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Saída de levantadora faz Brasil reviver no Pan um drama pré-Londres-2012

Vôlei feminino do Brasil terá duas levantadoras titulares em 2015, mas apenas Dani Lins está garantida - FIVB/Divulgação
Vôlei feminino do Brasil terá duas levantadoras titulares em 2015, mas apenas Dani Lins está garantida Imagem: FIVB/Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/05/2015 06h00

Um dos momentos mais conturbados da campanha vitoriosa do vôlei feminino do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 aconteceu antes de a competição começar. No dia 3 de julho, 25 dias antes da estreia, o técnico José Roberto Guimarães decidiu cortar a levantadora Fabíola, que havia sido titular na maior parte das competições desde 2009 e tinha sido eleita a melhor da posição na edição anterior da Superliga. Três anos e uma medalha de ouro depois, a função volta a ser um problema para a equipe nacional que vai disputar os Jogos Pan-Americanos de Toronto, que acontecerão entre os dias 10 e 26 de julho.

Como a fase final do Grand Prix também termina em 26 de julho, Zé Roberto montou um grupo grande para a seleção brasileira na temporada 2015. O técnico convocou 33 jogadoras no dia 4 de maio e incluiu cinco levantadoras na lista: Dani Lins (Molico/Nestlé), Fabíola (Dinamo Krasnodar-Rússia), Ana Tiemi (CSM Bucaresti-Romênia), Juma (Pinheiros-SP), Macris (Pinheiros-SP, hoje no Brasília-DF) e Roberta (Rexona/Ades-RJ).

Horas depois de a convocação ter sido anunciada, Fabíola pediu dispensa: “Neste momento, preciso cuidar de algumas questões pessoais e somente por isso estou pedindo dispensa. Já conversei com o Zé Roberto e em breve espero estar de volta para quem sabe ajudar na caminhada rumo a mais um ouro olímpico”. A levantadora disse à comissão técnica que precisava priorizar a família nesta temporada.

Até então, a ideia da comissão técnica era ter Dani Lins e Fabíola como titulares nas duas competições coincidentes (Pan e Grand Prix). Zé Roberto deve dividir titulares entre os torneios, sem priorizar nenhum deles. O corte, portanto, abriu uma briga na posição.

Juma e Macris foram as duas primeiras levantadoras que se apresentaram à seleção – a montagem do grupo foi feita de forma paulatina porque as atletas tiveram datas diferentes para término de temporada e férias. Roberta, a última da posição a ser incorporada aos treinos, só deve chegar no dia 1º de junho. Como Juma fará parte do time que disputará o Mundial sub-23 em 2015, a questão agora é a divisão entre as outras quatro (Dani Lins, Ana Tiemi, Macris e Roberta).

“A gente sempre teve uma escola importante nesse fundamento. Agora a gente está com quatro levantadoras: duas irão para o Pan-Americano e duas ou três vão para o Grand Prix, dependendo da situação. Essa disputa vai ser interessante: uma geração mais velha, e outra chegando à seleção pela primeira vez, como a Roberta e a Macris. A Ana e a Dani já tiveram em outras vezes. Elas vão ter de aproveitar e ver como vão se adequar, como vão encarar e a personalidade. A esperança é total”, disse José Roberto Guimarães ao UOL Esporte.

Até por uma questão de experiência, Ana Tiemi é a mais cotada para ser titular em um dos torneios de 2015. O problema é que a levantadora estava na Romênia, numa liga que prioriza bolas altas e lentas, estilo radicalmente diferente do que é usado pela seleção brasileira. Macris, em contrapartida, foi eleita a melhor da última Superliga e é descrita pela comissão técnica como uma atleta extremamente rápida e técnica.

“Depende das atacantes que você tem. Como estilo de jogo e como seleção, nós sempre gostamos de um jogo mais rápido, veloz e acelerado. Essa é a característica das nossas atacantes – mesmo as altas gostam da bola mais rápida. Isso não muda muito. Não vamos mudar o estilo e jogar como a Rússia, com bolas mais altas. Todas elas jogam nos clubes com esse diapasão. Não tem muita discrepância de velocidade, mas é lógico que a Ana, que passou na Romênia com um estilo de jogo, vai ter de se readequar. A Macris joga com velocidade, a Roberta joga com velocidade, a Dani também. Apesar da diferença de estilos, o importante é adequar esses estilos com a característica do time”, avaliou Zé Roberto.

A proximidade com o ritmo usado pela seleção fez com que Macris ganhasse muitos pontos no início dos treinos. “Eu estou me sentindo em casa. Por eu ter defendido o Pinheiros, que tem uma linha muito parecida com a daqui, estou acostumada a escutar as mesmas coisas nos treinos. Não estranhei tanto por causa disso”, explicou a levantadora.

A pouco mais de um ano do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, essa é uma das principais disputas para a composição da seleção de vôlei feminino. Se tudo correr de acordo com os planos, Dani Lins será dona de uma das vagas. Resta saber qual jogadora ficará com a outra posição – Fabíola era a mais cotada, mas a comissão técnica vê o corte como uma chance para outra atleta se afirmar no grupo (principalmente pela chance de ser titular).

“Eles vão ter de decidir sobre quem vai se encaixar melhor no estilo de jogo”, opinou Macris. “Acho que cada uma tem um estilo bem diferente, mas a parte boa é que é uma briga saudável”, completou Juma.

O corte de Fabíola antes dos Jogos de Londres

Em 2012, o corte de Fabíola foi um momento difícil. A própria Dani Lins, que ficou com a posição e foi titular na campanha do ouro olímpico, admitiu ter chorado quando soube da notícia. Fernandinha havia sido convocada pela primeira vez no Grand Prix daquele ano, ganhou espaço no torneio e se garantiu em Londres.

“O corte da Fabiola foi traumático e precisamos ter definição ali. Conversamos depois porque ainda mexia muito com a cabeça dela. Eu disse a ela que é uma pessoa extremamente boa para o grupo, que se dedica ao máximo. Para mim, ela precisa ser mais forte quanto à sua personalidade como levantadora”, relatou Zé Roberto em entrevista publicada pelo UOL Esporte no dia 15 de abril de 2015.

“Eu fiquei triste, é claro, mas é uma decisão dele [Zé Roberto]. Só havia duas vagas, e ele optou por me cortar. Eu tenho de respeitar e trabalhar”, disse Fabíola em 2012. “Eu saí bem da seleção. As meninas me deram força”, completou.