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Usaram lixo para encobrir submarino nazista achado na Argentina, diz autor

Havia anos que pescadores da cidade de Necochea vinham relatando problemas quando lançavam suas redes em um ponto específico daquela costa da Argentina: elas enganchavam em algo no fundo.

Um dia, um dos pescadores comentou isso com pesquisadores do Projeto Eslabón ("Elo", em português) Perdido, que se dedica a comprovar a chegada de oficiais nazistas à Argentina, após o final da Segunda Guerra Mundial, e o mistério pareceu resolvido: o que danificava as redes dos pescadores eram os restos de um naufrágio até então desconhecido, que não aparecia em nenhuma carta náutica.

Mas era bem mais que isso.

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Imagem: Reprodução

Tratava-se - na opinião certeira dos pesquisadores do projeto - de um submarino alemão da Segunda Guerra Mundial, que ali fora afundado intencionalmente, após ter desembarcado secretamente seus ocupantes em solo argentino.

Isso corroborava a tese do grupo de que muitos oficiais nazistas altamente graduados - incluindo o próprio Hitler - haviam fugido para a Argentina ao final do conflito, o que contradizia a versão oficial da Comissão de Esclarecimento das Atividades Nazistas na Argentina, criada pelo governo argentino em 1990, que concluiu que só dois submarinos alemães haviam chegado ao país após a guerra (os u-boats U-530 e U-997), e que ambos haviam se rendido, sem realizar nenhum desembarque clandestino.

Expedição reveladora

Após muito insistir, o jornalista e historiador Abel Basti, líder do grupo Eslabón Perdido, conseguiu que a Prefectura Argentina, uma espécie de Guarda Costeira do país vizinho, organizasse uma expedição até o local do naufrágio, dois anos atrás.

Na ocasião, ficou comprovado que havia, de fato, uma desconhecida embarcação naufragada no local, a 28 metros de profundidade, com cerca de 80 de comprimento por 10 de largura, e formato que sugeria ser o de um submarino, embora bastante destruída.
Apesar disso, a entidade se negou a afirmar de que se tratava de um U-boat alemão, tal o estado dos destroços.

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Lixo sobre o naufrágio

Mas os pesquisadores do grupo não se deram por vencidos, e organizaram outra expedição ao local, duas semanas atrás.

E o que eles encontraram, deixou Basti entusiasmado e desanimado, ao mesmo tempo: sobre os escombros do naufrágio agora jazem toneladas de sucatas metálicas (vigas, pedaços de estruturas, etc), que foram lançados exatamente naquele local, em mar aberto, a oito quilômetros da costa de Necochea, com a evidente intenção de escondê-lo, ou, no mínimo, dificultar o acesso de eventuais mergulhadores.

"Não foi coincidência"

"Não faz o menor sentido gastar dinheiro para transportar sucata por quilômetros mar adentro, além do que lançar lixo no mar é algo ilegal. Mas, aparentemente, foi o que foi feito. E justamente sobre o naufrágio. Isso certamente não foi uma coincidência", diz o líder do grupo Eslabón Perdido, que, ao mesmo tempo em que reconhece que agora ficará bem mais difícil comprovar a identidade do submarino, vê o ato criminoso como sendo uma espécie de comprovação de que estão certos.

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"Aquelas sucatas não estavam lá quando aconteceu a expedição da Prefectura Argentina, em junho de 2022. E a prova disso é que elas não estão cobertas de incrustações marinhas, como acontece com qualquer coisa que fica debaixo d´água por muito tempo", analisa.

"Foi um ato proposital, com certeza. Não sei dizer quem o fez, nem posso fazer especulações. Mas a questão é: a quem interessaria dificultar a identificação de um submarino alemão secreto da Segunda Guerra Mundial, como certamente é o que está afundado lá?", questiona Basti.

"Espero que esse caso seja investigado", diz o pesquisador.

"Se antes já era difícil identificar o submarino, porque ele foi explodido pela sua tripulação após cumprir a missão de desembarcar pessoas e cargas no litoral argentino, agora ficou ainda mais. Mas temos como contornar isso", garante.

"Temos oito horas de filmagens submarinas feitas nos destroços, e elas nos ajudarão a provar que se trata de um submarino alemão da classe IX, como nós e os especialistas que estão nos ajudando na identificação suspeitamos que seja", diz Basti, que tem passado os últimos dias debulhando, quadro a quadro, as imagens em vídeo, em busca de detalhes que comprovem a tese a grupo, através de comparações com submarinos alemães da época.

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"Apesar de o submarino estar bastante destruído, dá para identificar diversas partes, como sendo a de um submarino", garante.

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Para chegar a esta conclusão, peritos se basearam em imagens que mostram o que seria uma escotilha, um pedaço da torre (parte saliente em qualquer submarino) e uma haste fina e comprida, que todos interpretaram, sem nenhuma dúvida, como sendo um periscópio, equipamento que só os submarinos possuem.

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"Hitler fugiu em um submarino"

Abel Basti é um pesquisador abnegado e autor de uma dezena de livros, que, segundo ele, comprovam, através de documentos, que após o fim da Segunda Guerra Mundial teria havido uma evacuação em massa de graduados oficiais nazistas para a Argentina, a começar pelo próprio Hitler - que, segundo ele, viveu incólume na Argentina até morrer, de causas naturais, aos 80 anos de idade, no Paraguai, tendo inclusive visitado o Brasil em pelo menos uma ocasião.

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"A fuga para a Argentina era o Plano B de Hitler, caso perdesse a guerra. E foi o que ele fez, com oficiais nazistas, a bordo de submarinos, que aqui chegavam clandestinamente, mas com a conivência do governo argentino, que desde a década de 1930 mantinha estreita relação com os alemães", garante o historiador.

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"Veja bem", reforça Basti. "Eu não 'creio' nisso, porque crença tem a ver com opinião e religião. Eu me baseio em documentação, a mesma que me permite afirmar que o que está debaixo d´água no litoral de Necochea é um submarino alemão não registrado nos documentos oficiais argentinos, e que ele não é o único nessa situação", garante.

"Muitos outros submarinos chegaram ao litoral da Argentina em 1945, além daqueles dois que se renderam. Tanto que o assunto é classificado como 'Segredo Militar' pelo governo argentino até hoje, e isso explica por que nunca colaboraram com as nossas pesquisas. Mas tenho esperanças de que o novo governo mude isso".

História terá que ser reescrita?

Se a tese de Basti (de que diversos submarinos alemães chegaram secretamente à Argentina ao fim da guerra) estiver correta - como, ao que parece, está - parte da história argentina terá que ser reescrita, porque oficialmente o governo argentino só reconhece a chegada ao país daqueles dois submarinos que se renderam em uma base militar de Mar Del Plata, em agosto de 1945, em um estranho episódio, nunca devidamente explicado.

"Aqueles dois submarinos estavam apenas dissimulando a operação de chegada em massa de oficiais nazistas à Argentina, enquanto outros desembarcavam seus ocupantes em diferentes pontos da costa do país", garante o historiador.

"O submarino que nós encontramos foi apenas um deles. Há muitos mais", assegura Basti, que diz já perdido as contas de quantas vezes foi chamado de "louco", por defender argumentos como a fuga do próprio Hitler para a Argentina, a bordo de um submarino.

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"A falta de evidências do suposto 'suicídio' dele na Alemanha não é por acaso. Hitler escapou vivo para a Argentina, com a conivência dos próprios Aliados", garante.

"Tenho tudo isso documentado. E agora vou fazer o mesmo com esse submarino, que contradiz o que o governo argentino sempre disse a respeito do assunto".

Outros submarinos misteriosos

Curiosamente, a história argentina registra que aquela não teria sido a única vez em que a costa do país fora visitada por submarinos misteriosos, com objetivos escusos.

Mais uma década depois dos episódios relacionados à Segunda Guerra Mundial, ocorreram, pelo menos, outros dois casos de chegadas de submarinos secretos ao litoral argentino, ambos intrigantes até hoje.

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Em 1958, um submarino jamais identificado invadiu a área onde estava ocorrendo um exercício militar argentino, e jamais ficou claro se ele fora afundado ou escapara incólume.

Dois anos depois, outro submarino desconhecido passou 17 dias brincando de gato e rato com aviões e barcos da Armada Argentina em uma baía do sul do país, até que partiu, sem ser oficialmente identificado, fato que supostamente teve a ver com a Guerra Fria entre União Soviética e Estados Unidos, como pode ser conferido clicando aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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