Ativista trans sobre fala de Giba: 'É uma expressão pública de transfobia'
A militar e ativista trans Bruna Benevides criticou a declaração de Giba, ex-jogador de vôlei da seleção brasileira, sobre Tifanny Abreu, atleta que atua pelo Sesi/Bauru. Em participação no UOL News na tarde de hoje, ela classificou a fala do medalhista olímpico como "expressão pública de transfobia".
"Esse debate não é sobre a defesa ou cuidado com as mulheres e também não é sobre ciência. Existe um fator que é fundamental pra gente entender, que é a transfobia. Essa transfobia, no sentido desumanizante e inferiorizante, que deixa essas pessoas totalmente confortáveis e de forma inconstrangível de estarem dando suas opiniões de forma irresponsável, no sentido de disseminar inverdades sem nenhum tipo de embasamento", disse Bruna.
"Eu vejo [a declaração do Giba] como uma nítida e flagrante expressão pública de transfobia", acrescentou.
Em uma conversa com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Giba disse que o fato de Tifanny atuar em equipes femininas é "completamente fora do normal" e sugeriu um campeonato disputado apenas com transexuais.
"Se perguntar pra mim, [a resposta é]: faz um campeonato deles [transexuais]. Não tenho problema com gênero, com nada, mas é completamente fora do normal. Joguei com ele [Tifanny] quando ele era homem ainda, hoje em dia joga com mulheres. Ele foi fazer a cirurgia com 30 e poucos anos, e por mais que você faça o tratamento, ele não vai perder aquela força a mais que temos em relação às mulheres", iniciou o ex-ponteiro.
"Uma pergunta que faço para todo mundo pensar um pouco: se uma mulher é pega no doping com testosterona, ela fica quatro anos fora das quadras. E por que isso não é o contrário? É um questionamento que eu deixo para vocês pensarem um pouquinho", prosseguiu o ex-atleta.
Vale destacar que não há nenhuma comprovação científica de que Tifanny ou qualquer outra atleta trans possua algum tipo de vantagem na prática do esporte, conforme explicou o ginecologista e sexólogo The Lerner.
"A Tifanny começou a jogar em 2019 e já teve questionamento naquela época. De lá para cá, uma série de critérios foram estabelecidos. Existe toda uma padronização para evitar essa teórica vantagem indevida. A Tifanny é uma boa jogadora, mas não desestabilizou o jogo de vôlei. A hipótese de que o fato dela ter cromossomos masculinos ou algum nível de testosterona vai desestabilizar [o equilíbrio do jogo] não se sustenta com a prática", disse.
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