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Como praia e aposentadoria ajudaram Mari Paraíba a sonhar com Rio-2016

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/05/2015 06h00

Para quem já posou nua, fez trabalhos como modelo, se aposentou, migrou para a praia, voltou ao voleibol de quadra e recebeu a primeira chance na seleção brasileira, chega a ser impressionante a postura da ponteira Mari Paraíba, 28. Depois de ter passado por todas essas etapas em apenas três anos, a jogadora não tem nada de claudicante no semblante ou no discurso. Mais do que tirá-la do foco, as decisões tomadas nas últimas temporadas acabaram dando à jogadora alguns atributos que podem ser diferenciais na briga por vaga nos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro.

O exemplo mais claro disso é técnico. A passagem efêmera pelo voleibol de praia serviu para Mari Paraíba burilar aspectos como defesa e passe – ela é uma ponteira com muita responsabilidade de fundo de quadra, e a própria comissão técnica valoriza a evolução da atleta durante o período na areia.

A passagem pela areia também contribuiu para o aspecto emocional de Mari Paraíba. “Eu gostei, mas é um esporte muito individual. Se você não estiver bem, vai precisar estar ali e vai ser massacrada. É um esporte muito psicológico, e isso você precisa aprender. Foi bom para mim para saber aguentar a pressão do jogo, do ambiente e da torcida. Isso me ajudou muito quando voltei para a quadra”, relatou a jogadora em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

O período de incertezas também contribuiu para forjar em Mari Paraíba uma postura mais convicta: “Quando passei a ter uma vida normal, vi que não era aquilo que eu queria. Sentia falta da rotina de treinamentos e das coisas do dia a dia. Quando voltei, estava confiante do que eu queria e de que estava fazendo a coisa certa”.

Em julho de 2012, Mari Paraíba estampou a revista masculina “Playboy”. Meses depois, aos 26 anos, a ponteira decidiu interromper a carreira no vôlei. “Estava um pouco saturada de uma rotina que tinha desde os 14 anos, de deixar minha casa, a família, os amigos, as férias. Tinha muitas dúvidas, e a minha cabeça estava um pouco conturbada”, contou a atleta.

As disputadas de vôlei de praia começaram no segundo semestre de 2013, depois de um período de treinamento e adaptação à modalidade. Mari Paraíba começou fazendo dupla com Fernanda Berti, e depois passou a atuar com Natasha Valente.

Além de todas as questões técnicas e psicológicas, o período no vôlei de praia serviu para incutir na ponteira a ideia de estar na Rio-2016: “Na areia foi uma passagem curta. Fiquei um ano, e a areia exige mais tempo para você chegar a um patamar mais alto. Eu me adaptei bastante, e o projeto que eles tinham era tirar jogadoras da quadra para tentar algo olímpico. Por mais que fosse difícil, passava pela cabeça”.

Essa ideia só cresceu desde dezembro de 2013, quando Mari Paraíba decidiu voltar às quadras. Após passagens por Barueri e Bauru, a ponteira fechou com o Minas/Camponesa para a temporada 2014/2015 da Superliga feminina. Foi um dos grandes destaques da equipe que terminou a competição entre as quatro melhores, e isso a catapultou até a seleção brasileira. “Eu estava esperando [a convocação]. Estava esperando, mas estava calma”, disse a jogadora.

O próximo desafio de Mari Paraíba é saber qual competição disputar pela seleção brasileira. José Roberto Guimarães convocou um grupo grande, que será dividido entre as jogadoras que vão para o Pan-Americano de Toronto e as que estarão no Grand Prix – os dois torneios têm partidas em datas concomitantes.

“Eu deixo as coisas acontecerem. Eu imagino sempre, mas sempre procuro ter pés no chão e tentar uma coisa de cada vez. Agora estou aqui e vou focar no momento de ir para o Pan ou para o Grand Prix e fazer boa campanha se for. Acho que as Olimpíadas são outro patamar. Claro que eu quero muito ir, mas um passo de cada vez”, disse Mari.

A questão sobre qual competição disputar em 2015, contudo, parece extremamente menor para quem lidou com tantas dúvidas nos últimos anos. As três temporadas de idas e vindas ajudaram a fortalecer Mari Paraíba, e o jeito dela é apenas reflexo disso.