Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Hérnia de disco em cães não é mais sentença de morte. Saiba como tratar
A medicina veterinária tem evoluído de forma muito rápida nos últimos anos. Muitas doenças e lesões que até alguns anos atrás poderiam ser uma sentença de morte para os animais são hoje tratadas com sucesso. As afecções de coluna, como as hérnias discais, por exemplo, nos dão um bom exemplo dessa evolução.
Elas, hoje, são a principal doença de coluna dos cães, representando uma importante fonte de dor e de alterações neurológicas. Felizmente, atualmente temos acesso a modernas ferramentas de diagnóstico e tratamentos que possibilitam o manejo de problemas como este.
O que é uma hérnia de disco?
Os discos intervertebrais são um tecido que existe entre cada uma das vértebras. Eles atuam como amortecedores, absorvendo os impactos entre os ossos da coluna. Por dentro das vértebras passam o canal vertebral e a medula espinhal, que leva a inervação para cada um dos músculos do corpo.
Uma hérnia de disco é uma doença degenerativa, em que o disco perde suas características normais. Com isso, ele fica mais frágil e pode acabar se projetando para o canal vertebral, levando à compressão da medula na região.
Tipos de hérnia e predisposição
Os principais cães acometidos são os chamados condrodistróficos. Nesse grupo de raças estão, entre outros, beagle, pequinês, lhasa apso, shih tzu e os mais predispostos: salsichas e braquicefálicos, como buldogues e pugs. Eles normalmente são acometidos pela hérnia do tipo I.
Nela, o tecido do interior do disco perde sua característica gelatinosa, se tornando mais rígido, o que faz com que ele se fique mais frágil. Nesse caso, um impacto pequeno pode resultar na ruptura desse disco, que leva à compressão da medula e aparição dos sintomas. Em geral, esse tipo de hérnia ocorre em cães mais jovens, por volta dos dois a seis anos de idade.
Em cães grandes, como labradores, golden retriever e pastores alemães, em geral temos a hérnia do tipo II. Ela tem um desenvolvimento mais lento e ocorre por um processo degenerativo do anel fibroso que envolve o disco. A longo prazo, gera uma compressão e inflamação crônica da medula. Normalmente ocorre em animais de idade mais avançada.
Mais recentemente foi descrito um terceiro tipo de hérnia, caracterizado por uma lesão de alto impacto, mas sem compressão. Esse tipo de lesão gera uma grande inflamação no tecido nervoso.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com a região da coluna vertebral acometida. Nas hérnias cervicais, que ocorrem na região do pescoço, o principal sintoma normalmente é a dor. O animal ficará extremamente incomodado com a manipulação na região, com restrições de movimento e com a cabeça constantemente abaixada. Essa dor pode ser muito intensa, provocando muito incômodo ao animal. Podem ainda ocorrer alterações de movimento nas quatro patas.
Se a hérnia ocorre na região tóraco-lombar, também poderão ser observadas alterações locomotoras dos membros posteriores, que podem ser uma pequena dificuldade em caminhar, uma pata que se arrasta ao caminhar e até a paraplegia em casos mais graves. Podem ainda apresentar dificuldade para fazer xixi e coco, ou incontinência.
Diagnóstico e tratamento
Até alguns anos atrás, para confirmar um diagnóstico de hérnia de disco, a única opção era por meio de radiografia e mielografia, um exame complicado, demorado, com alto índice de complicações e que muitas vezes não era o suficiente para fechar o diagnóstico de maneira precisa.
Hoje, após o diagnóstico clínico, o veterinário pode contar cada dia mais, com tomografia computadorizada e até mesmo com ressonância magnética, que é a melhor opção para a identificação exata do ponto e extensão da lesão.
O tratamento vai depender do tipo de lesão e dos sintomas apresentados, podendo ser cirúrgico ou conservador. Nesse aspecto, novamente podemos notar a evolução da medicina veterinária. O tratamento cirúrgico envolve um procedimento delicado e complexo, que deve ser realizado por um veterinário especializado e com equipamentos adequados. Felizmente, ambos estão cada dia mais disponíveis.
Também é importante para o sucesso do procedimento a presença de um anestesista, que pode promover uma anestesia segura e com analgesia adequada ao procedimento, que pode ser muito doloroso.
Alguns casos menos graves não necessitam intervenção cirúrgica, podendo ser tratados à base de repouso, medicamentos e de técnicas como fisioterapia e acupuntura. Esses tratamentos podem, ainda, ser indicados como auxiliares na recuperação pós-cirúrgica.
Pontos chave
O prognóstico de uma lesão de hérnia de disco depende em muito da agilidade no tratamento. Animais com sintomas que apareceram de maneira aguda, como um cão que parou de andar de um dia para o outro, por exemplo, podem ter um bom prognóstico se atendidos e operados no mesmo dia ou no dia seguinte.
No entanto, a demora para buscar tratamento e a utilização de tratamentos não adequados por dias — ou semanas — pode fazer com que esse mesmo prognóstico piore muito e com que o animal nunca mais volte a andar. Por isso, sintomas como dor importante na coluna e alterações neurológicas devem ser tratados como uma urgência. Sempre que possível, devem ser avaliados por um veterinário especialista no assunto.
A prevenção também é muito importante, principalmente em se tratando das raças mais predispostas. Hoje, com o número muito grande de dachshunds e animais braquicefálicos, também vemos um número crescente de casos. É importante a manutenção de hábitos saudáveis, como passeios frequentes e brincadeiras moderadas, de modo a evitar o ganho de peso (fator importante para o aparecimento das hérnias) e o desenvolvimento muscular, que ajuda na prevenção.
Impactos pequenos, que parecem inofensivos, podem ajudar a desencadear a doença. Por isso, é importante evitar que o animal salte para subir ou descer de móveis, como sofás e camas, ou descendo de carros. Pisos escorregadios também podem piorar o problema.
Para os animais que já tiveram algum episódio de hérnia, é comum que ela volte a aparecer em outros pontos da coluna. Por isso, deve-se ter um cuidado maior ainda com eles.
Meu animal ficou paraplégico, e agora?
Em alguns casos mais graves, mesmo a cirurgia pode não recuperar os movimentos das patas de trás imediatamente. Para muitos donos, infelizmente essa é uma situação inviável, e a eutanásia acaba sendo a opção.
Porém, hoje em dia é possível manter qualidade de vida para esses animais, principalmente se eles têm porte pequeno. Nesses animais, o uso de técnicas de fisioterapia, ajudam no controle da dor e na recuperação lenta dos movimentos. Nos que jamais recuperam o caminhar, o uso de cadeira de rodas é normalmente bem aceito, e eu conheço diversos cachorrinhos cadeirantes, que necessitam de alguns cuidados especiais, mas que vivem muito felizes.
Felizmente, hoje contamos com tecnologias e profissionais qualificados no meio veterinário que não existiam até alguns anos atrás. Essas vantagens têm que ser utilizadas sempre que possível de modo a proporcionar um tratamento rápido e de qualidade para as hérnias de disco. Isso pode fazer toda a diferença no desfecho de um caso.
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