Histórias do Mar

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Reportagem

Inglês tentará de novo cruzar o Atlântico com barco de 1,20m de comprimento

Em maio do ano passado, o inglês Andrew Bedwell partiu da costa leste do Canadá com um objetivo pra lá de audacioso: atravessar o Atlântico Norte, até a costa da Inglaterra, a bordo de um barquinho menor do que ele próprio: o Big C, que tinha apenas 1,20 m de comprimento.

Sim, você leu direito: 1,20m de comprimento - pouco mais do que uma poltrona.

O objetivo dele era bater o recorde da travessia do Atlântico com o menor barco de todos os tempos, e assim entrar para o Livro dos Recordes.

Mas a aventura não foi longe.

Na verdade, nem chegou a começar.

Desistiu duas horas depois

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Imagem: Divulgação

Um par de horas depois de deixar o porto da cidade de St. John, Bedwell, então com 49 anos de idade, decidiu abortar a travessia, porque o seu minúsculo barquinho - sem nenhuma redundância linguística - começou a encher de água, correndo o sério risco de afundar.

Ele, então, deu meia volta e tratou de voltar o mais rápido possível ao porto.

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Bedwell chegou a tempo de evitar o naufrágio. Mas, uma vez no porto, veio o desastre.

Quebrou feito um ovo

Na hora de erguer e retirar o micro barco da água (que, de tão pequeno e inundado, mais parecia uma caixa d´água), o cabo do guindaste soltou e o veleiro-casulo do inglês se espatifou no chão, feito um ovo.

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"Estou arrasado", disse Bedwell, na ocasião, chorando copiosamente, em um vídeo que postou nas suas redes sociais.

Já a mulher e a filha dele reagiram de outra forma ao infortúnio:

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"É melhor ver você chorando porque teve que desistir da travessia, do que nós fazendo o mesmo, porque você não voltou mais para casa", responderam as duas, aliviadas pelo fracasso da maluquice que Bedwell pretendia colocar em prática.

Mas não adiantou muito.

Tentará de novo

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Imagem: Divulgação

Agora, Bedwell anunciou que irá tentar, de novo, atravessar um oceano inteiro espremido dentro de uma espécie de caixa de sapatos flutuante.
Será em maio do ano que vem, mas, desta vez, ele usará um novo barco. Embora tão minúsculo quanto o anterior.

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O anúncio foi feito na semana passada, durante um salão náutico em Southampton, na Inglaterra, no qual Bedwell exibiu o seu novo micro-barco, ainda inacabado, porque ele diz precisar de doações em dinheiro para terminá-lo, como explicou aos incrédulos visitantes que paravam para observar o barquinho e, intimamente, duvidar que alguém consiga passar três meses espremido dentro dele, atravessando o segundo maior oceano do mundo - que é o que Bedwell pretende fazer.

Menor que uma bicicleta

O novo micro-veleiro do inglês - gaiatamente batizado Big ("Grande") C, já que a letra "C", em inglês, tem a mesma pronúncia da palavra "Mar") tem exatamente o mesmo tamanho do anterior: 3 pés e 9 polegadas, ou exatos 114,3 centímetros - menos que uma bicicleta, por exemplo.

Já o seu formato é outro, bem como o material com o qual está sendo construído: alumínio, em vez de fibra de vidro, como o primeiro barco - e que, por isso mesmo, se partiu feito um ovo ao cair daquele guindaste.

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"Ele é mais alto e mais profundo, para ter mais estabilidade no mar", diz Bedwell, um aventureiro que os jornais ingleses classificam como um sujeito destemido, mas temerário. "Ele só não é maior que o barco anterior, porque o meu objetivo é que seja sempre o menor possível".

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Só a cabeça para fora

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O barquinho com o qual Bedwell pretende entrar para a História - espera-se que de forma positiva, e não como vítima de uma tragédia mais que anunciada - é uma caixinha de metal que ele diz ser "hermeticamente fechada e à prova d´água", na qual, por razões óbvias, tudo é absolutamente mínimo, já que não existe espaço para nada.

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Bedwell navegará o tempo todo sentado, só com a cabeça para fora, e dormirá em posição fetal, já que seus 1m85 de altura não permitirão sequer esticar as pernas.

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A água para beber virá do próprio mar, através de um dessalinizador manual portátil, equipamento que transforma água do mar em potável, que ele levará no barco.
E a energia, de uma placa solar compacta, instalada junto ao mastro, que por sua vez sustentará uma micro vela, que, de tão pequena, deverá limitar a velocidade do barco a menos de 5 km/h (a pé, seria mais rápido), apesar de a distância a ser percorrida ser de quase 3 500 quilômetros.

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Mesma comida, todos os dias

Banheiro, não terá. Até porque seria impossível instalá-lo em um barco com praticamente o tamanho de um simples vaso sanitário.

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Bedwell fará suas necessidades no próprio mar ou em balde, dentro da cabine, onde, por sinal, ele passará 100% do tempo, porque do lado de fora não há espaço sequer para um passo.

Seu equipamento de segurança se limitará a um simples colete salva-vidas, já que qualquer bote de apoio seria maior que o próprio barco.

Já a comida (uma pasta feita à base de carne-seca e uvas passas, que ele mesmo inventou e comerá todos os dias) será acomodada em embalagens maleáveis que se moldaram nas paredes internas da cabine, uma vez que não há espaço para armários.

"Eu comerei o próprio barco", brinca o inglês, que se diz "fortemente confiante" de que, desta vez, irá conseguir cruzar o Atlântico com um veleiro menor que uma geladeira duplex.

"O Big C não é confortável, mas é seguro", garante Bedwell. "Mas minha mulher continua achando que eu sou maluco".

De onde veio a inspiração

A busca pelo recorde de "navegador do menor barco do mundo a cruzar um oceano", tão sonhado por Bedwell, fez parte do seu projeto de vida de "fazer algo realmente incrível até os 50 anos de idade", que ele acaba de completar.

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A ideia veio de um livro que ele leu anos atrás, escrito pelo atual recordista da estripulia, o americano Hugo Vihlen, hoje com 92 anos de idade, que, em 1993, atravessou o Atlântico com um micro veleiro de pouco mais de um metro e meio de comprimento.

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Na época, Hugo Vihlen tinha um concorrente tão ousado quanto ele, o também inglês Tom McNally (apelidado de Crazy Sailor, ou "Velejador Maluco"), não por acaso, um dos ídolos de Bedwell.

Uma disputa insana

Entre as décadas de 1980 e 1990, Hugo Vihlen e Tom McNally protagonizaram uma disputa insana, para ver quem conseguia atravessar o Atlântico com o menor dos barcos.

Na ânsia de derrotar um ao outro, a cada nova investida, ambos passaram a reduzir, centímetro a centímetro, os tamanhos de seus barcos.

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Chegaram a ser impedidos pela Guarda Costeira Americana de partir dos Estados Unidos, por questões de segurança - clique aqui para ler esta curiosa história.

No final, o americano levou a melhor e ficou com o recorde.

Mas, talvez, apenas por que McNally tenha morrido antes de fazer uma nova tentativa, que já tinha programado.

Pois é isso que, agora, Andrew Bedwell quer tentar, de novo, daqui há oito meses.

Em nome do bom senso, resta torcer para que, até lá, ele mude de ideia.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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