Adolescente atravessa o Atlântico sozinho em um barco. E diz que foi fácil

O americano Cal Currier tem apenas 16 anos de idade, mas já fez algo que 99,999999% da população mundial jamais fará: atravessou o oceano Atlântico sozinho, com um barco.

E garante que foi fácil.

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Ele partiu da costa de Massachusetts, nos Estados Unidos, no dia 27 do mês passado, e 18 dias depois chegou às ilhas dos Açores, já do outro lado do oceano, garantindo que não passou nenhum susto, medo ou problema na condução do barco, durante a longa jornada.

"Eu achava que levaria 25 dias, mas acabei chegando uma semana antes do previsto. Foi uma travessia bem tranquila e não sei por que tanta gente me procurou na chegada", disse o adolescente, sem entender bem por que todos estavam tão surpresos com o seu feito.

Mas havia um bom motivo para aquela surpresa coletiva, além da pouca idade do jovem americano: ele havia aprendido a velejar apenas seis meses antes de decidir cruzar o oceano, sozinho, com um veleiro.

Não contou aos pais

Até o final do ano passado, Cal era apenas filho e neto de velejadores amadores e nunca se interessou muito pelo esporte.

Mas, em janeiro desse ano, ele decidiu aprender a velejar e se matriculou, por conta própria, em uma escola de vela, em San Diego, na Califórnia, onde mora, já pensando longe - mas sem que seus pais soubessem dos seus planos de atravessar o Atlântico.

"Cruzar o oceano sempre foi o meu objetivo. Mas, no começo, eu não disse isso para ninguém. Só quando já havia aprendido a velejar é que contei aos meus pais. E eles me apoiaram", diz Cal.

Meu pai chegou a se oferecer para ir comigo, mas eu recusei".

Barco de quase meio século atrás

Além de não saber navegar, quando pôs na cabeça que cruzaria o Atlântico velejando, Cal não tinha sequer um barco para isso.

Decidiu, então, juntar todas as economias que tinha e fazer bicos em trabalhos temporários, para tentar comprar um barco usado.

Meses depois, tudo o que conseguiu angariar só deu para arrematar um veleirinho usado, de nove metros de comprimento, que fora construído quase meio século atrás, mas por um especialista no assunto: o construtor americano Sandy Van Zandt, de 90 anos de idade, que fizera aquele barco para o seu próprio uso, sonhando, um dia, em sair velejando pelo mundo.

Mas a idade avançada e a pandemia da Covid o fizeram mudar de ideia, e vender o barco para aquele garoto mais que determinado.

Achava que ele não iria longe

"Fiquei impressionando como ele aprendia rápido e decidi que, já que não poderia fazer a viagem dos meus sonhos com aquele barco, ele a faria por mim", contou Van Zandt, ao receber a notícia de que Cal já estava do outro lado do oceano.

"No começo, eu achava que ele iria desistir, ou apenas ir até alguma ilha e voltar. Mas o garoto é mesmo talentoso e corajoso".

A amizade que se formou entre Cal e Van Zandt foi a união do navegador mais jovem com o construtor de barcos mais antigo dos Estados Unidos.

Ovos não estragaram

Durante a travessia, Cal se alimentou apenas com comida desidratada, além de batatas, macarrão e ovos.

"A viagem foi tão rápida que os ovos nem estragaram", comentou, bem-humorado, ao desembarcar nos Açores, onde descansou por alguns dias, antes de seguir viagem, para Portugal, aonde chegou na manhã de ontem (clique aqui para ver onde ele está neste momento, em tempo real).

"A viagem foi bem tranquila, o tempo colaborou bastante, não enfrentei nenhuma tempestade e teve só uma noite de chuva. Não sei por que o pessoal ficou tão impressionado", comentou o garoto ao ligar para os pais no desembarque.

"Foi um ótimo exercício para a mente ficar sozinho no mar por tanto tempo, só eu e a natureza", disse o garoto.

Uma experiência incrível", resumiu.

Proibida de partir

Embora tenha se tornado um dos mais jovens navegadores da história a vencer um oceano navegando em solitário, Cal Currier não é primeiro adolescente a fazer longas jornadas no mar sozinho com um barco à vela.

Outros já empreenderam aventuras até mais audaciosas, inclusive meninas, o que as tornou ainda mais célebres.

A mais famosa foi a holandesa, nascida na Nova Zelândia, Laura Dekker, que, em 2010, partiu sozinha com um veleiro para dar a volta ao mundo navegando, quando ainda somava apenas 14 anos de idade.

Era tão jovem que o governo holandês tentou impedir que ela partisse, alegando que Laura não poderia abandonar a escola, já que o ensino na Holanda é obrigatório — clique aqui para ler esta história, que deu o que falar na época.

Para cruzar o Atlântico, Cal Currier também saiu temporariamente da escola, dizendo que retornaria. Mas ninguém mais acredita nisso, após a experiência positiva da sua primeira travessia.