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Maior iceberg do mundo avança no Atlântico Sul e põe a navegação em alerta
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Em maio do ano passado, um colossal bloco de gelo se desprendeu do continente antártico, saiu flutuando e deu origem ao então maior iceberg do planeta, o A-76, com 4.300 km², tamanho equivalente a três vezes a cidade de São Paulo.
Um mês depois, forças da natureza se encarregaram de dividir aquele fenomenal maciço de gelo em três partes, gerando assim três novos icebergs - menores que o original, naturalmente, mas ainda assim gigantescos.
E o maior deles passou a ser o "novo" maior iceberg do mundo: o A-76A, como foi batizado pelos cientistas (o nome dado aos icebergs antárticos provém do quadrante de sua origem no Continente Gelado).
Já avançou 2.000 km
Desde então, os avanços e a acelerada movimentação do maior bloco de gelo flutuante da Terra passaram a ser monitorados com atenção pelos pesquisadores.
E o que eles têm testemunhado é surpreendente: em menos de três meses, o A-76A avançou nada menos que 500 quilômetros, ao sabor apenas dos ventos e das correntes marítimas antárticas.
Hoje, 18 meses após de ter sido gerado a partir do desmembramento do iceberg-mãe, o A-76A já está a mais de 2 000 quilômetros de distância dos outros dois blocos-irmãos, e rumando rapidamente em um sentido diferente dos demais.
Não diminuiu de tamanho
Mas isso está longe de preocupar os cientistas, porque o A-76A tomou o rumo habitual dos icebergs que costumeiramente se formam na Antártica.
Após se separar daquele maciço bloco de gelo, o A-76A penetrou no Estreito de Drake, uma turbulenta faixa de mar que separa a ponta sul da América do Sul da Península Antártica, responsável por escoar uma das maiores massas de água do planeta, com vazão estimada entre 95 e 150 milhões de metros cúbicos por segundo.
E ali, agora, ele avança, rumo a águas mais quente (ou menos frias...) do que as que banham a Antártica, o que provocará o seu derretimento gradual - que, no entanto, para surpresa dos estudiosos, ainda não começou.
18 meses após de ter sido gerado, o maior iceberg ainda não diminuiu de tamanho. E isso também não deixa de ser surpreendente.
Não se sabe quando irá derreter
O A-76A, que tem o formato de um retângulo, com o topo totalmente plano, continua com os mesmos impressionantes 135 quilômetros de extensão por 26 quilômetros de largura (uma área do tamanho de duas vezes Londres, por exemplo) que tinha em junho do ano passado, quando foi medido pela primeira vez, pelo órgão americano de monitoramento de icebergs, o U.S. National Ice Center.
Mas isso, tranquilizam os cientistas, deve mudar em breve, porque ao penetrarem no Estreito de Drake, os icebergs são inevitavelmente levados para leste, pela vigorosa Corrente Circumpolar Antártica, e, em seguida, empurrados na direção norte, onde a temperatura do mar é bem mais amena, o que provoca o seu derretimento de forma acelerada.
Ou seja, o maior iceberg do mundo está condenado a derreter feito um picolé ao sol, após despejar no mar as estimadas 150 bilhões de toneladas de água congelada que lhe dão forma.
O único problema é que não se sabe quando isso acontecerá.
Risco à navegação
Até lá, o A-76A continuará representando algum risco tanto para o meio ambiente, pois pode encalhar em águas mais rasas, causando danos imprevisíveis ao leito marinho (sua profundidade chega a ser de 150 metros), quanto para a navegação na região, já que, ao contrário das ilhas, icebergs se movem.
E o A-76A muito rapidamente, o tempo todo.
Icebergs são como obstáculos móveis e, dependendo das condições climáticas, nem sempre podem ser detectados.
Nem sempre pode ser visto
Por isso, satélites têm monitorado intensamente os avanços acelerados do A-76A.
Mas isso só é possível quando o quase sempre nublado clima antártico permite, o que também impede o perfeito monitoramento via satélite.
Nasa fotografou do espaço
Dias atrás, durante uma das raras brechas climáticas na região, a Nasa conseguiu registrar a localização do A-76A em relação à Península Antártica, da qual ele se desprendeu, um ano e meio atrás.
Na imagem, também dá para ter noção do tamanho fenomenal do bloco de gelo flutuante, que segue com o mesmo porte até hoje.
Quanto maior, melhor
Mas isso não deixa de ser uma boa notícia para a navegação, porque quanto maior foi o iceberg mais facilmente ele pode ser detectado pelos barcos.
No entanto, a medida em que vão derretendo e diminuindo de tamanho, o que acontece a partir do Estreito de Drake, a visualização dos flutuantes blocos de gelo se torna cada vez mais difícil e perigosa para as embarcações — e é aí que reside que o problema.
Felizmente, o extremo sul do Atlântico é escassamente visitado pelos barcos.
Mesmo assim, acidentes desse tipo acontecem.
Tragédia como a do Titanic
Um dos supostos casos mais dramáticos - e misteriosos - do gênero na região aconteceu quase um século atrás, envolvendo o então maior barco à vela do mundo, o Kobenhavn, que viajava da Dinamarca para a Austrália com uma tripulação de 60 pessoas, 54 delas jovens cadetes da Marinha Dinamarquesa, a maioria em torno dos 17 anos de idade.
Em algum momento entre o final de 1928 e o início de 1929 (a data exata nunca se soube ao certo), o gigantesco veleiro, de cinco mastros e mais de 100 metros de comprimento, desapareceu nas geladas águas da região antártica, sem deixar nenhum vestígio.
Nada, absolutamente nada, do enorme barco foi encontrado, muito menos os corpos de seus ocupantes, apesar das intensas buscas na região, que duraram meses a fio — clique aqui para conhecer esta impactante história.
O mais provável é que o Kobenhavn, tal qual o Titanic, cujo naufrágio ocorrera poucos anos antes, também tenha colidido com um iceberg e afundado, só que no lado oposto do globo terrestre: as altas latitudes do Atlântico Sul, justamente para onde o A-76A avança neste momento.
A esperança é que o enorme iceberg número 1 do planeta derreta e desapareça, antes de gerar qualquer risco de repetir a História.
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