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Reportagem

Toneladas de cocaína foram impedidas de sair do país em veleiro roubado

No dia 20 de setembro do ano passado, um bonito veleiro de 17 metros de comprimento, com a bandeira da Rússia na popa e o nome Albina pintado no casco, chegou ao Iate Clube de Natal, no Rio Grande do Norte.

Dele desembarcaram dois homens: um russo, que se apresentou como capitão da embarcação, e um tripulante da Lituânia.

Eles pagaram adiantado pela permanência do barco no clube por dois meses, mas em seguida - logo após a chegada ao local de uma jovem mulher da Letônia, que ficaria incumbida de cuidar do barco -, pegaram um avião e foram embora do país.

E nunca mais voltaram.

Por um bom motivo: eles eram traficantes internacionais de drogas e aquele bonito veleiro havia sido roubado na distante Croácia um ano antes, para ser usado no transporte de uma quantidade recorde de cocaína do Brasil para a Europa - algo como mais de 3,5 toneladas da droga.

Só que o plano não deu certo.

Operação frustrada

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Imagem: Divulgação PF Natal

Quem frustrou a operação foi a Marinha do Brasil e a Polícia Federal, que atuaram juntas para impedir que a droga chegasse até o veleiro roubado, e isso fez com que os dois traficantes desistissem da empreitada e fugissem do país em disparada, deixando no entanto aquela mulher incumbida de cuidar do barco, caso a operação pudesse ser prosseguida depois, o que também não aconteceu.

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Imagem: Agência Marinha de Notícias

A operação dos traficantes começou a desmoronar no dia anterior à chegada do misterioso veleiro à capital do Rio Grande do Norte, quando, a dezenas de quilômetros dali, na costa de Pernambuco, a Marinha do Brasil interceptou uma espécie de chata (barco de serviço, feito para transportar mercadorias), chamada Palmares 1.

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Imagem: Agência Marinha de Notícias

Nela, havia cinco homens e impressionantes 3,6 toneladas de cocaína acondicionada em pacotes, que - como ficaria comprovado mais tarde - seriam transferidas para o tal veleiro roubado na Croácia - o mesmo que, no dia seguinte à detenção da chata, chegou à Natal com uma bandeira russa, documentos falsos e o nome adulterado, já que originalmente se chamava Mischief ("Travessura", em português).

Ao serem informados pela tripulação da chata, por meio do rádio, da iminente abordagem da Marinha, os dois traficantes que estavam no veleiro em algum ponto do litoral de Pernambuco, à espera da droga, trataram de fugir e buscaram abrigo no Iate Clube de Natal, onde chegaram sem dar maiores explicações.

No dia seguinte, com a chegada daquela mulher da Letônia, foram embora, abandonando o barco e os planos de por em prática uma das maiores operações de tráfico de drogas já arquitetadas entre o Brasil e a Europa - no mínimo, a maior apreensão de cocaína já feita pela Marinha do Brasil no mar brasileiro.

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Imagem: Agência Marinha de Notícias

"Essa história ainda não terminou"

Os cinco tripulantes da chata foram presos em flagrante, por tráfico de drogas.

Já os dois ocupantes do veleiro escaparam ilesos, bem como a misteriosa mulher letã, que depois de ter o seu passaporte confiscado pela Polícia Federal - que, em seguida, teve que devolvê-lo, após ela contratar um advogado e conseguir na justiça o direito de ter o documento de volta -, embarcou em um avião e igualmente fugiu do país.

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Imagem: Divulgação PF Natal

Mas, segundo o delegado da Polícia Federal Gilberto Pinheiro, encarregado do caso, essa história ainda não terminou.

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"Estamos agora analisando o conteúdo, em russo, que estava em um celular que encontramos escondido no veleiro, porque ele pode ajudar a esclarecer como atuava aquela quadrilha, bem como dar detalhes de como seria o tráfico daquela impressionante quantidade de droga do Brasil para a Europa. Os dois ocupantes do barco, bem como a tal mulher, embora foragidos, serão indiciados por associação ao tráfico, e a investigação deve continuar no exterior", diz o delegado, que, no entanto, liberou o barco roubado para a devolução aos seus donos originais, na Croácia.

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Imagem: Divulgação PF Natal

"Eles não tiveram culpa alguma. Ao contrário, foram vítimas", diz o delegado, que só ficou sabendo que aquele bonito veleiro que havia chegado à Natal havia sido roubado na distante Croácia - e, mais tarde, associado àquela tentativa de tráfico recorde de cocaína do Brasil para a Europa - por um simples acaso, como pode ser conferido clicando aqui.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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