O incrível dinheiro que sobreviveu a naufrágio e valorizou 6.000.000%
No dia 2 de julho de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, o navio inglês SS Shirala, que partiu de Londres rumo à Bombaim - hoje Mumbai -, na Índia, foi torpedeado no Canal da Mancha. E afundou.
Ao ser engolido pelas águas, parte da carga que ele transportava (pacotes de cédulas de dinheiro de rupias indianas, que haviam sido impressas na Inglaterra e seguiam para a Índia) saiu boiando, e, nos dias subsequentes, foi dar nas praias da região - para alegria dos moradores locais, que, mesmo sabendo que nada poderiam fazer com aquelas notas na Inglaterra, tinham a consciência de que elas valiam algo.
Afinal, tratava-se de dinheiro!
Muitos deles recolheram e guardaram em suas casas algumas cédulas, que, mais tarde, foram passando de pai para filho, como simples lembranças.
Até que, recentemente, o Banco da Inglaterra relembrou a história das rupias perdidas do SS Shirala nas suas redes sociais, e o assunto voltou, literalmente, à tona.
Foi o bastante para logo começarem a pipocar nos mercado de colecionadores cédulas sobreviventes daquele naufrágio, que estavam em mãos de descendentes dos seus captores, 106 anos depois.
E duas delas, ambas de 10 rupias (equivalentes, em rupias de hoje, a pouco mais de R$ 0,60 cada), foram leiloadas na semana passada, em Londres, pelo equivalente a mais de 1,2 milhão de rupias atuais, ou cerca de R$ 75 mil, uma valorização superior a 6.000.000% do seu valor original - nada mal para duas cédulas que, em moeda de hoje, valeriam pouco mais de R$ 1,20.
Valor superou a expectativa
Mas, obviamente, a conta é outra, porque as duas cédulas leiloadas não foram vendidas pelo valor que elas tinham no passado, e sim pelo valem hoje, em função do seu valor histórico - sobretudo, pela história que há por trás delas.
Quando o SS Shirala afundou, matando oito do seus 213 passageiros e tripulantes, a polícia inglesa tratou de recolher - e destruir - as cédulas que chegaram às praias.
Mas não conseguiu impedir que alguns moradores saqueassem pacotes de dinheiro vindos do mar, e escondessem cédulas em casa - como as duas leiloadas na semana passada pela casa londrina de leilões Noonans Mayfair, que, como de hábito, não divulgou os nomes dos compradores.
O valor atingido no leilão superou a expectativa dos próprios leiloeiros. Eles esperavam arrecadar algo em torno de 2500 libras esterlinas (cerca de R$ 17000) pelas duas cédulas. Mas conseguiram quase cinco vezes isso.
"O valor excepcional foi devido, também, ao estado extraordinário de preservação das cédulas", explicou a chefe do departamento de numismática da casa leiloeira, Thomasina Smith.
"Elas estavam praticamente perfeitas para cédulas em papel que fizeram parte de um naufrágio de mais de um século atrás", disse Thomasina. "Acho que deviam estar no meio de um grande pacote de cédulas bem amarradas, e isso as protegeu do contato direto com o mar".
O museu do próprio Banco da Inglaterra, que reavivou a história na internet, possui um destes pacotes de rupias resgatadas do naufrágio do SS Shirala em exibição. As cédulas estão grudadas umas às outras, petrificadas, mas as centrais perfeitamente conservadas.
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Não valiam nada
O mais curioso é que, apesar do alto valor conquistado na transação, as cédulas leiloadas sequer teriam valor legal algum na época do naufrágio, porque ainda não estavam assinadas pelo representante do governo da Índia - um procedimento comum em certos países até hoje, como nas notas de dólares, por exemplo.
"Elas só valeriam depois que estivessem assinadas, mas isso as tornou ainda mais interessantes e, portanto, mais valiosas, pela sua raridade", explicou a representante da Noonans Mayfair.
"A boa qualidade do papel também ajudou a preservar as notas", completou.
Mergulhadores ainda buscam dinheiro
Também contribuiu para esta preservação das notas o fato de o SS Shirala, que transportava passageiros e cargas generalizadas - de peças de automóveis a latas de marmelada, sem falar nos pacotes de dinheiro -, ter sido afundado bem perto da costa, o que reduziu o tempo de permanência das cédulas no mar, antes de chegarem às praias.
Mesmo assim, alguns pacotes só retornaram à superfície tempos depois, o que tornou ainda mais surpreendente o seu estado de conservação, já que ficaram totalmente submersas.
Hoje, os escombros do navio, que estão a cerca de 25 metros de profundidade, são visitados regularmente por mergulhadores amadores, em busca de suvenires do naufrágio.
Ou - quem sabe? - de um pacote ainda intacto de cédulas de rupias, que, a julgar pelo valor conseguido no leilão da semana passada, deixariam qualquer um feliz da vida.
Outro caso famoso
Não foi a primeira vez que um naufrágio do passado deixou os britânicos eufóricos com o que mar levou para as suas praias.
Também na época da guerra - neste caso, a Segunda; não a Primeira -, outro navio, que transportava muitas garrafas de uísque, afundou na costa da Escócia, derramando no mar caixas e mais caixas do precioso líquido, cujo venda, na época, por conta da guerra, estava proibido.
Ao descobrirem isso, todos os moradores da ilha Eriskay, na costa escocesa, bem diante do local do naufrágio, passaram a brincar de gato e rato com a Polícia, enquanto saqueavam - e consumiam - as caixas de uísque.
Até que, bêbados, passaram a cometer uma serie de besteiras, que acabaram por render um divertido espetáculo musical, até hoje famoso em todo o Reino Unido - clique aqui para conhecer esta outra interessante, história de algo bastante improvável que chegou pelo mar.
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