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Resgates frustrados, mistério, teste trágico: 10 acidentes com submarinos
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Desde que o homem inventou o primeiro submarino — que, por sinal, afundou logo depois —, que os riscos convivem lado a lado com as embarcações submergíveis — que, por conta do ambiente onde são utilizadas, sempre tornam mais difíceis os resgates.
O caso mais recente é o do "Titan", o submergível (e não submarino) desaparecido desde a manhã de domingo (18) durante o passeio até os destroços do Titanic.
Confira aqui dez dos mais dramáticos naufrágios de submarinos tripulados, nos últimos 80 anos.
Squalus - A amargura de um comandante
No início da Segunda Guerra Mundial, o USS Squalus, da Marinha dos EUA, realizou uma série de testes, perto do porto americano de Portsmouth. Um deles simularia um mergulho de emergência. Mas, por um problema nas válvulas do compartimento de motores, o submarino afundou de fato.
Na ocasião, 26 dos seus 59 tripulantes morreram afogados, porque o comandante deu ordens de fechar a porta de popa, antes que eles conseguissem sair de lá. Depois, começou o drama para resgatar os sobreviventes, trancados no submarino parcialmente inundado, a 70 metros de profundidade. Eles só foram salvos três dias depois, graças a um equipamento que nunca havia sido testado: uma espécie de casulo, recém-inventado.
Apesar das mortes, o resgate dos sobreviventes foi largamente comemorado, porque as proporções da tragédia poderiam ter sido bem piores. O próprio comandante do Squalus comandou o resgate do submarino (que voltou a navegar), e recuperou, um a um, os corpos dos seus ex-comandados — os mesmo que ele condenou à morte, ao mandar fechar a porta. Uma atitude correta, mas que ele amargou pelo resto da vida.
Surcouf - Mistério até hoje
Na noite de 18 de fevereiro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o submarino francês Surcouf, então o maior do mundo, com 110 metros de comprimento, desapareceu quando navegava, submerso, no Mar do Caribe, rumo ao Panamá, de onde cruzaria para o Oceano Pacífico. Nunca se soube o motivo do afundamento — até porque não houve sobreviventes.
Uma das teorias pregou o atropelamento do submarino pelo navio cargueiro americano Thompson Lykes. Outra, que ele teria sido confundido com um U-boat alemão, e bombardeado pelos próprios Aliados. O Surcouf jamais foi encontrado. Muito menos os corpos dos seus 130 tripulantes.
I-169 - Só o capitão sobreviveu
Durante a Segunda Guerra Mundial, o ataque americano à base naval japonesa instalada na Ilha Chuuk, na Micronésia, produziu uma agonizante tragédia subsequente. Ao ver os aviões inimigos se aproximando, a tripulação do submarino japonês I-169 submergiu tão rapidamente que não aguardou a volta do capitão, que estava em terra-firme, nem fechou corretamente todas as válvulas do casco. Com isso, o submarino afundou feito uma pedra, matando boa parte da tripulação. Mas um grupo conseguiu se trancar em um compartimento seco da popa. Quando cessaram os ataques, os japoneses ouviram batidas no casco e iniciaram as tentativas de resgate, usando cabos de aço.
Mas, quando o I-169 já estava quase fora d´água, os cabos arrebentaram e o submarino afundou de novo. Desta vez, para sempre. Durante algum tempo, ainda foram ouvidos sinais desesperados dos sobreviventes. Até que eles emudeceram. 25 anos depois, o I-169 foi localizado, no fundo da baía, pelo mergulhador Jacques Cousteau, que filmou os esqueletos dos marinheiros mortos naquele episódio: a tripulação inteira do submarino. Menos o seu comandante, que jamais se perdoou por isso.
Thresher - Um trágico teste
Em 10 de abril de 1963, no auge da Guerra Fria, o submarino nuclear americano USS Thresher, especialmente criado para caçar submarinos soviéticos, partiu para uma sessão de testes de profundidade, a cerca de 250 quilômetros de Cape Cod, na costa de Massachusetts, com 129 homens a bordo. E nunca mais voltou à superfície.
Sua última comunicação, bastante truncada, revelava o rompimento de uma das tubulações de captação de água, mas, até então, sem maiores implicações. Tempos depois, os restos do submarino foram encontrados, despedaçados, a mais de 2 500 metros de profundidade. Em homenagem aos mortos, foi determinado que o nome Thresher nunca mais seria usado em outro navio militar americano.
Scorpion - Teriam os russos chegado antes?
Em maio de 1968, durante a Guerra Fria, o submarino nuclear americano USS Scorpion recebeu ordens de seguir para as Ilhas Canárias, onde uma frota soviética fazia exercícios militares. Mas jamais chegou lá. Cinco dias depois, a comunicação entre a base americana e os 99 tripulantes do submarino cessou, e ele foi dado como perdido. Mas os EUA levaram quase 15 dias para admitir isso.
Em 1985, o oceanógrafo Robert Ballard, o mesmo que havia encontrado o Titanic, localizou os restos do Scorpion, implodidos, a 3 700 metros de profundidade. A causa do afundamento foi determinada como sendo uma avaria elétrica que fez o submarino perder propulsão e afundar até implodir.
Apesar da implosão, o reator nuclear do Scorpion estava intacto — já os seus torpedos, que eram equipados com ogivas nucleares, nunca foram encontrados. Uma das suspeitas é que os russos tenham chegado antes que os americanos nos destroços, embora isso nunca tenha sido comprovado.
Komsomolets - Eles quase se salvaram
Em 7 de abril de 1989, quando navegava no mar do Ártico, o submarino soviético K-278 Komsomolets sofreu um princípio de incêndio, causado por um curto-circuito na casa de máquinas, e precisou emergir rapidamente. Uma vez na superfície, quase todos os seus 69 tripulantes se atiraram ao mar, ficando a bordo apenas o comandante e quatro marinheiros, na tentativa de controlar o fogo. Mas não conseguiram e o submarino afundou, com eles dentro.
Os cinco homens, então, entraram em uma cápsula salva-vidas e se autoejetaram para a superfície. Mas só um deles conseguiu sair vivo do dispositivo. Além dos quatro mortos na cápsula, outros 42 marinheiros do Komsomolets morreram de hipotermia, nas geladas águas do Ártico.
Kursk - O preço de uma arrogância
Em 12 de agosto de 2000, durante um exercício militar no Mar de Barents, entre a Rússia e a Noruega, um dos torpedos do submarino russo Kursk disparou acidentalmente, provocando o afundamento da embarcação, com todos os seus tripulantes.
Apesar de o acidente ter sido mundialmente detectado, o governo russo, já liderado por Vladimir Putin, a princípio, negou que ele tivesse ocorrido. E, depois, recusou a ajuda de outros países para os trabalhos de resgate dos sobreviventes — que passavam dias e noites batendo no casco do submarino inerte, a 108 metros de profundidade. Até que, quase uma semana depois, Putin por fim cedeu, frente ao fracasso das operações russas.
Mas já era tarde demais. Quando uma equipe de resgate da Noruega finalmente foi autorizada a chegar ao submarino, todos os 118 tripulantes do Kursk estavam mortos. Desde aquela época, a arrogância de Putin já gerava tragédias.
Great Wall - Sufocados pelo motor
Em abril de 2003, uma tragédia aconteceu a bordo do submarino chinês Great Wall, movido a propulsão convencional — ou seja, motor a diesel e elétrico. Durante exercícios secretos no chamado "Mar Amarelo", entre a China e a Coréia, o mau funcionamento dos motores diesel consumiram todo o oxigênio a bordo, e a tripulação inteira, de 70 marinheiros, morreu sufocada. Mas, como o teste era secreto — e, por isso, não havia comunicação entre o submarino e sua base —, O Great Wall ficou boiando na superfície por dez dias, com sua macabra tripulação morta a bordo.
O resgate dos corpos — e do próprio submarino, que voltou a ser usado normalmente depois da tragédia — só aconteceu quando pescadores o encontraram e deram o alerta. Que tentou ser abafado pela China.
Nanggala - Vítima de uma onda submarina
Ao que tudo indica, um fenômeno relativamente raro, chamado de "onda interna solitária", uma espécie de turbulência no fundo do mar, causada pela combinação de grande variação na densidade da água com altas montanhas submersas, que arrasta para o fundo tudo o que encontra pela frente, foi a causa do afundamento — e posterior implosão, causada pela excessiva profundidade — do submarino da Marinha da Indonésia KRI Nanggala-402, no dia 21 de abril de 2021, quando navega em um estreito próximo à ilha de Bali, com 53 homens a bordo. Ao serem localizados, dias depois, os destroços do submarino indonésio, que teve o azar de estar na hora errada no local errado, jaziam fragmentados a 853 metros de profundidade — bem mais fundo do que o Nanggala fora projetado para suportar.
ARA San Juan - Um drama argentino
Em 13 de novembro de 2017, o submarino argentino ARA San Juan partiu do porto de Ushuaia, e desapareceu no mar da Patagônia. Pouco antes disso, o seu comandando informara que estava tendo "problemas com as baterias".
Quase no mesmo instante, sensores de abalos sísmicos quase do outro lado do Atlântico detectaram uma oscilação submarina, que poderia ter sido causada por uma explosão. Era mesmo uma explosão: a do ARA San Juan. Mas isso só foi comprovado quando os restos do submarino foram por fim encontrados, no exato dia em que se completou um ano da tragédia — e na última operação de buscas que seria realizada. Durante um ano inteiro, a Argentina e os familiares das 44 vítimas conviveram com a angústia de uma pergunta: onde está o submarino? Clique aqui para relembrar este triste caso.
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