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Tempestade traz de volta à superfície navio afundado há quase 50 anos
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Na semana passada, uma forte tempestade no meio do Atlântico Sul gerou grandes ondas que atingiram em cheio a costa sudoeste do litoral da África do Sul e revelaram algo surpreendente: um enorme pedaço de um antigo navio que havia afundado 44 anos foi arrancado do fundo do mar, trazido de volta à superfície e arremessado na praia, para espanto dos moradores da região.
"Nunca imaginei que o mar tivesse tamanha força", disse o gerente daquele pedaço da costa do governo da Cidade do Cabo, Gregg Oelofse. "Remover da areia uma estrutura de aço e lançá-la na praia, como se fosse um simples pedaço de madeira, é algo realmente impressionante".
Virou atração turística
O pedaço do petroleiro que foi arrancado do fundo do mar, arrastado por mais de 50 metros e lançado na praia, mede 25 metros de largura por quatro de altura e faz parte do casco do ex-petroleiro grego Antipolis, que afundou ali, durante outra tempestade, em julho de 1977.
As ondas, que chegaram a sete metros de altura durante a tormenta, desencavaram partes do velho petroleiro do fundo do mar, onde ele jazia semienterrado, e trouxeram novamente à tona um navio que havia afundado quase meio século atrás.
Imediatamente, o enorme pedaço do velho navio enferrujado virou atração turística extra para os viajantes da pitoresca Rota dos 12 Apóstolos (o nome das estrada é uma alusão às formações rochosas da região, que lembram estátuas), que avança beirando o mar, na região da Cidade do Cabo, a mais visitada da África do Sul.
Para receio das autoridades sul-africanas, que temem que acidentes aconteçam nos metais pontiagudos do casco apodrecido, os viajantes param seus carros e vão até a beira-mar, só para tocar o aço carcomido do navio e fazer selfies no que, até então, estava debaixo d´água.
Mesmo assim, não há planos de remover os destroços do local e devolvê-los ao mar, porque custaria caro demais.
Tampouco haveria garantia de que o mar não tornasse a arremessá-los na praia, ainda mais agora, que já estão desenterrados.
Como o navio foi parar ali?
O ex-petroleiro Antipolis, construído em 1959, afundou junto à costa sul-africana quando, juntamente com outro navio, o cargueiro Romelia, estava sendo puxado por um rebocador japonês, que levaria as duas embarcações para um desmanche, na Ásia.
No dia, o tempo também estava péssimo na região e o comandante do rebocador japonês fora alertado de que, por isso, deveria evitar a aproximação da Baía da Montanha da Mesa, bem diante da Cidade do Cabo.
Mas, por não dominar bem o idioma inglês, o comandante japonês entendeu justamente o oposto, e entrou na baía, que era açoitada por fortes ventos.
A ventania fez com que o rebocador perdesse o controle dos dois navios que conduzia e ambos se soltaram, após terem seus cabos rompidos.
Só rebocador não afundou naquela ocasião.
"Fantasma que veio do mar"
Tanto o Antipolis quanto o Romelia, foram parar nas pedras, mas em áreas diferentes da costa.
O Romelia, nas imediações da Ilha Robben (mundialmente famosa por ter servido de prisão para o ex-líder sul-africano Nelson Mandela); e o Antipolis, no litoral de Oudekraal, uma reserva natural nos arredores da Cidade do Cabo.
Ali, no passado, ele eventualmente ficava com algumas pontas à mostra, na superfície, nas marés mais baixas.
Mas nunca totalmente fora d´água, como aconteceu na semana passada.
Foi como se um fantasma surgisse do mar", comparou um turista, ao se surpreender com os destroços do navio totalmente no seco.
Outro caso curioso
Apesar da cena inusitada do navio afundado que voltou à superfície por conta apenas da força da natureza, não foi a primeira vez que isso aconteceu nas águas do planeta.
Ao contrário, fortes tempestades costumam causar grandes impactos também no que está submerso, e, não raro, fazem aflorar restos de velhos naufrágios, após remexerem o leito marinho.
Um dos casos mais recentes — e curiosos — do gênero, aconteceu pouco mais de um ano atrás, em um lago, e não no mar: o gigantesco Lago de Michigan, no norte do Estados Unidos, que costuma ser vítima de violentas tempestades de inverno.
Após uma delas, um morador da região caminhava pela margem do lago quando deu de cara com o casco de um grande barco semienterrado na areia, remexida pela tempestade.
Como ele nunca havia visto tais escombros antes, entrou em contato, pelo telefone, com um museu da região, que imediatamente deduziu que poderia se tratar de uma velha escuna, que havia desaparecido na região, mais de um século antes.
Mas, como o mundo estava no auge da pandemia da covid 19 — e, por isso, os técnicos do museu não podiam ir ao local —, o jeito foi instruir remotamente o morador sobre como fazer, ele mesmo, a identificação do barco.
E rapidamente, antes que a areia cobrisse tudo novamente — o que, de fato, ocorreu três dias depois, como pode ser conferido clicando aqui.
Também aqui no Brasil
Também no Brasil, restos de antigos naufrágios que aparecem e desaparecem ao sabor das marés são relativamente comuns.
Um dos mais frequentes são os restos do ex-navio de passeio Recreio, que encalhou na praia de Santos, no litoral de São Paulo, em 1971, e até hoje, 51 anos depois, de tempos em tempos, ressurgem na beira-mar, trazendo de volta as lembranças de um caso repleto de falhas e erros, que culminaram com a perda total do barco — clique aqui para conhecer esta história.
Já o caso do navio sul-africano da semana passada foi bem mais surpreendente.
Em vez de apenas surgir enterrado na areia, como geralmente acontece, ele foi arrancado dela e lançado na praia.
Virou uma espécie de monumento à força da natureza.
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