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Brasil tem 5 questões a resolver para 1º teste olímpico não ser frustração

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/07/2015 06h00

O primeiro evento-teste dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, pode abrir também o calendário de frustrações no esporte nacional. Sede da fase final da Liga Mundial de vôlei masculino, o Brasil jogará contra os Estados Unidos às 14h desta quinta-feira (16), no Maracanãzinho, e precisa de uma vitória contra os atuais campeões para não ser eliminado precocemente do torneio. E para isso ser possível, a equipe comandada pelo técnico Bernardinho precisa aprender a lidar com pelo menos cinco questões.

A fase final da Liga Mundial é dividida em dois grupos de três times, e apenas os dois primeiros de cada chave avançam às semifinais. Como perdeu para a França na última quarta-feira (15) por 3 sets a 1, o Brasil tem de bater os Estados Unidos e ainda torcer por um resultado adequado na partida final se quiser se classificar.

Nas últimas seis temporadas, o Brasil só ficou fora da decisão da Liga Mundial em 2012. No ano seguinte, a despeito de ter perdido o primeiro jogo da fase final, conseguiu uma reação e avançou até ser superado pela Rússia na disputa do título.

A questão é que o caminho para a reação neste ano é complicado. Além de ter pela frente a seleção que defende o título, o Brasil tem de lidar com aspectos como a pressão de jogar em casa – o país já sediou a fase final em quatro edições e só foi campeão em 1993, em São Paulo, e nenhum anfitrião fica com a taça da Liga Mundial desde a Holanda-1996.

As questões que o Brasil ainda precisa resolver antes da partida decisiva contra os Estados Unidos:

1 - Os desfalques

Sidão, com dores no ombro, não foi sequer incluído no elenco que disputa a Liga Mundial. Riad, que sofreu uma ruptura parcial em um tendão do joelho direito, foi cortado da fase final. No entanto, o maior problema que o Brasil tem para o jogo desta quinta-feira é o oposto Wallace, acometido por um problema nas costas.

Wallace chegou a se trocar para a partida contra a França, mas não participou sequer do aquecimento. "Eu falei isso na véspera do jogo, e hoje [quarta-feira], mais uma vez, se precisasse eu não conseguiria entrar em quadra. Eu atrapalharia o time. Se minha situação for essa, prefiro não enfrentar os Estados Unidos”, avisou o oposto titular.

A ausência de Wallace reflete em diferentes aspectos. O jogador é um dos principais atacantes da Liga Mundial (o quarto até o início da fase final) e também detém um dos saques mais potentes da seleção brasileira. Por tudo isso, é fundamental para desestabilizar o passe de seleções que têm muito volume, como França e Estados Unidos.

Evandro, que herdou a posição, teve atuação irregular contra a França. Vissotto já foi titular e também esteve em quadra, mas não faz boa Liga Mundial – ele havia até sido cortado da fase final. “O Wallace é um jogador importante, mas a gente não pode colocar nisso a responsabilidade da derrota [para a França]. Ele teve um problema nas costas e não deve jogar amanhã [quinta-feira]. O Evandro entrou bem, teve um bom começo e passou por altos e baixos”, avaliou o técnico Bernardinho.

2 - A irregularidade e o saque deficiente

O diagnóstico sobre irregularidade foi quase unânime entre jogadores e comissão técnica do Brasil depois da derrota para a França. “Nós erramos três saques em sequência no terceiro set e tiramos a pressão deles. Não colocamos pressão. É uma partida em que você tem de ter troca de bola, e se demonstrarmos desânimo contra uma seleção desse nível... essa é a lição que fica: não podemos baixar a intensidade do nosso jogo”, cobrou Bernardinho.

O momento em que a irregularidade do Brasil ficou mais evidente foi o trecho final do quarto set. A França abriu a ponto de fechar a parcial com vitória por 25 a 19. “No finalzinho, quando eles conseguiram sacar melhor, nós não conseguimos virar a bola”, admitiu o central Isac.

A irregularidade tem relação direta com o quanto o Brasil sacou mal contra a França. Num duelo em que a defesa europeia era sabidamente um diferencial, o time da casa não conseguiu tirar o passe das mãos do levantador Benjamim Toniutti.

“A gente sabe que o saque precisa melhorar. Às vezes a gente acerta um, mas erra o segundo. Essa falta de constância dá um alívio muito grande para a equipe deles. Em certos momentos de fim de set a gente errou demais, e no período mais difícil de jogar eles não tiveram pressão”, admitiu o ponteiro Lucarelli.

3 - A relação com o ambiente

O Maracanãzinho não estava lotado na partida contra a França, mas tinha clima de festa até o segundo set. Depois, esmoreceu paulatinamente à medida em que os gauleses salvavam ataques do Brasil e se aproveitavam da irregularidade dos donos da casa.

“Acho que aconteceu isso porque a gente teve chance de ganhar no terceiro set e acabou não ganhando. Foi um balde de água fria nos jogadores e nos torcedores, o que é muito complicado”, disse Lucarelli.

Em vários momentos do jogo contra a França foi possível notar atletas interagindo com a torcida. O ponteiro Murilo, que normalmente é contido, chegou a pedir mais apoio das arquibancadas. No fim, porém, ganharam espaço as provocações comandadas por Ngapeth, que fez 21 pontos na partida (16 em ataques).

4 - A pressão

Jogar em casa, contudo, não é necessariamente um ponto apenas positivo. Afinal, por ter torcida a favor, uma seleção vitoriosa e um ambiente que será palco dos Jogos Olímpicos, o Brasil também tem de lidar com pressão na fase final da Liga Mundial.

Desde os dias que antecederam o confronto com a França, por exemplo, jogadores do Brasil foram questionados sobre a decisão da Liga Mundial e a Rio-2016. De certa forma, tiveram de lidar com cobranças que iam muito além da partida.

O técnico Bernardinho minimizou o impacto disso: “Jogar em casa, com apoio da torcida, não é um peso. Não perdemos [para a França] por causa disso, mas porque tecnicamente e taticamente não fizemos as coisas da melhor forma possível”.

5 - O adversário

A seleção norte-americana não é apenas a atual campeã da Liga Mundial (vitória sobre o Brasil na decisão do ano passado). Na história, também é um time que venceu os donos da casa em quatro dos seis confrontos em fases finais.

“Existe uma rivalidade muito grande entre Brasil e Estados Unidos, assim como existe entre Brasil e Rússia. A gente tem uns adversários que ficam no pé, que fazem o jogo por si só ser motivador. Valendo como uma decisão, então, talvez seja um excelente teste para a gente e um excelente duelo para a torcida”, ponderou o ponteiro Murilo.