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Após assalto, casal reabre bar em outro lugar e faz 2000 cannoli por semana
Antes de mais nada, eu preciso explicar uma coisa: cannoli é plural de cannolo. A gente come um cannolo, dois cannoli e assim por diante. Mas se você quiser continuar dizendo que comeu um cannoli, por mim, tudo bem, porque eu acho mais legal falar cannoli do que cannolo.
Então vamos lá: cannoli siciliano, você sabe, é aquele canudinho de massa crocante recheado, na versão original, com um creme levemente adocicado, feito de ricota. Mas pode ser preenchido com Nutella, creme de confeiteiro ou de ricota com pistache, por exemplo.
E foi graças a esse doce surgido no sul da Itália que os proprietários do Cannoli do Calimano superaram o trauma decorrente de um assalto no antigo endereço, na Zona Norte de São Paulo, assim como as dificuldades impostas pela pandemia, para reabrir o estabelecimento, no primeiro semestre de 2022, desta vez na Vila Madalena.
Calimano, no caso, é o paulistano Alexandre Caliman. Nascido e criado no bairro da Casa Verde, conheceu Monica Gamino na escola. Ambos estudaram juntos da 7ª série ao terceiro colegial, quando começaram a namorar.
"O curioso é que os meus pais e os pais da Monica também são da Casa Verde e já se conheciam. O bairro tem disso até hoje... as famílias estão lá há anos e os avós, pais e filhos do bairro vão se conhecendo de geração em geração", diz Calimano.
Frequentaram a mesma faculdade, na qual ele estudou jornalismo e ela, relações públicas. Depois de oito anos de namoro, casaram-se em 1999, ambos com 24 anos. Têm dois filhos.
Ele chegou a trabalhar em redações, atuou também como redator publicitário, até que foi fisgado pelo cannoli de uma antiga doceria, a Asti, que ficava ao lado do Shopping Paulista. "Aquele cannoli era diferente dos que eram vendidos no Bixiga e no Juventus: mais delicado, tinha massa levinha e crocante, mais escura e um recheio de ricota e frutas cristalizadas que harmonizava perfeitamente com o canudo", recorda-se Calimano, que, então, começou a pesquisar receitas e descobriu que o cannoli siciliano era um doce milenar, joia da pasticceria italiana, que levava na massa vinho marsala, grappa, cacau e canela, com recheio de ricota cremosa.
Passou a fazer em casa, para consumo próprio, até que, em meados de 2012, levou os cannoli de presente a um amigo, Bruno Stippe, que é dono da cantina C...Que Sabe, no Bixiga.
Ele adorou os doces e me pediu pra produzi-los pra serem vendidos na cantina dele"
De 50 unidades do pedido inicial, os cannoli do Calimano passaram a ser vendidos em feiras gastronômicas, assim como o casal começou a atender outras cantinas, pizzarias e padarias. Até que abriu um primeiro ponto em um pequeno street mall no bairro em que nasceram e onde vivem até hoje.
"Foi incrível, era um sonho realizado e a inauguração foi um dos momentos mais plenos da minha vida. Só que depois de alguns meses, o shopping foi vendido pelos donos do imóvel e tivemos que fechar", conta.
Em 2019 a casa foi reaberta também na Casa Verde, em um sobrado na acolhedora Praça Centenário. Mas Monica e Calimano foram pegos de surpresa mais uma vez: depois de 7 meses aberto, o local foi assaltado à luz do dia, em um domingo.
Foram sete anos de trabalho perdidos em alguns minutos. E o pior, por causa de celulares e carteiras — nossas e dos clientes"
Esse assalto aconteceu cerca de dois meses antes do início da pandemia. Hoje, Calimano avalia que o episódio foi algo triste, mas que faz parte da sua história de aprendizado e resiliência. Tanto é que, junto de Monica, passou a procurar outros pontos, dessa vez na Zona Oeste paulistana para reabrir a casa.
Até que encontrou o ponto ideal: uma garagem e um quintal de uma casa instalada no trecho mais íngreme da Rua Original, na Vila Madalena. Nos dias úteis, na companhia de uma auxiliar, ele dá expediente ali, tanto na produção da massa quanto no atendimento. Monica, por sua vez, toca toda a produção dos cannoli, faz as compras, as entregas e cuida de tudo até o momento em que os cannoli chegam às prateleiras e aos clientes.
São 2 mil unidades produzidas por semana (a partir de R$ 12 cada um ou R$ 40 o kit com quatro unidades), que em geral a freguesia pede depois de comer um sanduíche de porchetta (servido no pão ciabatta — o outro chamariz da casa, cuja produção também teve o empurrão do amigo Bruno Stippe.
"Em uma conversa na cantina, lá por 2014, ele me passou a receita desse prato típico de Montefiascone, na região italiana do Lazio, e me deu a ideia de fazer para levá-la aos eventos, junto com os cannoli. Foi bem aceita nas feiras e desde então sigo fazendo"
Nos fins de semana, os filhos (Giulia, 21, e Vito, de 13), dão uma força aos pais no atendimento. "Esse trabalho em família é italiano demais! E faz parte da personalidade da marca. Vito fica no atendimento e na conversa com os clientes, Giulia e Monica montam os cannoli e atendem também, e eu fico nas panelas e na máquina de espresso", descreve Calimano. "Mas todo mundo lava a louça..."
A cada duas semanas, nas noites de sábado, Calimano recebe o amigo Mirko Daniele, um pizzaiolo que prepara a autêntica pizza napolitana — o próximo giro pizza será no dia 20 de agosto (R$ 70 por pessoa, cinco sabores de pizza, come-se à vontade). "Tudo como se estivéssemos recebendo as pessoas para uma festa em casa", define. E com direito também a pedir um bom Negroni (R$ 35).
Vai lá >> Cannoli do Calimano
Rua Original, 173, Vila Madalena, São Paulo, tel. (11) 97509-5992.
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