Prazo acaba e ninguém consegue provar ser dono do ouro que há neste navio
Dois anos atrás, a justiça americana reconheceu os direitos da empresa de pesquisa e resgates submarinos Rockfish Inc. de explorar os restos do naufrágio do antigo navio a vapor SS Pacific, afundado na costa do estado de Washington, em 1875, com uma valiosa carga de ouro a bordo, já que vinha dos garimpos no Alasca.
Mas com uma condição: que qualquer pessoa que conseguisse provar ser descendente de algum dos garimpeiros vitimados pelo acidente pudesse pleitear uma parte do ouro recuperado, a título de herança.
Na ocasião, o juiz estabeleceu um prazo para isso: dezembro do ano passado.
Ninguém provou
Dias atrás, o prazo terminou, sem que ninguém tenha conseguido comprovar sua descendência direta com algum dos proprietários do ouro que era transportado no navio.
Com isso, a empresa ficou legalmente livre para iniciar o resgate dos escombros, e o que nele existir de valioso, o que deve começar a ser feito já nos próximos meses.
"Tivemos alguns reclamantes, mas nenhum conseguiu provar sua descendência direta com algum dos passageiros que efetivamente transportavam ouro na bagagem", anunciou a gerente geral da Rockfish, Ethan Benson, assim que o prazo legal expirou, três semanas atrás.
Vale R$ 40 milhões
"Agora, podemos dar início aos processos da operação de resgate, que será feito de maneira revolucionária, com drones submarinos controlados à distância, desde a nossa sede, em Seattle", acrescentou Jeff Hummel, um dos donos da Rockfish Inc, que foi quem descobriu os restos do SS. Pacific no fundo do mar, a 500 metros de profundidade e a cerca de 40 quilômetros da costa, em 2022, após cinco anos de buscas na região.
Se as previsões de Hummel estiverem certas, dos escombros daquele naufrágio de 149 anos atrás poderá brotar uma quantidade de ouro estimada em 8 milhões de dólares (cerca de R$ 40 milhões), em valores de hoje.
Talvez até mais, porque parte do ouro que o vapor transportava pertencia a um banco, que o estava transferindo da costa oeste dos Estados Unidos para Nova York, mas a maior parcela estava diluída nas bagagens dos passageiros, a maioria deles garimpeiros, que retornavam de uma temporada nas jazidas de ouro entre a costa leste do Canadá e o Alasca, na segunda metade do século 19 — daí a ordem do juiz para que fosse respeitado um prazo para que os eventuais descendentes reivindicarem, antecipadamente, sua parte nos achados, o que, no entanto, ninguém conseguiu fazer a contento.
Como acharam o navio?
As buscas da Rockfish pelos restos do SS Pacific começaram em 2017, quando um pescador da região encontrou um pequeno pedaço de carvão petrificado em sua rede, durante uma pescaria.
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Quero receberComo os pesquisadores da empresa sabiam que, além do ouro, o SS Pacific também transportava toneladas de carvão, material usado como combustível para suas caldeiras, a intuição deles foi que aquele pedacinho de material carbonizado poderia ter vindo dos escombros do navio procurado.
A busca exigiu 12 expedições ao local, e perto de 2 milhões de dólares em despesas. Até que, pouco mais de dois anos atrás, o sonar de um dos robôs submarinos capturou imagens de dois objetos arredondados, que poderiam ser as rodas laterais de pás (antigo sistema de propulsão que antecedeu as hélices) do SS Pacific. E eram.
Imediatamente, como determina a lei nos Estados Unidos, os donos da empresa requereram à justiça os direitos sobre a exploração do naufrágio, mas tiveram que aguardar o prazo determinado — que venceu no final do mês passado.
Só dois sobreviveram
Das 325 pessoas que havia a bordo do SS Pacific (talvez mais, porque, naquela época, crianças não eram computadas, e clandestinos eram habituais nos grandes navios), apenas duas sobreviveram ao naufrágio: o contramestre e um passageiro — que não era garimpeiro. E a valiosa carga que o navio transportava jamais foi recuperada, o que a Rockfish pretende fazer agora.
Como ele afundou?
O naufrágio do SS Pacific, causado pela colisão com outra embarcação, o veleiro cargueiro Orpheus, na noite de 4 de novembro de 1875, é considerado a pior tragédia da parte norte da costa oeste americana, e um dos mais eloquentes casos de negligência da história marítima dos Estados Unidos, porque envolveu falhas gritantes e procedimentos absurdos por parte dos comandantes dos dois barcos.
Embora fosse uma noite tempestuosa, o comandante do SS Pacific navegava sem luzes de direção (recurso que permite aos demais barcos saber em qual sentido uma embarcação está indo, através de cores diferentes para cada lado do casco), com uma tripulação mal treinada, e com parte dos seus botes salva-vidas cheios de água, como se fossem tanques de lastro, a fim de melhorar a estabilidade do casco, o que impediu que eles fossem usados para evacuar os passageiros, no instante do naufrágio.
Já o capitão do Orpheus, que confundiu a luz de navegação do SS Pacific com a de um farol — e por isso cruzou à sua frente, causando a colisão —, nada sofreu no impacto, mas não parou para socorrer as vítimas da outra embarcação.
O resultado foi uma tragédia de proporções catastróficas e um polêmico inquérito, cujas conclusões podem ser conferidas clicando aqui.
"Nosso interesse no resgate não é apenas o que havia no navio, mas também na história deste naufrágio, que gera polêmicas até hoje", diz um dos sócios da Rockfish, que garante que a empresa irá erguer um museu em Seattle, com os itens coletados.
Menos, muito provavelmente, o eventual ouro que for dele for extraído.
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