era o Giba, um cara que eu me identifiquei muito na seleção. Eu passei por tudo que qualquer novato passou. Eu só tenho que agradecer”.

Treinando juntos em quadra:

“Os treinos, os jogos foram bons. O processo todo foi bom. Não teve um título que foi mais especial. Qualquer dia que treinava, a gente discutia... Quando eu não queria que ele me bloqueasse, era só uma troca de olhar e já entendia. Já discutimos, mas é coisa de virar as costas. Não é nada muito sério.

Tinha uma zoação no treino da seleção brasileira. Uma expectativa de instigar o outro. O Ricardinho botava pilha, o Anderson, a gente ficava se caçando, mas tudo muito saudável e muito estimulante para mim.

Na Itália jogamos em clubes diferentes, que eram muito rivais. Eu perdi uns 9 de 10 jogos para ele, mas tudo é aprendizado. Tudo que aconteceu entre a gente. Mesmo jogando contra foi tudo excelente. Tudo valeu a pena”.