Americano que passou 100 dias debaixo d'água diz que voltou mais jovem
Em 1º de março deste ano, o americano Joseph Dituri, um especialista no tratamento de doenças descompressivas, entrou em uma lagoa de água salgada junto ao mar da cidade de Key Largo, na Flórida, mergulhou e só retornou à superfície em 9 de junho, exatos 100 dias depois - o que lhe valeu o recorde mundial de permanência debaixo d'água.
Durante todo aquele tempo, Dituri, que se autointitula Dr. Deep Sea ("Doutor Mar Profundo"), ficou hospedado, sozinho, dentro de uma cápsula submarina do único hotel subaquático do mundo, o Jules Undersea Lodge, a seis metros de profundidade.
Seu principal objetivo, no entanto, não era apenas quebrar aquele recorde, embora ele tenha se servido disso para virar notícia no mundo inteiro.
Entusiasmado com os resultados
O que Dituri buscava era analisar, na prática, os efeitos que a longa exposição do corpo humano a uma pressão ambiente bem maior do que a que estamos habituados poderia causar no organismo.
E as conclusões que ele diz ter colhido o deixaram ainda mais entusiasmado com os benefícios que a chamada medicina hiperbárica, da qual sempre foi um entusiasta, podem trazer ao corpo humano.
Vai apresentar números em congresso
Agora, Dituri se prepara para apresentar, no mês que vem, durante a Conferência Mundial de Medicina Extrema, que acontecerá em Edimburgo, na Escócia, os resultados completos e as conclusões do seu projeto, que ele batizou de Netuno 100, numa referência direta à duração do seu peculiar experimento.
"Os benefícios são muito maiores do que se possa imaginar", diz o americano. "Mas posso adiantar que tive agradáveis surpresas tanto nos meus índices gerais de saúde, quanto na qualidade de algo essencial para o ser humano: o sono".
Seu sono melhorou muito
"Ao final dos meus 100 dias naquela cápsula, onde a pressão ambiente era 70 % maior do que na superfície, os aparelhos constataram que eu passava 60% do tempo em sono profundo, o REM, que faz o organismo relaxar de fato, contra apenas 30% antes do experimento. Mas bastou eu retornar à superfície, para voltar aos índices anteriores. Ou seja, dormir em um ambiente pressurizado faz muito bem à saúde", concluiu o americano.
Mas não apenas isso.
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Quero receberMenos colesterol, mais testosterona
Dituri também garante que, durante o experimento, todos os indicadores inflamatórios do seu organismo diminuíram cerca de 30%, e que sua taxa de colesterol caiu 72 pontos, atribuindo essa diminuição no estresse à longa permanência naquele ambiente bem mais pressurizado, não ao fato de que permanecia a maior parte do tempo em repouso, observando a vida marinha que passava diante da janelinha de sua cápsula, como se estivesse imerso em um aquário - algo, por si só, extremamente relaxante.
Além disso, ele também diz ter tido um aumento "significativo" nos níveis de testosterona, embora sua ejaculação tenha se tornado "um pouco mais difícil", sem, porém, revelar detalhes sobre como chegou à esta conclusão prática.
Envelheceu menos
Mas a descoberta que deixou Dituri ainda mais entusiasmado foi com relação à diminuição na velocidade do envelhecimento do corpo humano, quando exposto a uma maior pressão ambiente.
"Só saberemos os resultados disso no meu organismo no futuro, obviamente. Mas, após três meses e nove dias dentro daquela cápsula, a idade extrínseca da minha pele, aquela que é influenciada por fatores externos, como a radiação solar, por exemplo, baixou de 44 para 34 anos, e senti isso, literalmente, na própria pele, que ficou com bem menos marcas da idade", diz o americano, que, com cabelos compridos e uma jovialidade empolgante, não aparenta ter a idade que tem: 50 anos.
Desacelera o envelhecimento
"Já sabemos que o corpo humano, quando submetido a uma maior pressão ambiente, gera uma proliferação de células-tronco, além de aumentar a extensão dos telômeros, sequências de DNA que tendem a encurtar com o passar do tempo. Também produz mais colágeno, o alicerce de todas as células. A pressão mais elevada tem tudo a ver com a reversão do processo de envelhecimento celular", garante Dituri, que diz que seu objetivo é chegar aos 110 anos, o dobro da idade que tem hoje.
"De certa forma, é possível afirmar que, quando exposto a um ambiente mais pressurizado, o corpo humano sofre uma desaceleração no processo de envelhecimento, e as pessoas tendem a viver mais. E isso é sensacional", vibra o americano.
"Foi sensacional"
Apesar de se apresentar como "Doutor", Dituri não é médico, e sim engenheiro biomédico, atividade na qual chegou ao doutorado, o que hoje lhe permite dar aulas na Universidade do Sul da Flórida, onde vive.
É também membro do Comitê Internacional de Medicina Hiperbárica, e diretor do Conselho Internacional de Medicina Subaquática, além de dar palestras com frequência sobre os benefícios desse tipo de medicina.
Antes disso, passou 28 anos na Marinha Americana, como especialista em submersíveis, atividade na qual conviveu intimamente com lesões cerebrais causadas por acidentes durante mergulhos - e ele próprio foi vítima desse tipo de mal.
Foi quando Dituri teve a ideia de criar uma clínica para tratamento dessas lesões, a partir do aumento da pressão ambiente dentro de câmeras hiperbáricas.
Mas foi bem além disso, e passou a estudar também os benefícios que a exposição à pressão ambiente maior poderia trazer ao organismo em geral, o que o levou a criar o Projeto Netuno 100, e passar mais de três meses vivendo integralmente debaixo d´água, como uma espécie de cobaia do seu próprio experimento.
"Foi sensacional", resume. "Aprendi muito naqueles três meses em que fiquei confinado no fundo do mar", exagera, já que estava a apenas seis metros de profundidade, dentro de uma espécie de quarto, com banheiro e outras comodidades.
Palestras direto do fundo do mar
Enquanto esteve confinado em seu cafofo subaquático, Diburi fez dezenas de palestras para alunos de escolas dos Estados Unidos, via internet - sim, ele também tinha isso, graças a um cabo de fibra ótica ligado à sua cápsula submarina.
Também recebeu a visita de dezenas de mergulhadores curiosos (sem contar funcionários do lodge, que o abasteciam periodicamente com água e comida), entre eles, uma menina de apenas 13 anos de idade, que obrigou a mãe a matriculá-la em um curso de mergulho só para poder visitar a cápsula do "Dr. Deep Sea", personagem que Dituri criou para si próprio, a fim de se aproximar das crianças e "despertar nelas o prazer pelo mar e pela ciência".
Além disso, deu muitas entrevistas, ao vivo e "direto do fundo do mar" (embora estivesse apenas dentro de uma protegida lagoa de água salgada), para jornalistas e emissoras de televisão, demanda que aumentou ainda mais quando ele superou o recorde mundial de permanência debaixo d´água, marca que agora está nos 100 dias que conquistou.
Bateu o recorde
Antes disso, o recorde era de 73 dias, e fora conquistado nas mesmas instalações do peculiar hotel submarino da Flórida, embora a marca mais curiosa tenha sido alcançada pelo casal de mergulhadores italianos Stefano Baresi e Stefania Mensa, que, em 2006, passou 10 dias submerso, mergulhando de fato, sem a proteção de uma cabine ou coisa parecida - clique aqui para conhecer esta interessante história.
Senhor das Profundezas
Outro americano famoso por suas proezas nas profundezas é o milionário e aventureiro Victor Vescovo, único homem que já desceu até os cincos pontos mais profundos dos oceanos, incluindo o mais distante deles, a Fossa das Marianas, a mais de 10 quilômetros da superfície do mar.
Na ocasião, seu feito rendeu um acalorado bate-boca com o diretor do filme Titanic, James Cameron, que também mergulhou no mesmo local e contestou a marca atingida pelo já lendário explorador, hoje mais conhecido como "Senhor das Profundezas" - clique aqui para saber mais sobre ele
Já Dituri garante que superar marcas - e entrar para o Livro dos Recordes, com seus 100 dias submersos - foi apenas um benefício extra que o experimento lhe trouxe.
"Muito mais importante foi comprovar os benefícios que a medicina hiperbárica pode trazer para as pessoas, que queiram, inclusive, viver mais. Eu quero. E quem não quer?".
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