Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O que subiu mais nos últimos 25 anos: a gasolina ou o chope?
Meu amigo Cacalo é fotógrafo, marceneiro, avô, colecionador de LPs, revisor, cozinheiro, ombudsman e sabe das coisas: por mais de uma vez, ao longo deste quarto de século de amizade, indicou-me botecos a conhecer, sobretudo aqueles que servem bom chope.
Cacalo ficou assustado com o preço do chope no recém-reaberto Filial, bar do qual tratei no post anterior: R$ 9,50. Ele me disse que, nos bons tempos, saía, no mínimo, duas vezes por semana para "chopar" e que a referência para o preço da tulipa (ou da caldeireta) era o litro da gasolina. "Paripasso", segundo Cacalo, que completou: "tomara que não empatem mais".
A fim de checar a Lei de Cacalo — a do Paripasso —, fui buscar nos meus arquivos o preço do chope em diferentes épocas e consultei algumas fontes para tentar encontrar o preço da gasolina nos períodos correspondentes.
O que posso dizer é que quanto aos bons tempos da Lei de Cacalo, bem, esses eu não vivi.
Em outubro de 1998, por exemplo, publiquei em uma reportagem da revista Playboy que o preço do chope no bar A Juriti, no Cambuci, era de... R$ 1,40. Em 5 de dezembro do mesmo ano, uma reportagem da Folha de S.Paulo informava que o litro de gasolina, em um posto na Zona Norte de São Paulo, custava R$ 0,85. Ou seja, 60% do preço do chope.
Na edição de 9 de fevereiro de 2007 do guia Divirta-se, do Jornal da Tarde, publiquei os seguintes preços de chope: R$ 3,30 no Veloso, R$ 3,50 no Jabuti; R$ 3,80 no Original. Se fizermos uma média desses três, chegaremos ao preço médio de R$ 3,53. No mesmo mês, o preço médio da gasolina na cidade de São Paulo era de R$ 2,397, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na comparação, decorridos nove anos, um litro de gasolina passou a custar 67,90% do preço do chope.
Em janeiro de 2022, segundo a ANP, a gasolina comum era vendida aos consumidores paulistanos ao preço médio final de R$ 6,417. Já o chope...
Pois é, lamento informar — ao Cacalo e a vocês que me leem — mas os R$ 9,50 cobrados pelo chope no Filial são uma pechincha, se compararmos o preço da bebida com o cobrado em outros bares. No Original, por exemplo, custa R$ 10,20; no Bar Leo, R$ 10,90; e no Hocca Bar, do Mercadão, absurdos R$ 14,40. A média entre esses quatro, portanto, dá R$ 11,25. E o cruzamento desse número com o preço da gasolina atualmente mostra que o do combustível equivale a 57,04% do cobrado pelo chope, em média — e, olhe, não considerei os 13% de taxa de serviço.
Pois é, Cacalo, vou te dizer o seguinte: se um dia o chope voltar a empatar com o da gasolina, sou capaz de beber mais que minha Zafira 2006. Desde que o preço de referência para o empate seja o da gasosa, que fique claro.
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