Crânio 'pescado' em lagoa intriga uma cidade inteira em Alagoas
Há uma semana que os pouco mais de 3.600 habitantes da pequena cidade alagoana de Mar Vermelho - que, apesar do nome, fica no interior do estado, a mais de 100 quilômetros do litoral - andam encafifados: de quem será aquele crânio humano que foi "pescado" dentro de uma lagoa no centro do município, na quinta-feira da semana passada, se não falta ninguém na cidade?
Em um lugar onde praticamente nenhum crime acontece, e todo mundo se conhece, o desaparecimento de alguém logo seria percebido.
"Mesmo se fosse coisa antiga, o pessoal lembraria, porque aqui não acontece nada", diz o secretário de turismo Josué Marcos, que não achou de todo ruim o macabro achado, porque colocou a cidade no noticiário, e isso, de certa forma, ajuda a divulgar o Festival de Inverno de Mar Vermelho, que acontecerá em agosto.
"Quando a gente tirou o crânio da água, veio gente de todo canto ver. Mas ninguém sabia quem era o dono dele", contou um dos pescadores responsáveis pelo achado, que veio, acidentalmente, na rede de um grupo de moradores, que pescava na lagoa.
"Foi meio assustador, porque o bicho era bem feio. Teve gente que até fez vídeo".
Cidade é a "Suiça Alagoana"
O inesperado achado - e a forma inusitada como foi encontrado, pescado no fundo do lago - viralizou na internet e ajudou a aumentar a fama regional de Mar Vermelho, que se autointitula "A Suiça Alagoana" - porque é cidade mais "fria" de Alagoas, com temperaturas que podem descer aos 10 graus centígrados, nas noites de inverno. Como agora.
"Dizem até que já fez 7 graus", garante o secretário de turismo da cidade.
"Aqui, todo mundo tem casaco, coisa rara no Nordeste. E vem muita gente de fora, pra curtir o frio. Temos até um chalé alpino, com aquecedor e tudo", diz o secretário, orgulhoso da peculiaridade de Mar Vermelho, que fica a 636 metros de altitude em relação ao mar de verdade - e não o que batiza a cidade, que tem esse estranho nome justamente por conta do tal lago onde foi pescado o crânio humano.
"Antigamente, tinham muitos pés de gravatás na beira do lago, e as flores, vermelhas, caíam na água. Daí, alguém batizou o lago de Mar Vermelho, e ficou", conta o secretário, que também se orgulha de já ter levado para o Festival de Inverno da cidade artistas como Michel Teló, Zezé de Camargo e Luan Santana - embora às custas de críticas pelo que isso costuma custar aos cofres do pequeno município, o segundo menor de Alagoas, que, por sua vez, é o segundo menor estado do país.
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Quero receber"Não é despesa", rebate o secretário. "É investimento em turismo. Vem muita gente pra cá, pra ver os shows. Já somos o quarto maior festival de inverno do Nordeste. E o único onde faz frio de verdade", argumenta.
Ninguém sabe quem foi
Quando o crânio foi pescado o lago, no fundo de uma tarrafa, os moradores de Mar Vermelho passaram a puxar na memória por desaparecimentos que tivessem acontecido na cidade. E não lembraram de nenhum.
"Que eu saiba, nos últimos 20 anos não sumiu ninguém aqui. Só se foi alguém que se afogou muito antigamente", opina o secretário de turismo da Suiça Alagoana.
"Mas o estranho é que esse lago foi esvaziado, para obras, em 2016, e não tinha crânio nenhum nele. Só se estava soterrado, e só apareceu agora", arrisca.
Um mistério para sempre?
No dia do estranho achado, a Polícia foi chamada e levou o crânio embora, para "perícias".
Mas, como ninguém apareceu para reclamar o desaparecimento de algum parente, nem ninguém sentiu falta de alguém na cidade nas últimas décadas, quase ninguém acredita que o dono daquele crânio seja identificado.
"Acho que vai virar um mistério pra sempre", arrisca um dos pescadores que estava no lago, naquele dia. "E isso vai deixar a cidade ainda mais falada".
O "Crânio de Mar Vermelho"
Em um país farto em investigações policias que não chegam à conclusão alguma, não será nenhuma surpresa se o "Crânio de Mar Vermelho", como o bizarro caso passou a ser chamado, se tornar apenas mais uma delas - até porque, nesse caso, não há ninguém pressionando a Polícia pela identificação da vítima.
O mais provável é que, com o tempo, o caso seja "arquivado", e se torne apenas mais um fato curioso daquela pequena cidade alagoana, que tem mar no nome, embora fique bem longe dele.
Outros casos semelhantes
Em todo o país, isso acontece quase todos os dias. Até porque não é nada fácil identificar apenas ossos, quando não se tem pista alguma da sua origem.
E, mesmo quando há, nem sempre as investigações avançam.
Como as ossadas humanas encontradas em barcos que chegaram à deriva ao litoral das regiões Norte e Nordeste, recentemente - nove pessoas no Pará, duas no Amapá e três no Ceará.
Todas foram enterradas sem nenhuma identificação, e nada indica que isso, um dia, possa acontecer.
No caso cearense, foi pior ainda. Mesmo havendo fartura de evidências para as investigações (telefones celulares, cartões bancários, números de telefone, etc), as vítimas não foram identificadas, e o caso foi arquivado (clique aqui para conhecê-lo).
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