OPINIÃO
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mapa criativo pode ajudar São Paulo a não desperdiçar oportunidades
Alê Youssef
Alê Youssef é gestor cultural, apresentador e escritor. Especialista em impacto sócio cultural e economia criativa. Atuou como Secretário de Cultura da Cidade de São Paulo, criou e dirigiu o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, o Studio SP e o site multicultural Overmundo. É autor dos livros "Novo Poder - Democracia e Tecnologia" e "Baixo Augusta: A cidade é nossa!". Atualmente, é Conselheiro no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República e sócio da Baixo Augusta Produções.
Colunista de Nossa
17/12/2024 05h30
São Paulo tem uma agenda cultural e de eventos tão gigante e diversa, que encanta e nos enche de orgulho, mas ao mesmo tempo evidencia uma triste falta de unidade estratégica e de planejamento para geração de oportunidades.
Só no final de semana dos dias 7 e 8 de dezembro a cidade recebeu o show da icônica banda Iron Maiden no Allianz Parque, a exposição dos Racionais Mc's no Museu das Favelas, a edição especial da tradicional festa de música eletrônica Gop Tun e a CCXP, maior Feira de Cultura Pop do mundo.
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Ao mesmo tempo acontecia a "programação normal" das centenas de rodas de samba espalhadas em todos os bairros e do que acontece em cada um dos milhares de bares, restaurantes e casas noturnas. Enorme oferta e intensidade, que acontece simultaneamente, mas também sem qualquer integração.
No mesmo sentido a agenda cultural pública das casas de cultura, da Biblioteca Mário de Andrade e do grande sistema de bibliotecas municipais, do Centro Cultural São Paulo e de todos os centros culturais, do Teatro Municipal, e toda a agenda que acontece ocupando a cidade em espaços públicos, nas praças, parques e nas Ruas Abertas. Também a programação de todas as instituições privadas: SESCs, Masp, Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles, Japan House etc.
Toda essa programação poderia estar bem costurada através de um calendário cultural integrado público/privado que pudesse receber de forma colaborativa tudo que São Paulo é capaz de gerar. Do mega Festival no Autódromo de Interlagos à roda de MPB do bar do Julinho, passando pelo slam, pela batalha de rima, pelas mais variadas peças da nossa tradicional rede de teatros, por apresentações dos grupos de dança, de circo, pelos Saraus do Binho, da Cooperifa, pelos mega campeonatos de games, desfiles de moda, feiras de design, exposições de arte e mostras de cinema.
Organização, visibilidade e georeferenciamento, poderiam mapear através desses tantos eventos e atividades culturais, as indústrias criativas e as vocações locais, e com isso as oportunidades de investimento para alavancar a economia criativa em cada bairro da cidade, com políticas complementares de microcrédito, isenções fiscais para novos negócios, planejamento urbano, inovação e formação técnico profissional.
É uma estratégia de desenvolvimento econômico e social muito interessante e eficiente, com exemplos internacionais muito bem-sucedidos. Londres, que em 1998 realizou um primeiro mapeamento do tipo, se posicionou como um coração pulsante dos criativos da Inglaterra e do mundo.
Medellín, Seul, Lisboa e Melbourne são indicações claras de que a tendência de valorização da criatividade como indutora de desenvolvimento, se espalha por todos os continentes.
Como diz meu amigo e grande jornalista Lucio Ribeiro — defensor de uma articulação da agenda cultural da cidade há tempos — São Paulo também pulsa com muita intensidade e impressiona qualquer pessoa que vem de fora da cidade, com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Um mapa das cenas criativas abriria caminhos e oportunidades, e seria um símbolo da diversidade.
Ajudaria a reverter a incompreensível tendência que a cidade vem tendo, de jogar contra suas próprias potencialidades. E pode ser também um protótipo para ser replicado em muitas outras capitais, para iniciar, enfim, uma política consistente de valorização da criatividade em todo Brasil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL