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Histórias do Mar

REPORTAGEM

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Após dois meses à deriva, australiano e sua cachorra são resgatados no mar

Colunista do UOL

17/07/2023 15h00

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Na última quarta-feira, o helicóptero de um grande navio pesqueiro, que sobrevoava uma área erma do Oceano Pacífico em busca de cardumes de atuns, encontrou algo bem mais valioso do que simples peixes: achou o australiano Tim Shaddock, de 51 anos, que estava há dois meses à deriva no mar, na companhia apenas de sua cadela, Bella, depois que uma tempestade danificara seu barco.

"Foi como uma provação", disse o australiano, ao ser resgatado, cabeludo, barbudo e bem mais magro, mas, aparentemente, sem nenhum problema de saúde

Nem ele nem a cadela.

"Sobrevivemos, eu e Bella, bebendo água da chuva e comendo peixe cru, graças ao que havia no kit de sobrevivência do barco", contou o australiano ao ser resgatado pelo pesqueiro, após ter sido avistado pelo helicóptero — o que, na região onde ele se encontrava, a centenas de quilômetros da costa do México, de onde partira com destino à Polinésia Francesa, pode ser considerado um autêntico milagre.

Golpe de pura sorte

As chances de um barco pequeno, como o veleiro-catamarã do australiano, ser avistado no meio de um oceano por outro barco, já são, por si só, pequenas.

Que dirá, então, por um helicóptero, aeronave que não tem autonomia para ir tão longe no oceano, e, ainda por cima, voando a baixa altitude, o que certamente favoreceu a avistagem e a compreensão dos gestos de pedido de socorro feitos por Tim Shaddock, ao ouvir o barulho de um motor se aproximando.

"Foi um golpe de muita sorte e habilidade, para lidar com uma situação tão adversa", resumiu o especialista em resgates marítimos Mike Tipton, ouvido pelo canal australiano Sky News.

Segredo era se proteger do sol

Navegador experiente, Tim Shaddock sabia que, sem ter água para beber, precisava se proteger do sol, porque o corpo humano perde muito líquido e sais minerais ao transpirar, sobretudo no mar, onde o vento mascara a desidratação do organismo.

Por isso, ficava o tempo todo dentro da cabine do barco, e só saia dela para tentar pescar — quando conseguia fisgar algo.

"Sem comida, uma pessoa resiste até 30 ou 40 dias. Mas, sem fluídos no corpo, dura só pouco mais de uma semana", explicou o especialista, ao canal australiano.

"Ele precisava de sorte e prudência para sobreviver. E teve as duas coisas".

Tim Shaddock e sua cachorra - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Deus é grande"

Também contribuiu para a sobrevivência do australiano e sua cadela o fato de estarem em um espaçoso veleiro-catamarã, cuja cabine se manteve intacta, o que permitiu a ambos proteção contra os elementos, e de terem enfrentado apenas mar calmo após a tempestade que danificou o seu barco.

Tim Shaddock havia partido da costa do México em abril, rumo à Polinésia Francesa, a mais de 5 000 quilômetros de distância, quando foi colhido por uma tempestade que danificou as velas e inutilizou os equipamentos de navegação e comunicação do seu veleiro, deixando-o totalmente à deriva no maior oceano do mundo - uma situação que tinha tudo para terminar em tragédia.

Tim Shaddock após resgate - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Até que apareceu aquele improvável helicóptero, no meio do nada.

"Não há dúvida de que Deus é grande", resumiu o Twitter postado pela equipe do barco atuneiro Mária Delia, que resgatou o náufrago e sua cadela.

Está sendo levado para o México

Após recolher os dois no mar, o pesqueiro interrompeu suas atividades e tomou o rumo da costa mexicana, onde deverá chegar nos próximos dias, para desembarcar o australiano e sua cachorra.

"Estamos bem e só precisamos de boa alimentação e algum descanso, para recuperar as forças", disse o australiano ao ser resgatado, com sua cadela, ambos em relativo bom estado.

Transformar a cadela em comida

Mas isso só aconteceu porque Tim Shaddock resistiu a duas tentações muito comuns em situações como a que enfrentou: a de saciar a sede bebendo água do mar, que desidrata ainda mais o organismo, e de transformar a companheira de infortúnio em comida - o que só mesmo os náufragos muito apegados aos seus animais de estimação não o fariam em hipótese alguma, mesmo em situações extremas.

7 meses à deriva e o gato chega vivo

Como a que viveu o polonês Zbigniew Reket, também um velejador solitário, que, seis anos atrás, foi resgatado no mar após passar sete meses à deriva com seu barco no Oceano Índico, na companhia apenas de uma gatinha - que desembarcou até melhor do que ele, porque o pouco de comida que o polonês tinha (nada além de meio pacote de miojo por dia) dividia em partes iguais com o animal — clique aqui para ler esta interessante história, que terminou justamente no dia de Natal de 2017.

"Foi o melhor presente que já tive na vida", disse o náufrago, ao ser, finalmente, resgatado.

Muito possivelmente, o australiano Tim Shaddock e sua cadela Bella, agora, pensam o mesmo.