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Reportagem

Falha absurda causou naufrágio de navio da Marinha da Nova Zelândia

Embora uma investigação mais profunda ainda esteja em curso, um relatório prévio da Comissão de Inquérito que está analisando as causas do naufrágio do navio de pesquisas Manawanui, da Marinha da Nova Zelândia, no último dia 6 de outubro, na costa de Samoa, já concluiu que o principal motivo que causou a perda total do navio foi uma absurda falha da tripulação, que esqueceu de desligar o piloto automático ao tentar fazer uma curva não prevista no roteiro original.

Pior ainda: na ocasião, ao perceber que o navio não respondia aos comandos de mudança de rumo, os tripulantes, sob o comando da capitã britânica Yvonne Gray, deduziram que o problema estava nos controles dos propulsores e passaram a tentar resolvê-lo, em vez de realizar o mais óbvio dos procedimentos: checar se o piloto automático havia sido desligado, o que, na prática, implicaria em apertar apenas um botão.

"Infelizmente, aquela verificação de rotina não ocorreu", concluiu o pré-relatório, para total constrangimento da Marinha neozelandesa.

"Mas a ação da capitã Gray de decretar o abandono do navio antes que ele afundasse foi decisiva para salvar as vidas dos 75 ocupantes do Manawanui", acrescentou o relatório, tentando minimizar a situação, que resultou na perda de um dos navios mais novos da corporação, construído apenas seis anos atrás, a um custo de cerca de R$ 350 milhões.

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Imagem: New Zealand Defense Force

Como aconteceu?

O patético fim do Manawanui teve início no final da tarde do último dia 5 de outubro, quando durante um trabalho rotineiro de pesquisas marítimas na costa das ilhas Samoa, a tripulação tentou executar uma curva para estibordo (à direita), mas o navio não respondeu, por conta do piloto automático que estava ligado.

Sem se darem conta disso, os tripulantes da ponte de comando, subordinados à capitã Gray, passaram a realizar uma série de ações inúteis e desnecessárias, buscando a solução de um problema que não existia.

Ao mesmo tempo, tentaram deter o avanço implacável do navio na direção da bancada de recifes de corais existente diante da ilha, o que obviamente, não conseguiram, embora bastasse desativar o piloto automático.

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Após 12 minutos de ações equivocadas e atrapalhadas da tripulação, o Manawanui atropelou a primeira bancada de recifes da ilha e seguiu avançando por mais 600 metros, a uma consistente velocidade de 10 nós (cerca de 20 km/h), até a bancada seguinte, onde por fim parou, encalhado e danificado.

Só quando isso aconteceu é que a tripulação descobriu que o piloto automático estava acionado e o desligou. Mas já era tarde demais.

Meia hora depois, após tentar inutilmente dar ré no navio, a fim de livrá-lo da armadilha na qual havia caído, a capitã Gray determinou o abandono do Manawanui e todos os seus tripulantes foram levados para a ilha, nos botes de apoio do navio.

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Imagem: Reprodução/Profile BoatsThe New Zealand Herald

De lá, ficaram vendo o moderno navio neozelandês inclinar gradativamente no mar, na medida em que a água das ondas penetrava no casco, preso ao fundo pelo recife de coral - clique aqui ver vídeo.

Como um motorista desatento

O Manawanui resistiu às ondas durante toda aquela noite, mas na manhã seguinte foi vítima de uma série de incêndios, causados por curtos-circuitos em suas partes inundadas, o que selou de vez o destino do moderno navio.

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E afundou em seguida, nas rasas águas de Samoa, onde está até hoje e deverá ficar para sempre, porque o custo de remoção e recuperação do navio o torna praticamente inviável.

Apesar do relatório prévio da Comissão de Inquérito ter sido categórico sobre a causa do acidente, a conclusão da investigação só deverá ocorrer nos primeiros meses do ano que vem, quando, então, serão atribuídas responsabilidades e procedimentos disciplinares.

Especialmente contra a capitã Gray, que ao perceber que o navio seguia reto e não virava, como desejado, esqueceu de desacelerá-lo - como um motorista desatento, que não consegue deter o movimento involuntário de um automóvel automático.

Outro caso, pior ainda

Não foi a primeira vez - nem será a última - que um erro banal causa a perda de um navio inteiro.

Ao contrário, com os comandos marítimos cada vez mais automatizados, a vigilância humana sobre eles tende a ser reduzida, o que pode ser fatal em alguns casos.

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Imagem: mobilisation-nationale-wakashio

Recentemente, outro grande navio, o graneleiro japonês Wakashio, que seguia de Cingapura para o Brasil, acabou encalhando - e, mais tarde, foi dado como totalmente perdido - na costa das Ilhas Mauricio, por um motivo igualmente tolo: seus tripulantes haviam decidido se aproximar da ilha para captar sinais de celular a fim de ligar para seus familiares, mas o encarregado de conduzir o navio ficou tão empolgado com as conversas que esqueceu de desviá-lo da ilha, causando não só a perda do graneleiro como o maior desastre ambiental da história daquele país, como pode ser conferido clicando aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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