Largo da Batata Ruffles: marketing sem criatividade e desrespeito à memória
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No final do ano passado, o tal "Largo da Batata Ruffles" foi uma tentativa de ação de marketing que conseguiu ser ruim para todos os envolvidos. Evidenciou uma crise de criatividade do mercado publicitário — especialmente em relação às ativações de marcas.
A ação — que não foi à frente após pressão pública — também revelou uma falta de conhecimento e respeito em relação à memória paulistana — especialmente por parte do gestor público que aceitou a possibilidade no primeiro momento — e, ainda, expôs a marca a uma situação desnecessária.
Com uma politica pública cultural ultrapassada e o mercado permanentemente aquecido na maior cidade do Brasil, a iniciativa privada há tempos é um porto seguro para produtores e artistas que querem realizar seus projetos. É muito natural, portanto, que existam contrapartidas para esse tipo de investimento, que garantam a visibilidade das marcas envolvidas e o retorno desejado.
Mas a falta de boas ideias para ativar as marcas que se envolvem em projetos de impacto cultural — como esse do Largo da Batata — tem chamado atenção. Brindes distribuídos em eventos, que ignoram regras civilizadas de gestão de resíduos sólidos, pouca preocupação com a integração da ativação da marca com o local da atividade, e decisões de investimento equivocadas na relação custo/impacto, se destacam.
Seria importante o mercado publicitário buscar soluções para esses problemas. Os blocos de carnaval por exemplo, sofrem com a falta de patrocinadores derivada da morosidade do poder público em organizar a festa. Existem diversas ações culturais interessantes, que agregariam valor e poderiam também gerar grande impacto, mas que não acontecem por falta de apoio.
Quantas novas casas de shows, eventos, filmes, peças, espetáculos dos mais variados tipos poderiam ser produzidos se existisse uma busca ativa por oportunidades mais certeiras para os patrocinadores.
Do ponto de vista do poder público, que deveria zelar pelo patrimônio material e imaterial de São Paulo, chega a ser patética a opção de ceder o "naming rigths" de um espaço tão emblemático, ainda mais a um preço tão pequeno.
Além disso, uma trapalhada dessas prejudica a imagem da política de concessão de espaços públicos à iniciativa privada, que em muitos casos são importantes para requalificação de áreas abandonadas ou degradadas, mas acabam entrado no bolo das críticas.
O lado positivo disso tudo foi a enorme reação da sociedade contra a batatinha. Demonstrou que mesmo na epidemia de falta de diálogo e lacrações que vivemos, ainda é possível unir as pessoas em defesa das tradições da cidade.
Nesse caso, da história de um espaço que ja foi ocupado por indígenas e depois abrigou o comercio agropecuário (inclusive de batatas), a Cooperativa Agricola de Cotia e o Mercado dos Caipiras, hoje Mercado de Pinheiros. Foi o marco inicial da urbanização do bairro, passou por grandes mudanças, sendo ponto de importantes manifestações políticas e carnavalescas.
Saudade do Largo da Batata lotado no carnaval, ocupado pelo povo, como uma praça daquele porte deve sempre ser.
Primeiro tiraram o carnaval do território, depois tentaram mudar seu nome. Pesadelo de uma cidade que sabota sua memória. Um abraço aos queridos amigos do Bloco Casa Comigo, precursores do carnaval do Largo da Batata.
18 comentários
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João Luís Nery
Ruim é ficar sem o dinheiro do patrocinio do fabricantes da batatas. Esses colunistas canhotas inuteis do UOL só ficam lacrando para a bolha da vila madalena que habitam
Raimundo Nascimento
OS BLOCOS DE CARNAVAL SE RESPONSABILIZAM PELOS RESIDUOS SOLIDOS GERADOS? O NUMERO DE BANHEIROS QUIMICOS SAO CUSTEADOS POR QUEM? SAO SUFICIENTES? E OS MORADORES DA REGIÃO QUE PAGAM 10 PARCELAS DE UM IPTU CARÍSSIMO SAO RESPEITADOS?
Orlando Maretti
Votaram no Nunes. Agora engulam as batatas...