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Feliz da vida, capixaba aposentado está dando a volta ao mundo com um barco
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Desde menino, quando brincava com barquinhos, o capixaba Renato Oliveira pôs na cabeça que, um dia, iria comprar um veleiro de verdade e sair navegando pelo mundo.
Durante décadas, enquanto ganhava a vida como membro da Aeronáutica e piloto de aviões particulares, alimentou o sonho, planejando mentalmente como seria aquela viagem.
Até que, cinco anos atrás, logo após completar 50 anos e se aposentar, ele decidiu que era hora de tornar o velho desejo uma realidade.
Comprou, então, um veleiro usado e partiu, com o objetivo de a volta ao mundo velejando - o que vem fazendo há quatro anos, embora a pandemia tenha prejudicado um pouco os seus planos.
Não fosse a crise desencadeada pela covid-19, Renato já teria terminado a viagem, que planejara durar quatro anos.
Mas, com o fechamento dos portos pela pandemia, ele precisou deixar o barco parado no Panamá por meses a fio, e só retomou a viagem um ano e meio depois, quando, finalmente, pode retomar o rumo da Polinésia Francesa, lugar que sempre quis conhecer.
"Foi maravilhoso visitar as ilhas do Pacífico, embora a maioria delas ainda esteja fechada ao turismo. Então, o jeito foi parar o barco apenas onde era permitido e ficar mais tempo que o previsto nelas. Mas estou curtindo a viagem do mesmo jeito", diz Renato, que não tem pressa nenhuma em completar a viagem.
Muito pelo contrário.
Do outro lado do mundo
Neste instante, o ex-aviador capixaba está do outro lado do mundo, na Austrália (clique aqui para ver sua localização, em tempo real), onde chegou um mês atrás, esperando o melhor momento para seguir viagem - agora rumo à Indonésia.
Depois, ele pretende visitar algumas ilhas isoladas do oceano Índico, como Christmas, Coco, Mauricio e Reunião, pouco visitadas pelos turistas convencionais.
"Esta é outra das vantagens de viajar com um barco: você vai a lugares onde os turistas normalmente não vão", diz Renato, que, a caminho da Austrália, chegou a passar alguns dias ancorado na deserta ilha Monuriki, em Fiji, onde foi rodado o filme O Náufrago, com Tom Hanks - aquele da bola-amigo "Wilson", que o capixaba gaiatamente copiou nas fotos que fez.
No ritmo da natureza
O retorno dele ao Brasil está previsto para "algum momento do ano que vem", sem muita precisão.
Não tenho pressa em chegar", diz o aposentado. "Estou fazendo a viagem que sempre quis fazer, no ritmo que a natureza e a minha vontade permitem. Quanto mais demorar, melhor será.
"Rolê pelo mundo"
"Estou dando um rolê pelo mundo", resume o capixaba, em suas redes sociais, onde, vira e mexe, publica vídeos inspiradores.
"Estou conhecendo novas terras, novos povos, novas culturas, e fazendo, cada vez mais, novos amigos. Muitos amigos", diz, feliz da vida.
"Quem viaja pelo mundo com um barco, acaba sendo abraçado por uma espécie de nação, os chamados 'Nômades do Mar', que formam uma comunidade mundial só de gente legal", garante o brasileiro. "Fui adotado por eles", brinca.
"Todo mundo ajuda"
Até aqui, em todos os lugares por onde passou, Renato diz ter sido muito bem recebido. Bem mais do que esperava.
"Todo mundo quer ajudar quem chega pelo mar", diz. "Não é o que acontece com quem chega de avião, fica uma semana e vai embora. Esse é apenas um turista; não alguém que veio de longe e passou muitos dias no mar, até chegar ali. É diferente", explica Renato, que também garante que o fato de ser brasileiro ajuda muito nessa receptividade amistosa.
"O brasileiro é tido mundialmente como um povo alegre, divertido e, por isso, bem-vindo. Tenho sentido isso em todos os cantos. Quando o pessoal vê a bandeirinha do Brasil no barco, se aproximam, oferecem ajuda e puxam papo. É mais um amigo que surge".
Já perdi as contas de quantas pessoas bacanas conheci nessa viagem.
Melhor do que imaginava
"Apesar dos inconvenientes causados pela pandemia, a viagem está sendo muito melhor do que eu imaginava. E bem mais simples e tranquila também", garante Renato.
Até agora, ele não teve nenhum problema com o barco e só enfrentou uma única tempestade, no trecho ente a Polinésia Francesa e as Ilhas Fiji.
"O vento era forte e as ondas, altas. Mas foi só aumentar a cautela e esperar que tudo passasse", lembra o brasileiro, que, desde que retomou a travessia, no Panamá, um ano atrás, está tendo como companheiro de viagem o amigo Fernando Baldini, que é chef de cozinha.
Além de tudo, estou comendo bem pra caramba.
2.000 dólares por mês
Para custear a viagem, Renato usa o dinheiro que recebe da aposentadoria, acrescido de algumas reservas, para despesas extras com o barco.
"Dar a volta ao mundo navegando é ficar consertando o barco nos lugares mais paradisíacos do planeta", brinca, numa referência à manutenção constante que um veleiro exige.
Na média, ele tem gasto cerca de 2.000 dólares por mês (cerca de R$ 11 000), com alimentação, combustível, consertos e pagamento de diárias nas marinas onde deixa o barco, enquanto passeia em terra firme.
Daria para gastar menos, mas eu teria que economizar nos passeios, na diversão e na cerveja, e isso tiraria parte do prazer da própria viagem.
Como é o barco dele?
O veleiro do capixaba, batizado Free Wind ("Vento Livre", em português), tem pouco mais de 11 metros de comprimento e cabine que imita uma pequena casa, com dois quartos - um deles, suíte - sala, cozinha e banheiro.
Foi construído em 2005, por um dedicado engenheiro gaúcho, que também sonhava em dar a volta ao mundo, navegando.
Mas a morte abrupta da esposa - e dele próprio, mais tarde - fizeram com que o barco fosse vendido para Renato, que agora está, de certa, também realizando o sonho do construtor do barco, que acabou virando seu amigo.
"Ele não conseguiu dar a volta ao mundo, mas o barco que construiu, está. Estou fazendo a viagem que ele não pode fazer", diz Renato, que vê nisso uma forma de homenagem.
Mais fácil do que parece
"A verdade é que dar a volta ao mundo navegando não tem grandes mistérios, e é bem mais simples do que parece. O que todo mundo descobre é que é uma travessia perfeitamente possível, para pessoas de qualquer idade", diz Renato, que tem 56 anos e dois netos, e já sabe o que fará quando terminar a viagem:
"Vou dar outra volta ao mundo, parando nos lugares onde a pandemia não deixou eu visitar".
E finaliza, com o mantra que não se cansa de repetir:
É preciso aproveitar a vida. Ela é curta demais para ser pequena.
Volta ao mundo aos 81 anos de idade
Quando retornar à Vitória, de onde partiu em 2018, o capixaba Renato Oliveira não será o único velejador com idade madura a chegar de uma navegação de volta ao mundo já pensando em partir de novo.
Ao contrário, a maioria dos que fazem esta viagem a repetem, a despeito do que diz o calendário.
O caso mais emblemático é o do australiano Bill Hatfield, que, dois anos atrás, contornou todo o planeta velejando sozinho, sem parar em lugar algum e pela pior rota possível, quando já somava 81 anos de idade - clique aqui para conhecer a impressionante história do homem mais velho do mundo a dar a volta ao mundo em solitário com um barco.
E ele, tal qual o capixaba Renato, também já planeja partir de novo.
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