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Histórias do Mar

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O homem que prefere a prisão a revelar onde está o tesouro que achou no mar

Tommy Thompson - Reprodução
Tommy Thompson Imagem: Reprodução

Colunista de Nossa

25/12/2021 04h00

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O que você faria se achasse um tesouro no fundo do mar?

O americano Tommy Thompson escolheu ir para a prisão e ali permanece até hoje, seis anos depois, embora possa sair da cadeia a hora que quiser — basta revelar a localização do que o levou a ser preso: o tal tesouro que achou no fundo do mar.

Mas Thompson se recusa a fazer isso e segue preso nos Estados Unidos.

Preso até que revele

Segundo a justiça americana, Thompson, hoje com 69 anos, continuará preso até que resolva revelar onde escondeu o tesouro que achou dentro de um histórico barco afundado no mar.

Mas ele diz não ter como fazer isso, porque alega que também não sabe onde o tal tesouro — composto por cerca de 500 pequenas barras de ouro, moldadas em forma de moedas — está.

Sem deixar pistas

Thompson foi preso em 2015, em um hotel da Florida, sob o falso nome Steve.

Até então, vinha pagando todas as suas despesas em dinheiro vivo (inclusive o hotel, onde morava permanentemente em uma suíte) e só andava de ônibus e táxis, para não deixar pistas.

Foi um dos fugitivos mais inteligentes que já perseguimos", disse, na ocasião, a Polícia de Boca Raton, na Florida.

Indenização milionária

Uma vez preso, Thompson foi levado à justiça, onde se declarou culpado, mas apenas por ter faltado a uma audiência na Corte Federal americana, três anos antes, que julgaria uma ação impetrada contra ele por uma série de investidores particulares, que haviam financiado a tal busca pelo tesouro - e que nunca receberam a parte a que teriam direito.

Três anos depois, em 2018, a Corte decidiu que Thompson teria que pagar uma indenização de quase 20 milhões de dólares aos investidores, e, para isso, exigiu que ele revelasse o esconderijo do tal tesouro, sob pena de ser mantido preso até que isso acontecesse.

E foi o que aconteceu.

"Só está preso porque quer"

Desde então, Thompson se recusa a revelar onde as moedas estão, alegando que não tem mais acesso a elas.

Além de permanecer preso, ele foi condenado a pagar uma multa de 1 000 dólares por dia pela não revelação da localização do tesouro, o que faz com que sua dívida com o governo americano já passe dos dois milhões de dólares - além de permanecer preso até que isso aconteça.

O curioso é que Thompson pode se livrar da pena a hora que quiser: basta pagar a multa e revelar onde o tesouro está.

"Tommy Thompson só está preso porque quer", diz o advogado dos investidores que o processaram. "Se decidisse cooperar, pagaria a indenização devida e ainda ficaria com um bom dinheiro para viver o resto da vida. Mas ele prefere ficar preso a revelar onde as moedas estão".

Naufrágio milionário

Pintura do SS Central America - Reprodução - Reprodução
Pintura do SS Central America
Imagem: Reprodução

A peculiar história de Thompson, um ex-mergulhador e pesquisador marinho, começou 33 anos atrás, em 1988, quando, após uma longa busca, encontrou os restos do navio S.S. Central America, uma embarcação americana que afundou em 1857, na costa da Carolina do Sul, vítima de um furacão.

Conhecido como "Navio do Ouro", porque levava uma fortuna em ouro extraída dos garimpos da Califórnia, o Central America era considerado uma espécie de Santo Graal dos naufrágios nos Estados Unidos, justamente pela quantidade de riquezas que transportava.

Na época, Thompson havia angariado cerca de 12 milhões de dólares de investidores privados, que foram usados para encontrar o navio naufragado, com a promessa de devolver o dinheiro com muitos dividendos, quando o tesouro fosse resgatado.
Mas isso nunca aconteceu.

Prefere ficar preso

Embora tenha ficado milionário só com a quantidade de ouro que retirou do navio afundado, Thompson jamais pagou um centavo aos financiadores do projeto e fugiu.

Com isso, se transformou em um dos mais peculiares presos dos Estados Unidos, porque sua liberdade só depende da vontade dele próprio.

Mas ele se recusa a sair da cadeia, se tiver que revelar o que a justiça quer.

Nova audiência, no mês que vem

No ano passado, durante o surto de covid-19 nos Estados Unidos, os advogados de Thompson entraram com um pedido de prisão domiciliar para o ex-mergulhador, alegando sua idade já avançada.

Mas a justiça americana negou o pedido, por entender que ele pode fugir de novo, recuperar o ouro que se supõe está escondido em algum lugar e nunca mais ser pego.

O juiz, no entanto, resolveu dar outra chance a Thompson, marcando uma nova audiência para discutir o caso, no próximo dia 7 de janeiro.

Mas, a exemplo das audiências anteriores, não deve dar em nada, porque Thompson garante que já disse tudo o que sabe sobre o paradeiro das moedas.

Ou seja, que ele também não sabe onde elas estão.

Só que ninguém acredita nisso.

Preso por calote

O curioso, no caso de Thompson, é que ele não está preso por ter encontrado algo valioso no fundo do mar, mas sim por ter dado um simples calote nos seus investidores.

A lei americana protege os caçadores de naufrágios, desde que todos os exorbitantes impostos correspondentes aos bens encontrados sejam pagos.

Mesmo assim, em alguns casos, os afortunados pela sorte de achar um naufrágio realmente valioso, como era o S.S. Central America, se tornam milionários da noite para o dia, ainda que ao custo de muitos anos de busca.

Tesouro que foi parar num museu

Ouro do SS Central America  - Reprodução - Reprodução
Ouro do SS Central America
Imagem: Reprodução

O caso mais famoso do gênero foi o do também americano Mel Fisher, que passou incríveis 16 anos procurando os restos do galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, no extremo sul da costa da Florida, sempre repetindo, a cada novo dia, a mesma frase: "É hoje!"

Até que, um dia, ele acertou. A história de perseverança rendeu, além de uma fortuna avaliada em 400 milhões de dólares ao seu executor, um dos mais famosos museus dedicados a apenas um naufrágio no mundo, em Key West, na Florida.

Já Tommy Thompson não quer saber de fama, muito menos em expor seu valioso achado em um museu. Tudo o que ele quer é não ter que revelar onde o tesouro está.