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"Foi assustador", diz casal brasileiro de barco atacado por orcas na Europa
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Na madrugada da quarta-feira passada (6), o casal paulista Paula Lamberti e Fernando Mendes viveu o maior susto que os dois já passaram, desde que decidiram transformar um veleiro de pouco mais de 12 metros de comprimento, o Strega ("Bruxa", em italiano) em sua casa e com ele viajar pelos mares, na companhia apenas do cão Chopinho.
Quando eles se aproximavam de Lisboa, em Portugal, para onde seguiam após um período na Ilhas dos Açores, duas orcas atacaram o barco, danificaram o leme, equipamento que dá direção à embarcação, e deixaram o casal à deriva, no meio do mar, em uma área de intenso tráfego de grandes navios.
Foram seis horas de aflição e angústia, até serem resgatados e rebocados para Cascais, onde se encontram nesse momento, agora tentando dar um jeito de navegar até um estaleiro, onde o barco possa ser retirado da água para reparos.
Felizmente, porém, nada aconteceu com o casal, a não ser o enorme susto e a interrupção prematura da viagem, como Paula Lamberti, de 48 anos, conta neste depoimento abaixo.
"Pancada brutal"
"Passava pouco mais da meia-noite quando eu troquei de turno com o Fernando, no comando do barco. Sempre fazemos isso quando navegamos à noite. Um descansa enquanto o outro navega.
Mas nem deu tempo de pegar no sono.
Assim que deitei na cama, nosso barco sofreu uma pancada brutal e estremeceu por inteiro - um barulho que eu nunca mais vou esquecer.
Foi assustador.
"O barco girava sozinho no mar"
Pulei da cama, corri para onde o Fernando estava, na mesa de navegação, e saímos em disparada da cabine - nosso barco girava sozinho e descontrolado no mar.
Eu tremia dos pés à cabeça e não tinha a menor ideia do que havia acontecido.
Mas o Fernando arriscou um palpite certeiro:
- Acho que orcas bateram no barco! - ele gritou, enquanto tentávamos subir a escadinha que leva ao convés, o mais rápido possível.
"Duas orcas rodeando o barco"
Quando saímos, o barco continuava girando, sendo misteriosamente empurrado por algo submerso.
O Strega, então, deu uma volta completa e parou.
Mas, como estava escuro, não dava para enxergar nada.
Fernando pegou uma lanterna e iluminou o mar.
Foi então que vimos duas orcas em volta do barco, subindo e descendo na água.
"Corremos um para cada lado"
De vez em quando, elas voltavam a se aproximar do barco e davam outras pancadas no casco, por sorte bem mais suaves.
Eu estava apavorada. E o meu marido, bastante assustado, porque não sabíamos se aquela primeira pancada, tão violenta que fez o nosso barco girar 360 graus, havia danificado o casco.
Corremos, então, um para cada lado.
O Fernando para o porão, ver se havia água entrando no barco.
Eu voltei para a cabine, para pegar o Chopinho e também uma mochila que chamamos de "bolsa de abandono", sempre pronta para o caso de termos que abandonar o barco, em alguma emergência.
"Uma boa e uma má notícia"
Meu marido voltou logo, com uma boa e uma má notícia.
A boa é que não havia água entrando no barco, sinal de que o casco havia aguentado a pancada.
Já a má era que os cabos de aço do leme haviam arrebentados e não tínhamos mais nenhum controle sobre o barco.
Estávamos à deriva, a mais de 50 quilômetros da costa, sem poder manobrar nem sair dali, e com as duas orcas ainda nadando ao redor do nosso veleiro.
"Riscos de sermos atropelados"
A aflição durou uns dez minutos, até que elas se desinteressaram pelo nosso barco e foram embora.
Foi quando Fernando pegou o rádio e pediu socorro — porque, até então, estávamos os dois tentando afugentar os dois animais.
Agora, o problema era que, embora não estivéssemos afundando, estávamos bem no meio de uma movimentada rota de navios que chegam e partem do porto de Lisboa. E havia o sério risco de sermos atropelados por eles. Até porque ainda era madrugada e estava tudo escuro.
Logo apareceu um barco de pesca, que ouviu o nosso pedido de ajuda. Mas ele era pequeno demais para rebocar o nosso veleiro.
O jeito foi esperar pela Marinha Portuguesa, que prometeu enviar um barco maior para nos socorrer.
Mas ele só chegou quando o dia já estava amanhecendo e tivemos que passar a noite inteira vigiando o mar, para ver se algum navio se aproximava — e rezando para ele conseguisse desviar a tempo.
"Apenas mais um caso"
Seis horas depois — e após o cabo do reboque ter arrebentado quatro vezes no caminho — finalmente chegamos em terra firme.
Respiramos aliviados, felizes por nada pior ter acontecido e reconfortados pela notícia de que não éramos os únicos que passaram pelo mesmo problema naquela região, nos últimos tempos.
Ao contrário, os ataques de orcas, que nós já sabíamos vagamente que vinham acontecendo na costa portuguesa (daí aquela rápida dedução do Fernando, quando fomos atingidos), estão cada vez mais frequentes no litoral de Portugal e da Espanha.
No mesmo local para onde nosso barco foi levado, havia outro veleiro também danificado pelas orcas, dias antes.
E, felizmente, também sem maiores consequências para os seus ocupantes, a não ser um medo sem tamanho.
"Brincam com os barcos"
O motivo dos ataques, os biólogos ainda não sabem.
Mas tudo indica que esse tipo de comportamento seja uma espécie de diversão das orcas com os barcos, já que elas não são baleias, como quase todo mundo pensa, e sim membros da família dos golfinhos, que são extremamente brincalhões.
O problema é que a brincadeira delas pode acabar em tragédia. Por sorte, não foi o nosso caso", diz a brasileira, aliviada.
Atacam a parte mais delicada
O aparecimento de orcas no mar de Portugal não é nenhum novo fenômeno.
Todos os anos, entre o final da primavera e o início do outono, as orcas se aproximam bastante da costa portuguesa e espanhola, em busca de cardumes de atum, um dos seus alimentos preferidos.
E ali ficam caçando e interagindo com os barcos, especialmente os filhotes, que são mais curiosos.
Aparentemente, as orcas mais jovens têm especial predileção pelos lemes dos barcos, já que eles se movimentam e atraem a atenção delas", analisa o espanhol Alfredo López, um especialista em comportamento de cetáceos — e foi justamente o leme que elas atacaram no barco brasileiro.
"O problema é que o leme é a parte mais vulnerável e importante para a navegação de qualquer barco. E o simples contato desse equipamento com um animal com a força das orcas quase sempre resulta em quebra, o que deixa os barcos em uma situação bastante perigosa", explica o especialista.
Baleias são risco ainda maior
Mas não só as orcas que costumam trazer problemas em alto mar aos barcos menores — sobretudo veleiros, que navegam sem grandes barulhos para afugentá-los.
A colisão acidental de veleiros com baleias, por exemplo, é algo bem mais comum do que parece.
E quando isso acontece, as consequências costumam ser bem piores do que um simples susto, como foi o caso do casal brasileiro.
Um dos casos mais famosos do gênero foi o dos ingleses Maralyn e Maurice Bailey, cujo veleiro foi atingido por uma baleia no meio do Oceano Pacífico, na década de 1970, e afundou em seguida, deixando o casal à deriva no mar, em dois minúsculos botes, sem água nem comida, por impressionantes 118 dias.
Até que, milagrosamente, os dois foram resgatados, quando há muito já eram dados como mortos,
Clique aqui para conhecer esta impressionante história, que, felizmente, terminou tão bem quanto a do casal brasileiro que viveu o seu pior susto no mar, na semana passada.
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