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Doença mais comum em cães e gatos está na boca e atinge maioria dos pets
Se você tem um cão ou gato adulto, posso dizer nesse momento, sem examiná-lo, que ele tem uma doença específica. A chance de eu acertar? De acordo com estudos recentes, 90 a 100% no caso dos cães e 70% no caso dos gatos.
Mas que doença é essa?
Trata-se da doença periodontal, a grande responsável pelo bafo dos nossos amigos. Ela é provavelmente a doença mais frequente em cães e gatos e, possivelmente, a mais menosprezada.
A causa é o acúmulo da placa bacteriana que, em contato com a gengiva, provoca inflamação e faz com que, ao longo do tempo, ela se "descole" do dente. Esse espaço que surge permite a colonização por bactérias, que passam a destruir as estruturas que ligam o dente ao osso.
Com o passar do tempo, essa infecção tende a se agravar, e começa a acontecer a perda óssea, que leva à perda de dentes. Também começam a surgir outros sintomas mais graves, como comunicação entre nariz e boca, infecção óssea e fraturas, entre outros problemas.
Além do problema localizado, essa é uma doença que tem o potencial de comprometer outros órgãos.
A infecção constante da boca faz com que bactérias entrem na circulação sanguínea todos os dias e se espalhem pelo corpo. Além disso, ela provoca um estado inflamatório constante nos animais. Embora ainda não tenhamos estudos em veterinária que estabeleçam estas relações, sabemos da medicina que essas condições provocadas pela doença periodontal estão associadas a problemas nos rins, fígado, coração e a problemas metabólicos.
A dor também é um importante aspecto deste problema. Os animais têm um instinto de sobrevivência muito grande e, em geral, não mastigam sua comida — já que na natureza seus dentes têm uma função principal para a caça e não para a mastigação.
Desse modo, é muito difícil que um animal deixe de comer por um problema periodontal. Exatamente por isso, e pela dificuldade que existe na avaliação de dor em cães em gatos, muitas vezes ela é subestimada.
Porém, se você já teve dor de dente, sabe do que eu estou falando, e os animais, assim como nós, também sofrem com ela. Agora imagine ter um problema em mais de um ou até em todos os dentes da boca por anos e anos.
A grande maioria dos animais irá apresentar essa doença depois de adultos (em maior ou menor grau), sendo os cães de raças pequenas especialmente predispostos. Neles, ela se desenvolve muito mais rapidamente, e é frequente ver animais de até um ano de idade que já apresentam um problema grave.
Mas por que a doença periodontal é tão menosprezada?
Essa é uma boa pergunta. Na minha opinião, as pessoas acabam confundindo o que é comum com o que é normal.
O fato de ser uma doença muito comum e quase todos os animais a apresentarem, faz com que se perca um pouco da noção de que aquilo não é normal. Além disso, a doença periodontal é uma enfermidade de desenvolvimento lento, podendo levar anos para que problemas graves sejam apresentados. O fato de não deixarem de comer também ajuda a explicar.
Como resolver o problema?
A melhor maneira de prevenir a doença periodontal é a escovação de dentes. Isso mesmo, o correto é escovar os dentes do seu animal todos os dias.
Existem pastas e escovas apropriadas para eles, e o seu veterinário pode te ensinar a técnica e os truques para acostumar seu cão ou gato.
Sei que essa não é uma ideia muito simples de se pôr em prática. Honestamente, por mais que saiba que é o correto, nunca escovei os dentes dos meus cães. O que eu faço é outra coisa que se recomenda: uma vez por ano, eles passam por avaliação com um colega especializado em odontologia veterinária e, se necessário, a realização de um tratamento periodontal.
É muito comum, até mesmo entre veterinários, a ideia de que não vale a pena tratar a doença periodontal de maneira precoce. "Deixa juntar mais tártaro" é algo que se escuta com frequência.
Porém, é exatamente no início que devemos tratá-la. Nesse momento, ainda não há perda óssea e o tratamento permite o completo restabelecimento da gengiva acometida. Quando se espera "juntar mais tártaro" começa a haver a perda óssea.
Nesses casos, a saúde bucal ainda pode ser restabelecida com o tratamento, mas o osso perdido não mais. Além disso, o tratamento de uma doença periodontal grave é mais agressivo, mais doloroso, mais demorado e mais caro do que o tratamento de uma doença leve. Em geral, também já é necessária a extração de alguns dentes — nos casos mais graves, de todos eles.
O tratamento periodontal é feito com a utilização de instrumentos semelhantes aos que um dentista humano utiliza. O que diferencia para os animais, por motivos óbvios, é que ele só pode ser realizado de maneira adequada com anestesia geral.
Esse também é outro fator que pode levar à relutância em solucionar a doença, já que a anestesia é uma das coisas que mais dá medo nos donos de cães e gatos.
Porém, esse é um medo que não se justifica. Hoje em dia, com a evolução do estudo da anestesia, das técnicas anestésicas, dos fármacos e equipamentos, é possível anestesiar o seu melhor amigo com toda a segurança, mesmo os mais velhinhos.
O risco anestésico é muito menor que o risco de deixar o animal com uma fonte de dor, infecção e inflamação constante por toda a vida. Tanto é um procedimento seguro que meu vira-latas de 8 anos, por exemplo, já passou por quatro tratamentos periodontais. Tive alguns pacientes que fizeram mais de uma dezena e que continuam fazendo tratamentos mesmo tendo mais de 20 anos de idade.
Ganho de qualidade de vida
Durante alguns anos, trabalhei em uma clínica que realiza tratamentos odontológicos. Nesse tempo, perdi as contas de quantos donos de cães e gatos disseram que, depois do tratamento, seu animal rejuvenesceu. Relatos de animais que voltaram a brincar, a correr atrás da bolinha, a receber o dono na porta de casa, que engordaram, entre outras coisas, são bem comuns.
Isso também acontecia mesmo nos casos mais graves, em que era necessário extrair todos os dentes — o que demonstra o quanto a doença afeta sua qualidade de vida.
Então, da próxima vez que for levar o seu animal ao veterinário, pergunte como está a saúde bucal dele. Se tiver dúvidas, busque um profissional especializado em odontologia veterinária.
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