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O que pode ter acontecido com o velejador que sumiu no mar de Santos?
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No início da tarde do último domingo, o velejador Edison Gloeden, de 66 anos, mais conhecido como "Alemão", com boa experiência em navegação, saiu, sozinho, com seu barco, um veleiro de pouco mais de nove metros de comprimento, do canal do porto de Santos, para testar um piloto automático que havia instalado, e disse que retornaria rápido.
Mas não voltou até hoje.
Desde então, barcos e aviões vasculham a região, sem nada encontrar — sequer vestígios de um eventual naufrágio, como partes da embarcação boiando no mar.
"É intrigante e não dá para arriscar nada sobre o que pode ter acontecido com ele", diz um especialista no assunto, o também navegador e empresário Herman Júnior, criador do site Inavigate e administrador do grupo de WhatsApp Mayday, que, desde que o desaparecimento do velejador, tem sido a principal ferramenta de coleta de informações que possam ajudar nas buscas.
"Infelizmente, já tivemos até fake news publicadas no grupo, dizendo que ele estava em Ubatuba, desnorteado, ou que seu corpo havia sido encontrado. É inacreditável que alguém invente coisas assim em uma situação aflitiva como essa", lamenta Herman Júnior.
Teria ido pro mar aberto?
Com base na sua experiência e conhecimento, tanto do assunto quanto da região, já que mora na mesma cidade do velejador desaparecido, Herman fez uma projeção da direção em que o barco dele pode ter avançado, antes de sumir, na tarde do domingo passado.
"Como o objetivo dele era apenas testar o piloto automático, não deve ter pretendido ir longe, daí ter dito que logo voltaria", conjectura o especialista.
"Mas, como naquela tarde havia muito movimento de lanchas e jet-skis na Baía de Santos, ele pode ter decidido se afastar um pouco mais, na direção do mar aberto, a fim de escapar das marolas, para avaliar melhor o funcionamento do equipamento. E aí aconteceu o que quer que tenha acontecido, que ninguém sabe dizer o quê?"
No dia, o mar estava calmo e tranquilo, embora com intenso movimento de barcos na Baía de Santos. Houve, no entanto, uma rápida tempestade no final da tarde, com raios e trovoadas, que pode ter gerado algum problema no veleiro de Edison, ou agravado a situação do velejador.
Uma possível rota
Com base na informação que teve de que o barco estava com o tanque cheio de combustível — e que, embora fosse um barco à vela, o veleiro do desaparecido, um antigo modelo Brasilia 32, batizado por ele se "Sufoco", partiu navegando no motor, justamente para testar piloto automático, equipamento que faz com que o barco mantenha um rumo pré-determinado —, Herman traçou uma possível rota seguida pelo velejador, e estimou até onde o barco pode ter avançado, antes de ficar sem combustível.
"O tanque cheio daria uma autonomia entre 25 e 30 horas de navegação, o que significa que o barco pode ter avançado até cerca de 120 milhas da costa, ou mais de 200 quilômetros, o que é bem longe. Daí em diante, sem combustível, ele teria ficado à deriva, em uma região que sofre a ação de uma forte correnteza, que desce para o sul do país. E isso pode explicar por que o barco não foi encontrado até agora", avalia Herman.
"O barco pode estar já bem longe de Santos, onde se concentraram as buscas iniciais, mas nenhum pedido de socorro ou ajuda pelo rádio ou celular foi feito ele, o que é igualmente estranho".
O que pode ter acontecido?
A rigor, há duas possibilidades: queda no mar ou mal súbito — ou uma coisa em decorrência da outra.
Como estava sozinho no barco, e com o motor sendo comandado pelo piloto automático, o velejador pode ter perdido o equilíbrio ao fazer alguma função no convés (como erguer as velas, para testar o equipamento também sob efeito do vento) e caído no mar, enquanto o veleiro seguiu em frente, de maneira autônoma, sem que ele conseguisse alcançá-lo, a nado.
Contribui para esta tese o fato de o velejador já ter certa idade, sem, portanto, muita agilidade, e, segundo comentários, não ser um exímio nadador.
Além disso, Edison Gloeden pode ter caído no mar desacordado, por conta da segunda hipótese aventada: a de mal súbito — embora, aparentemente, ele não tivesse nenhum problema sério de saúde. A hipótese de suicídio foi logo descartada.
"Ele não teria motivos para tirar a própria vida, e a esposa do 'Alemão' está muito chocada e não quer falar sobre o caso", diz o amigo de infância, e sócio de Edison em uma pequena empresa de artes gráficas, em Santos, Paulo Lichtner, que torce fervorosamente para que tudo termine bem.
"Tomara, mas se ele caiu na água e o barco seguiu avançando, o que acho mais provável, as chances de sobrevivência, após tanto tempo no mar, são pequenas", diz o navegador também santista Guilherme Kodja, que, a exemplo de muitos outros, se ofereceu para ajudar nas buscas.
Outra possibilidade
Outra possibilidade, embora bem menos provável, é a de que o barco do velejador tenha sido atingido por um navio e afundado em seguida, já que o porto de Santos é o mais movimentado do país, e o local onde ele saiu para testar o piloto automático fica bem no acesso marítimo à cidade.
Ou, então, que, ao navegar sozinho, por conta do equipamento, o veleiro de Edison tenha colidido com uma "laje" (pedras submersas em baixa profundidade) que existe a cerca de 20 milhas da Baía de Santos, e afundado.
"Em se tratando de uma rota bem movimentada de navios, que nem sempre conseguem visualizar os barcos pequenos, e de existir essa laje nas proximidades, estas duas hipóteses não podem ser desconsideradas", acrescenta outro experiente navegador e conhecedor da região, Márcio Dottori, do blog Minuto Naútico.
Aviões vasculham o mar
Desde segunda-feira, a Marinha vem emitindo alertas a todos os barcos que navegam na região, para que fiquem atentos, em busca do veleiro desaparecido. Na quarta-feira, aviões da Força Aérea Brasileira, começaram a vasculhar uma área bem ampla de mar, já que possuem maior autonomia do que os pequenos aviões de voluntários que vinham fazendo as buscas na região próxima à Baía de Santos, até então.
A esperança é que, ao conseguir voar mais longe - e mais para o sul, na direção de Santa Catarina, para onde avança a corrente marítima que passa ao largo da Baía de Santos- -, os aviões consigam encontrar o veleiro à deriva, e, com sorte, o velejador ainda dentro dele, com vida, o que, no entanto, a cada hora que passa fica menos provável.
Outro caso misterioso na região
Não é a primeira vez que um experiente navegador desaparece em águas que conhece muito bem, como é o caso de Edison Gloeden na tranquila Baía de Santos.
Também não é a primeira vez que o quase sempre pacato mar do litoral norte paulista serve de cenário para enigmas envolvendo seus frequentadores habituais.
Um ano e meio atrás, o engenheiro paulista Fernando Dmitruk, de 55 anos, frequentador contumaz da praia de Bertioga, praticamente vizinha à Santos, onde costumava nadar por quilômetros no mar, desapareceu inexplicavelmente após algumas braçadas, e seu corpo jamais encontrado -- embora não houvesse sequer ondas na praia, naquele dia (clique aqui para conhecer esta perturbadora história).
"Vamos continuar convocando as pessoas a ajudarem nas buscas e torcendo para que o 'Alemão' volte para casa", diz o amigo Paulo Lichtner.
"É difícil acreditar que um barco possa sumir assim, do nada".
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