Histórias do Mar

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Reportagem

Charutos que passaram 134 anos dentro de mala no mar são expostos nos EUA

Em setembro de 1857, logo após o fim da chamada Corrida do Ouro na Califórnia, o navio a vapor americano S.S. Central America, que vinha do Panamá para Nova York, afundou na costa da Carolina do Sul, durante um furacão.

Das 578 pessoas que havia a bordo, quase todas regressando da bem sucedida mineração na costa oeste americana, 425 morreram na tragédia - um dos piores naufrágios da história americana.

Entre os sobreviventes, estava um homem chamado John Dement, que tal qual todos os demais passageiros, perdeu tudo o que havia levado para o navio, incluindo uma quantidade não sabida de ouro, já que o S.S. Central America trazia justamente pessoas que voltavam dos ricos garimpos da Califórnia - razão pela qual estima-se que ele tenha afundado com mais de 15 toneladas do valioso metal.

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Imagem: Reprodução

Desembarcou para comprar charutos

Sete dias antes da tragédia, durante uma escala do navio no porto de Havana, na ilha de Cuba, John Dement havia desembarcado, a fim de comprar alguns charutos, e os colocou dentro de sua mala de couro, envoltos em peças de roupa, para que as frágeis folhas de fumo não se desprendessem durante a longa viagem até Nova York.

Mas o S.S. Central America jamais chegou lá.

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Imagem: California Gold Marketing Group

Já a mala de Dement, sim, mas só quase um século e meio depois, após ser resgatada durante uma operação de busca do ouro que o navio transportava.

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Ela havia passado 134 anos no fundo do mar. E com aqueles charutos ainda bem conservados dentro dela.

Como eles se conservaram?

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Imagem: California Gold Marketing Group

"Era praticamente impossível que algo feito com folhas resistisse à água por tanto tempo, mas foi exatamente o que aconteceu", disse, na ocasião, o cientista-chefe da missão, Bob Evans.

"Talvez, a escuridão e a alta pressão do fundo do mar tenham conservado os charutos dentro da mala, bem como as roupas nos quais eles estavam envoltos", arriscou o especialista.

Encharcados, mas preservados

Ao abrir a mala, que estava intacta (e que, pelo seu impressionante grau de conservação, se tornaria a mais inesperada descoberta daquela expedição), os técnicos constataram, surpresos, que os charutos estavam moles, devidamente encharcados, mas ainda com seus formatos preservados.

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E é isso o que os visitantes de uma exposição que está acontecendo agora na mais famosa tabacaria da cidade de Tampa, na Florida, poderão ver.

Parte dos 37 charutos comprados por aquele passageiro, naquela escala do S.S. Central America, em Cuba, em 1857, estão em exibição na sede da J.C. Newman Cigar Co., uma das mais famosas empresas de charutos dos Estados Unidos, e estão sendo considerados "os mais antigos charutos do mundo" - ou, pelo menos, os únicos que resistiram por tanto tempo no fundo do mar.

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Imagem: jcnewman.com

"Estes charutos são mais velhos do que a própria cidade onde estão expostos", brincou, no lançamento da exposição, o herdeiro da empresa que há quatro gerações fabrica e comercializa charutos em Tampa, Drew Newman.

Ficam guardados em cofre

Quando não estão em exibição (o que só acontece mediante agendamento prévio), os charutos que sobreviveram ao naufrágio do S.S. Central America ficam guardados, feito joias, no cofre da empresa, em um histórico edifício no centro de Tampa, chamado El Reloj.

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Eles foram arrematados em leilões de objetos retirados do naufrágio do S.S. Central America, nos quais também foram oferecidas barras de ouro, joias e pertences dos passageiros, como as peças de roupas que ajudaram a proteger os charutos na mala de John Dement.

O jeans mais antigo do mundo

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Imagem: California Gold Marketing Group

Uma das peças, uma rústica calça de brim, da marca Levi Strauss, do tipo usado pelos mineradores nas jazidas de ouro da Califórnia - e que, por conta disso, passou a ser considerado o jeans mais antigo do mundo -, foi arrematada em um destes leilões, em dezembro do ano passado, pelo equivalente a mais de meio milhão de reais.

O resgate da mala e seu impressionante conteúdo - sobretudo os charutos - foi em 1991.

O trapaceiro da história

Antes disso, porém, muitos outros objetos bem mais preciosos já haviam sido extraídos dos escombros do navio pelo autor do achado, o mergulhador americano Tommy Thompson, que, com a ajuda de financiadores particulares, passou 35 anos procurando os restos do S.S. Central America no mar da Carolina do Sul.

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Imagem: Public Domain Professional Coin Grading Services

Quando, por fim, o encontrou, Thompson tomou duas medidas: extraiu uma quantidade até hoje não sabida de ouro dos restos do navio, e tratou de fugir, dando o calote nos que financiaram o seu projeto.

Os investidores, então, recorreram à justiça dos Estados Unidos contra Thompson, que passou anos foragido.

Até que, oito anos atrás, em janeiro de 2015, ele foi preso em um hotel da Flórida, e intimado pela justiça a revelar o paradeiro do ouro extraído do navio, a fim de indenizar os investidores - o que Thompson se recusa a fazer até hoje.

Por isso, ele segue preso, e assim ficará, até que decida revelar onde o ouro está - clique aqui para conhecer este caso, que começou com o naufrágio de um navio carregado de ouro e mais parece roteiro de filme de aventura.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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