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Reportagem

Após promessas de remoção, baleia segue confinada em shopping na Coreia

Três meses atrás, encurralados diante de uma grande manifestação de ambientalistas, os responsáveis pelo maior aquário da Coréia do Sul, o Lotte World, que fica no mesmo complexo do sexto edifício mais alto do mundo e pertence a um dos maiores conglomerados sul-coreanos -, prometeram atender ao pedido dos manifestantes e remover do acanhado tanque no qual vive há mais de dez anos a principal estrela daquele empreendimento: uma baleia beluga, chamada Bella.

Mas, o tempo passou, as manifestações arrefeceram e nada aconteceu, a despeito da promessa feita naquela ocasião: Bella segue sendo mantida em um infame tanque de vidro e concreto, cujo tamanho mal permite a ela nadar direito.

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Imagem: Hot Pink Dolphins

Já tinham prometido antes

Não foi a primeira vez que os responsáveis pelo aquário da capital sul-coreana prometeram tirar o animal de lá e não o fizeram.

Em 2021, por conta de outra manifestação diante do aquário, o grupo havia anunciado que "estava trabalhando para proteger os direitos dos animais, e pronto para enviar Bella para um local mais adequado, com base em um projeto científico e prático de remoção".

Mas isso também nunca aconteceu.

Dentro de um shopping center

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Imagem: Lotte World Aquarium
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Até hoje, Bella segue nadando eternamente em círculos - ou flutuando apática, sem sair do lugar, na superfície -, dentro de um tanque estéril e acanhado para o seu porte, em um shopping no coração da metrópole asiática, apenas para entreter os visitantes e dar lucro, com a venda de ingressos, aos donos do aquário - os mesmos que prometem tirá-la de lá, mas nunca o fazem.

Capturada na natureza

O triste destino de Bella começou a ser escrito 11 anos atrás, em 2013, quando ela foi capturada, ainda filhote, nas águas do Ártico, e vendida para o aquário sul-coreano, que buscava uma atração de peso para o negócio - que logo passou a ser um dos mais visitados de Seul.

Juntamente com ela foram capturados outros dois filhotes, ambos machos, que foram batizados de Bello e Belli.

Mas, três anos depois, Bello morreu no tanque, quando tinha apenas cinco anos, embora a expectativa de vida da espécie, quando solta na natureza, seja dez vezes mais que isso.

Três depois, o outro macho, Belli, também morreu, possivelmente por depressão.

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"Comportamento de estresse"

Bella, então, passou a viver sozinha no aquário, dando voltas e voltas sem parar, servindo para selfies dos visitantes, que não raro ficam batendo no vidro para chamar sua atenção.

Como a própria expressão das belugas sugere que elas estão sempre sorrindo, tal qual os golfinhos, os visitantes do aquário costumam ter a falsa impressão de que Bella vive bem. Mas não.

"No tanque, Bella exibe um comportamento de estresse e tédio, pelo seu confinamento em solitário há anos", diz Jo Yak-gol, cofundador do projeto Hot Pink Dolphins, dedicado a lutar para que golfinhos e cetáceos não mais sejam exibidos em aquários, e um dos ambientalistas mais ativos no caso do aprisionamento de Bella na capital sul-coreana.

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Imagem: Reprodução

Virou símbolo mundial

Bella é uma das cinco belugas que ainda vivem confinadas em aquários na Coréia do Sul - clique aqui para ver vídeo do tanque no qual ela vive.

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Mas, pela repercussão do seu caso - e pelo seguido pouco caso dos responsáveis pelo Lotte World Aquarium em cumprir a promessa feita, três anos atrás -, Bella passou a simbolizar mundialmente os movimentos que pedem a remoção destes animais para santuários, já que, por estarem confinados há tanto tempo em tanques, eles não têm mais condições de sobreviverem soltos na natureza.

"Bella foi retirada muito cedo do seu habitat natural e devolvê-la à natureza está fora de cogitação. Ela morreria rapidamente, de fome ou vítima de predadores", explica um dos ambientalistas que lutam para que ela seja transferida para um local mais adequado, longe dos visitantes.

Petição a favor do animal

Na época dos primeiros protestos, os responsáveis pelo aquário sul-coreano disseram que estavam conversando com santuários da espécie na Islândia, Noruega e Canadá, para a transferência de Bella.

Mas nada aconteceu desde então, bem como desde a última manifestação, três meses atrás.

Por isso, os ambientalistas decidiram criar uma petição na internet, para que pessoas do mundo inteiro pressionem os donos do Lotte World Aquarium para que cumpram a promessa feita (clique aqui para assinar, você também, a petição).

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Pode ficar no tanque para sempre

Tecnicamente, as belugas não são baleias nem golfinhos, mas uma espécie própria, caracterizada, sobretudo, pela cor branca da sua pele.
São animais altamente inteligentes e, também, gregários (ou seja, que vivem em grupos) e migratórios - duas características que foram proibidas à Bella, na sua vida dentro de um aquário.

Que, legalmente, pode continuar para sempre.

Lei só vale para novos animais

No final do ano passado, o governo da Coréia do Sul proibiu a compra ou captura de baleias e golfinhos para exibição em shows e espetáculos.

Mas, para infelicidade de Bella - e dos demais animais na mesma situação que ela -, a lei não se aplica aos que já estavam em cativeiro.

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E nada indica que isso possa mudar.

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Imagem: Lotte World Aquarium

"Só nos resta protestar e cobrar para que a Lotte cumpra a promessa de levá-la para um santuário", diz Jo Yak-gol, do Hot Pink Dolphins, que tem recebido apoio de entidades do gênero do mundo inteiro.

"Ela está no corredor da morte"

O diretor de dessas entidades, a Dolphin Project, do especialista americano Richard O´Barry - um ex-treinador de golfinhos para a série de TV Flipper que passou para o lado contrário quando viu animais se suicidando nos tanques - vai bem mais longe no protesto:

"Tal qual os outros dois filhotes que não suportaram a vida no aquário, Bella também está no corredor da morte", diz O'Barry.

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"Mantê-la ainda em cativeiro é algo simplesmente asqueroso", completa o especialista, que, no entanto, tem um passado um tanto polêmico envolvendo a soltura de animais marinhos.

Sobretudo no Brasil.

Um triste caso brasileiro

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Imagem: Dolphin Project

Nos anos de 1990, O'Barry foi trazido para o Brasil para reintroduzir na natureza um famoso golfinho (não por acaso também batizado de "Flipper"), na época usados em shows aquáticos em um aquário de São Vicente, no litoral de São Paulo.

Durante um mês e meio, O´Barry aplicou técnicas próprias para o recondicionamento do animal à vida no mar, dentro de um cercado montado à beira do canal de acesso ao porto de Laguna, em Santa Catarina, onde aquele golfinho havia sido capturado, nove anos antes.

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Até que, um dia, o americano decidiu que o animal já estava preparado, e o soltou no mar - para muitos, uma operação precipitada, provocada pela pressa do americano em voltar para casa.

O resultado foi que Flipper jamais se reintegrou aos demais golfinhos e acabou morrendo dois anos depois, após aparições esporádicas nas praias da região - clique aqui para ler essa triste história, que ilustra bem como são complexas as questões que envolvem os animais criados a vida inteira em cativeiro, como é caso da infeliz beluga sul-coreana Bella.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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