Histórias do Mar

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Leões-marinhos invadem São Francisco, nos EUA, e isso é uma boa notícia

Desde que, no final da década de 1980, os primeiros leões-marinhos começaram a chegar a um certo trapiche de São Francisco, na costa Oeste dos Estados Unidos, atraídos pela fartura de comida e ausência de predadores nas águas da baía que banha a região, que visitar a grande colônia destes animais que se formou no local, o Píer 39, virou uma das principais atrações turísticas da segunda maior cidade da Califórnia.

Hoje, não há turista que visite San Francisco que não vá ao Píer 39, um complexo de restaurantes, lojinhas e atrações de entretenimentos, para ver os leões-marinhos que habitam as suas plataformas flutuantes, no passado destinadas aos barcos, mas hoje totalmente ocupadas pelos animais.

Sempre há muitos deles no local. Mas poucas vezes tantos quanto agora.

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Imagem: JUSTIN SULLIVAN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

Em busca do recorde histórico

Nas últimas semanas, centenas e centenas de novos leões marinhos passaram a chegar aos trapiches já superlotados do Píer 39, fazendo com que a população local disparasse, e se aproximasse do recorde histórico de 1,7 mil animais ao mesmo tempo, registrado em novembro de 2009.

Na semana passada, o censo realizado periodicamente pelos funcionários do local, registraram mais de 1 000 animais nos trapiches, a maior quantidade dos últimos 15 anos.

E, a cada dia, chegam mais leões marinhos.

Por que isso está acontecendo?

A explicação está na abundância de arenques e anchovas - dois dos alimentos preferidos dos leões-marinhos -, que este ano invadiram o mar da Baía de São Francisco.

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No rastro dos cardumes, vieram também novos leões-marinhos, que não fazem parte da colônia habitual, muitos deles a caminho do acasalamento no sul da Califórnia, que começa no mês que vem.

"É tudo uma questão de comida", simplifica a responsável pelo local, remontando ao surgimento do fenômeno, por volta de 1989.

Como tudo começou

Naquela época, um leão-marinho macho e adulto - logo batizado de Flea Collar ("Coleira Antipulgas", em português), porque tinha um pedaço de rede de pesca enrolado em volta do pescoço -, chegou à um dos trapiches de madeira do Píer 39, atraído pela fartura de alimento e segurança da baía.

Flea Collar passou a subir nos trapiches para descansar entre uma pescaria e outra, e ali ficou para sempre.

Logo surgiram outros animais, atraídos pelos mesmos motivos.

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Era o início de uma improvável colônia urbana de leões-marinhos bem no coração de uma das principais metrópoles dos Estados Unidos.

Eles expulsaram os barcos

A princípio, os responsáveis pelo píer ficaram preocupados, porque não sabiam como lidar com o incômodo problema, já que os animais fediam e faziam muito barulho.

Eles, então, procuraram os especialistas de um centro de estudos de mamíferos marinhos, e foram aconselhados a não fazer nada, deixando a critério dos próprios animais a decisão de conviver ou não próximos aos humanos. E os leões-marinhos escolheram ficar para sempre.

Aos poucos, a medida em que a colônia ia aumentando de tamanho, os barcos foram perdendo espaço nos trapiches, até que todos os píeres passaram a ser ocupados apenas pelos animais, situação que persiste até hoje - e que, se depender dos donos do local, jamais irá mudar, porque os leões-marinhos, sempre estirados sob o generoso sol da Califórnia, atraem muito mais visitantes do que simples fileiras de lanchas.

Um fedor permanente

O único problema é o permanente mau cheiro, causado pelo acúmulo de fezes dos animais nos trapiches, uma vez que os funcionários não dão conta de limpá-los - muito menos agora, com o aumento brutal da população local.

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Mas os turistas não parecem se incomodar muito com isso - tapam os narizes e fazem seguidas selfies, com o amontoado de peludos ao fundo.
Ainda mais agora, que os trapiches estão 100% ocupados pelos leões-marinhos.

Câmeras online dia e noite

Píer 39
Píer 39 Imagem: Reprodução

A popularidade dos leões-marinhos do Píer 39 é tão grande que a administração do local instalou câmeras que transmitem imagens dos trapiches em tempo real, via internet, para quem não puder ir lá pessoalmente. Ou quiser monitorar o melhor momento de visitá-los, quando todos os animais retornam aos trapiches, após capturarem toneladas de anchovas no mar da baía.

"Estamos muito felizes com o aumento estupendo na quantidade dos leões-marinhos, porque isso comprova que a população da espécie está saudável", diz a responsável pelo Píer 39. "E torcemos para que mais animais ainda cheguem nesta primavera".

Um caso oposto

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Imagem: Reprodução
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Embora toda essa alegria tenha muito mais a ver com os lucros que aqueles animais trazem para o comércio local, é inegável que, há muito, os leões-marinhos do Píer 39 deixaram de ser encarados como um problema, para se tornar uma das atrações turísticas mais populares da cidade.

No entanto, nem todo mundo pensa dessa forma, quando visitantes marinhos não muito desejados chegam às grandes cidades e ameaçam a tranquilidade.

Foi o que aconteceu em Oslo, capital da Noruega, dois anos atrás, quando uma grande morsa - uma espécie de prima avantajada das focas e leões-marinhos - chegou à uma marina da cidade, e, sem a menor cerimônia, passou a invadir - e até afundar - alguns barcos, com seus mais de 600 quilos de peso.

Batizada de Freya, a deusa nórdica do amor, a grande morsa rapidamente angariou inúmeros fãs em todo o país.

Mas nem isso a livrou de um fim tão cruel quanto polêmico, quando, em nome da segurança pública, o governo norueguês decidiu executar o animal, em uma ação que gerou protestos no mundo inteiro - clique aqui para conhecer este triste caso, que ilustra justamente o oposto do que aconteceu em São Francisco, com os seus mais que bem-vindos leões-marinhos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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