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Inglês quer cruzar o Atlântico com barco de apenas 1 metro de comprimento
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Antes de ler este texto, tente visualizar o espaço de 1 metro de comprimento. Sim, é pouco.
Pouco mais do que espaço ocupado por uma cadeira, e bem menos do que os seus dois braços esticados.
Pois é com um barquinho desse tamanho — o menor já construído no mundo — que o navegador e aventureiro inglês Andrew Bedwell pretende fazer algo improvável: atravessar o Atlântico e bater o recorde da travessia de um oceano com o menor barco da História.
Para isso, ele se prepara para passar cerca de dois meses confinado no espaço pra lá de acanhado do seu micro barco, sem poder deitar (seu plano é dormir sentado, mesma posição em que passará os dias inteiros) nem dar um simples passo — já que, se fizer isso, cairá no mar.
Loucura? Masoquismo? Ou simples falta de juízo? Em parte, até o próprio inglês concorda com tudo isso.
Não será nada fácil
"Não me iludo e sei que não será nada fácil. Mais ou menos como passar dois meses dentro de uma lixeira, em uma montanha-russa nas ondas do mar", raciocina o inglês.
Bedwell, no entanto, está bastante confiante de que será bem-sucedido em sua temerária empreitada.
"Meu barco é ultracompacto, mas seguro", garante o inglês, que tem 48 anos, é casado e pai de uma filha.
Meu barco tem os principais equipamentos de navegação e segurança de qualquer veleiro, só que em menos espaço. Bem menos...", diz, orgulhoso.
Barco porta-luvas
Foi o próprio Bedwell que construiu esta espécie de porta-luvas que flutua, cujo tamanho está mais para um barquinho de brinquedo — mas que ele garante ser capaz de navegar de verdade, graças a uma pequena vela em forma de pipa.
Levou três anos construindo o engenho, mas diz que já está quase tudo pronto para colocá-lo no mar, e tentar bater o recorde da travessia do oceano Atlântico com o menor barco de todos os tempos.
Tentará no ano que vem
Seu plano é fazer isso em maio do ano que vem, quando tentará cruzar os 3.500 quilômetros de mar que separam a costa leste do Canadá da sua terra natal, a Cornualha, na Grã-Bretanha, percurso que pretende vencer em cerca de dois meses, a uma velocidade média de menos de 5 km/h.
"Não dá para navegar mais rápido, porque o tamanho da vela é limitado pelo tamanho do próprio barco", explica.
Durante toda a viagem, Bedwell ficará sentado no interior do seu micro barco, apenas a cabeça para o lado de fora.
Se eu estivesse dentro de um foguete, teria mais espaço", reconhece.
E a água e comida?
A falta de espaço para levar água e comida suficientes para a longa travessia foi o maior desafio de Bedwell, no projeto do seu barco-cápsula.
O primeiro problema ele resolveu instalando um dessalinizador portátil, equipamento capaz de transformar água do mar em potável, algo relativamente fácil — bem como um micro painel solar para gerar energia para os equipamentos de navegação.
Já o segundo obstáculo, a falta de lugar para estocar comida a bordo, foi bem mais difícil de resolver.
Sem banheiro
A solução foi preencher todas as paredes internas, bem como a quilha do barco (a parte do casco que fica submersa, a fim de dar estabilidade e contrabalançar a força do vento na vela), com pacotinhos de comida em pó desidratada, que ele diz que sua mulher irá preparar para a longa jornada.
"Não será uma comida muito saborosa, eu sei, mas é a única que cabe no casco", explica Bedwell, que, no entanto, vê outra vantagem no limitado cardápio: a baixa atividade intestinal que seu organismo terá ao longo da viagem, uma vez que seria impossível instalar um banheiro em um barco com praticamente o tamanho de um simples vaso sanitário.
Meu banheiro será o mar", diz o inglês.
"Fazer algo incrível até os 50 anos"
A busca pelo título de navegador do "menor barco a cruzar um oceano", sonhada por Bedwell, faz parte do seu projeto de vida de "fazer algo realmente incrível até os 50 anos de idade".
Até aqui, ele já atravessou o Atlântico com um veleiro de pouco mais de seis metros de comprimento, e navegou até o Ártico com um barco pouco menor do que isso — ainda assim, verdadeiros transatlânticos, perto do que pretende fazer agora.
Para mim, vem ficando cada vez mais importante fazer grandes travessias com barcos cada vez menores. E nenhum será menor do que esse", garante.
De onde veio essa ideia?
O projeto de Bedwell de cruzar um oceano dentro de uma espécie de caixa de sapatos flutuante veio de um livro que ele leu, anos atrás, escrito pelo atual recordista da modalidade, o americano Hugo Vihlen, hoje com 90 anos de idade, que, nos anos de 1980, atravessou o Atlântico com um micro veleiro de pouco mais de um metro e meio de comprimento.
Só que Bedwell decidiu fazer algo ainda mais impressionante e construiu o seu barco com meio metro a menos que o do americano.
Homenagem ao "Velejador Maluco"
Também serviu de inspiração para ele as ousadas façanhas de outro inglês meio desmiolado, chamado Tom McNally (não por acaso apelidado pelos ingleses de Crazy Sailor, ou "Velejador Maluco"), ferrenho adversário de Vihlen no passado, de quem Bedwell herdou algumas soluções que aplicou no projeto do seu barco-anão.
Além de tentar se tornar recordista desse tipo bizarro de travessia, o objetivo de Bedwell é, também, homenagear McNally, morto de câncer, em 2017, trazendo o recorde de volta à Inglaterra.
Uma disputa insana
Nas décadas de 1980 e 1990, Hugo Vihlen e Tom McNally protagonizaram uma insana disputa, para ver quem conseguia atravessar o Atlântico com o menor barco possível.
Na ânsia de derrotar o adversário, a cada nova investida, ambos passaram a cortar seus barcos centímetro a centímetro.
Chegaram ao ponto de serem confundidos com náufragos no meio do oceano, e impedidos, pela Guarda Costeira, de partir dos Estados Unidos com barcos tão pequenos — clique aqui para ler esta intensa e interessante história.
No final, o americano levou a melhor e ficou com o recorde.
Mas, talvez, apenas por que McNally tenha morrido antes de fazer uma nova tentativa.
E é isso que Andrew Bedwell quer, agora, mudar nessa história.
Só que não há muito espaço nem para euforia no seu minúsculo barco.
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