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Esmeralda achada em naufrágio de 400 anos é leiloada para ajudar na Ucrânia
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O que uma grande esmeralda de 6.25 quilates, retirada de um naufrágio de exatos quatro séculos atrás, tem a ver com a atual guerra na Ucrânia?
Para a milionária americana Mitzi Perdue, ex-dona da preciosa joia, o valioso objeto, que fora transformado em anel, e o que está ocorrendo no país do presidente Volodymyr Zelensky, invadido pela Rússia em fevereiro deste ano, também não tinham nada a ver entre si.
Até que, quatro meses atrás, durante uma visita humanitária à capital ucraniana, então sob intenso bombardeio russo, ela testemunhou o sofrimento das pessoas, perdendo tudo o que tinham para a guerra — quando não a própria vida.
Foi quando Mitzi, viúva do magnata da indústria americana de alimentos Frank Perdue, que lhe deu o tal anel como presente de noivado, teve a ideia de leiloar a joia e doar todo o dinheiro arrecadado para ajudar as vítimas da guerra - o que foi feito três semanas atrás, pela bagatela de 1,2 milhão de dólares, cerca de R$ 6,5 milhões.
"Tenho certeza que meu marido, se ainda estivesse vivo, faria a mesma coisa", disse a milionária.
Uma esmeralda com muita história
Mas a esmeralda em questão não era apenas uma simples pedra preciosa.
Como se não bastasse ser uma das mais puras esmeraldas do mundo (e ter sido lapidada por um especialista no assunto, o americano Reginald Miller, apelidado de "Beethoven das Esmeraldas", pelo seu perfeccionismo na arte de lapidar pedras preciosas), a joia que adornava o valioso anel tinha ainda um valor histórico difícil de ser mensurado, pois fora resgatada de um dos mais famosos naufrágios do passado: o do galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, afundado na costa da Florida, em 1622 - e que, três séculos e meio depois, gerou a mais espetacular e bem sucedida operação de caça ao tesouro da história americana.
Tesouro de 1 bilhão de dólares
Conduzida por um obstinado caçador de tesouros chamado Mel Fisher, um americano que dedicou sua vida à busca dos restos afundados daquele galeão espanhol na costa do estado da Florida, a operação resultou no resgate, até então inédito, de uma impressionante quantidade de ouro, moedas e pedras preciosas que eram transportadas pela antiga nau, avaliadas, na época do resgate, em 1985, em mais de 1 bilhão de dólares.
Entre os achados no fundo do mar estava a tal esmeralda, que acabaria por adornar o anel agora leiloado pela maior empresa do gênero no mundo, a Sotheby's.
Virou anel de noivado
Entre outras preciosidades extraídas do naufrágio ocorrido exatos 400 anos atrás, a esmeralda foi entregue por Mel Fisher ao marido de Mitzi, como compensação, já que ele fora um dos financiadores da longa expedição em busca do galeão.
Frank Perdue, por sua vez, decidiu transformar a joia em um anel de noivado, com o qual pediu Mitzi em casamento, em 1988.
Só guardou o anel
Frank Perdue, que era dono de um dos maiores conglomerados alimentícios dos Estados Unidos, a Perdue Farms, uma gigantesca criadora de frangos, morreu em 2005, após já ter doado tudo o que recebeu do naufrágio (moedas de ouro, correntes de prata, pedras preciosas, objetos da época, etc), para duas instituições filantrópicas americanas: a Delaware Technical Community College, onde ele estudou, quando ainda era um simples criador de galinhas, e a conceituada Smithsonian Institution, onde os objetos estão expostos até hoje.
Perdue só manteve o anel, que, agora, está em posse de outro dono, cujo nome não foi revelado — nem para a vendedora da joia.
"Adoraria conhecer o comprador e entregar o anel pessoalmente, em agradecimento, porque esse dinheiro vai ajudar muita gente na Ucrânia", disse Mitzi Perdue, ao saber do espantoso valor alcançado pela joia no leilão - muito provavelmente por conta da sua origem, da sua história e dos mais três séculos e meio que passou no fundo do mar.
A outra parte da história
Tal qual Frank Perdue, Mel Fisher morreu anos atrás, em 1998, mas igualmente milionário, graças ao tesouro que encontrou no fundo do mar.
Sua obstinada busca pelo galeão Nuestra Señora de Atocha, que durou 16 anos, é considerada a mais impressionante — e bem-sucedida — operação de resgate de um tesouro submerso que se tem notícia.
Rendeu até um museu dedicado ao resgate, em Key West, na Florida, perto do local onde o galeão foi encontrado.
Filho morreu na busca do galeão
No entanto, também custou a Mel Fisher uma série de problemas (inclusive como o governo da Florida, que pleiteou na justiça uma parte do tesouro, sob a alegação de que ele estava "no mar territorial do estado"), e à vida do seu próprio filho, que participava do projeto, em um acidente com um dos barcos que faziam a exploração dos escombros do galeão.
Mel Fisher protagonizou uma impressionante história de determinação, que valorizou ainda mais a joia leiloada dias atrás - e que pode ser conferida clicando aqui.
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