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Vivo ou morto? Francês de 75 anos que cruzava oceano a remo vira mistério
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A vida do francês Jean-Jacques Savin, de 75 anos, sempre foi repleta de desafios e conquistas, às vezes, consideradas impossíveis.
Como quando se tornou o primeiro homem a atravessar o oceano Atlântico totalmente à deriva, dentro de uma espécie de barril, quando já somava 72 anos de idade.
Mas, agora, neste exato instante, ele pode estar enfrentando o maior desafio de sua vida: permanecer vivo, em algum ponto do próprio Atlântico, caso não tenha ainda sucumbido, como chegou a ser anunciado e, depois, desmentido — situação que pode acrescentar um novo capítulo à sua vida, sempre repleta de lances espetaculares.
Para entender a história
Após já ter cruzado o Atlântico em cinco oportunidades, cada uma delas com um tipo de barco diferente (a última, com o tal barril flutuante), Savin decidiu que comemoraria o seu 75º aniversário, no último dia 14 de janeiro, fazendo o que mais gosta: navegando sozinho no oceano.
Para isso, construiu um barco a remo, de pouco mais de nove metros de comprimento, e partiu com ele da cidade portuguesa de Sagres, no primeiro dia do ano, com o objetivo de chegar remando ao Caribe, do outro lado do oceano.
Savin queria se tornar, também, o homem mais velho a fazer tal travessia.
Só que, na madrugada da última quinta-feira, quando remava a cerca de 600 quilômetros da ilha portuguesa de São Miguel, nos Açores, algo aconteceu e levou Savin a acionar seus dois equipamentos eletrônicos que emitem pedidos de socorro.
O que aconteceu?
Não se sabe.
Muito menos o paradeiro do francês, que, depois de ter sido dado como morto, agora é classificado como "desaparecido" pela Marinha Portuguesa - embora, na prática, isso possa significar a mesma coisa, para aflição e angústia da família de Jean-Jacques Savin.
Morto dentro barco?
Quando a Marinha Portuguesa recebeu o pedido de socorro, vindo do barco do francês, imediatamente acionou as embarcações que estavam na região.
Uma delas localizou o barco, mas ele estava emborcado, ou seja, de cabeça para baixo, e comunicou que o corpo do francês estava dentro dele, morto.
A filha de Savin foi avisada da tragédia e logo as redes sociais anunciaram a morte do aventureiro, que virou notícia em boa parte do mundo.
Mas, aparentemente, não era verdade.
Pelo menos oficialmente, Savin ainda não foi dado como morto. Porque ninguém achou o seu corpo.
Agora, "desaparecido"
Em um comunicado oficial na noite de ontem, a Marinha Portuguesa reclassificou o francês como "desaparecido", depois que a corveta António Enes, destacada pela corporação para ir ao local onde o barco foi encontrado, constatou, ao recolher o barco, que corpo de Savin "não estava a bordo".
Ou seja, não é possível afirmar que Savin tenha morrido, embora, dadas as circunstâncias do mar agitado na região nos últimos dias, isso seja provável.
O que pode ter acontecido?
O comunicado levou a família do francês a rever a informação sobre a morte de Savin nas redes sociais, e encheu de esperanças os seus admiradores, embora, até agora, as buscas no mar que estão sendo feitas pela Marinha Portuguesa não tenham encontrado nenhum sinal do remador.
Apenas um saco impermeável, contendo alguns pertences e documentos do navegador, do tipo usado para situações de abandono da embarcação, foi encontrado por um dos barcos que participam das buscas.
Mas isso não quer dizer que Savin tenha abandonado o barco capotado, em busca de tentar chegar à alguma ilha da região por seus próprios meios, mas sim que, talvez, ele tenha se abrigado sobre o casco emborcado, à espera do resgate, mas, por alguma razão, não conseguiu se manter ali.
O mar violento dos últimos dias - o mesmo que, talvez, tenha gerado o próprio pedido de socorro - pode ter sido o motivo disso.
Savin ainda pode estar vivo, tentando se manter à tona, em algum ponto do oceano. Mas, quatro dias após o acidente, as chances de isso acontecer são pequenas.
Mesmo assim, segundo a Marinha Portuguesa, as buscas continuam.
Teria ficado no casco emborcado?
Caso Savin tenha sobrevivido ao capotamento do seu barco (o que é bem possível, porque esse tipo de barco é feito para não afundar - como, de fato, não afundou -, embora ele também devesse ter desvirado sozinho, o que estranhamente não aconteceu), o mais provável é que o francês tenha buscado abrigo sobre o fundo virado do barco, como já fizeram outros remadores no passado.
Nem todos, porém, foram bem-sucedidos.
Um caso parecido
Dois anos atrás, um remador chinês, que tentava cruzar o Oceano Pacífico com um barco semelhante ao do francês, foi encontrado morto tempos depois, perto da própria embarcação, o que levou a polícia a concluir que uma das hipóteses para a sua morte tenha sido o descaso da Guarda Costeira americana, que se limitou a sobrevoar o casco emborcado e não mandou um mergulhador checar o interior do barco, onde o chinês poderia estar abrigado, à espera de um resgate (clique aqui para conhecer este inexplicável caso).
Confusão na mídia
No caso de Savin, segundo os tripulantes do primeiro navio a chegar ao local do desastre, um mergulhador teria checado o interior do barco e constatado que o corpo (morto) do francês estava dentro dele - o que gerou a disseminação da informação sobre a sua morte.
Mas isso foi contestado pela Marinha Portuguesa no comunicado de ontem, o que levou a família do francês a corrigir a notificação sobre a sua morte nas redes sociais.
A confusão levou a mídia a publicar duas informações contraditórias, ao mesmo tempo: a de que Savin havia sido encontrado morto dentro do barco, e a de que estava apenas "desaparecido".
E segue a dúvida: o idoso aventureiro francês está morto ou vivo?
Não foi sua pior aventura
O lado irônico da tragédia é que, perto do que Jean-Jacques Savin já fez na vida, a travessia do Atlântico com um barco a remo não era, nem de longe, a sua mais ousada aventura - mesmo já tendo 75 anos de idade.
Três anos atrás, quando já somava 72 anos (aniversário que também comemorou sozinho, no meio do oceano), Savin protagonizou aquela é considerada a mais ousada travessia já feita do Atlântico, em todos os tempos.
A bordo de uma espécie de barril feito de fibra de vidro, sem nenhum tipo de motor ou meio de propulsão, ele cruzou de um lado a outro do Atlântico totalmente à deriva, sendo levado apenas pelos ventos e correntes marítimas, feito uma rolha.
Tensão e sofrimento
A inédita travessia, ainda não repetida por outra pessoa, durou 122 dias, custou-lhe quatro quilos a menos e gerou alguns momentos de tensão e sofrimento ao francês (clique aqui para conhecê-la em detalhes).
Mas, contrariando o bom-senso, aquela travessia terminou bem, ao contrário do que, agora, parece ter acontecido com o audacioso septuagenário francês.
Que ninguém sabe se morto ou ainda vivo?
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