Pescador é resgatado três dias após ter sido obrigado a pular no mar
Na quarta-feira da semana passada, quando navegava em uma área distante da Indonésia, os tripulantes do navio liberiano MV Sikinos avistaram um homem à deriva no mar, vestindo apenas um colete salva-vidas, e o resgataram, um tanto surpresos com aquele achado.
Mas, impressionados mesmo eles ficaram quando ouviram o relato daquele homem (cujo corpo já tinha a temperatura de um quase cadáver, e a pele completamente enrugada pelo longo contato com a água salgada) de que ele estava no mar há três dias e três noites, depois de ter sido obrigado a se atirar na água pelos tripulantes do barco pesqueiro indonésio Putri Ayu, no qual ele embarcara como pescador, vinte dias antes - e desde então, sido permanentemente molestado, ameaçado, agredido, espancado e submetido a jornadas de trabalhos de mais de 20 horas consecutivas, sem descanso.
O homem era Afif Efendy, um indonésio de 37 anos, e o que ele dizia parecia ser verdade.
Mas o pior ainda estava por vir.
Obrigado a pular do barco
Segundo ele, três dias antes de resgatado, dois tripulantes do pesqueiro, armados com facas, o obrigaram a pular do barco em alto mar, caso contrário o matariam.
De acordo com o relato do pescador, o máximo que seus algozes permitiram (sem que sequer fossem repreendidos pelos demais tripulantes do barco, muito pelo contrário) foi que ele pegasse um colete salva-vidas, antes de se atirar no mar.
Quase que por milagre, após três dias boiando no mar, sem água nem comida, Efendy não só sobreviveu como foi avistado por um grande navio em movimento, algo igualmente difícil de acontecer.
Agressões, chutes e espancamento
Ao ser resgatado, boiando no mar graças a um esfarrapado colete salva-vidas, o pescador recebeu roupas, comida e foi alojado em uma cabine do navio até que um barco da patrulha marítima da Indonésia veio buscá-lo e o levou para exames médicos - embora, aparentemente, apesar da baixa temperatura corporal, causada por um princípio de hipotermia, ele estivesse bem de saúde.
Aos tripulantes do navio, o pescador também contou que aquela fora a sua primeira viagem naquele barco de pesca, que as agressões começaram logo que ele embarcou, e que foram aumentando de intensidade ao longo dos dias, com tapas, chutes e ameaças cada vez mais frequentes dos tripulantes mais antigos.
Até que, na noite de 8 de dezembro, ele disse ter sido obrigado a se jogar ao mar, para não ser esfaqueado.
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Quero receberAgora, a polícia indonésia ficou de investigar aquela suposta tentativa de assassinato.
Pescadores e clandestinos são maiores vítimas
O caso de Afif Efendy trouxe novamente à tona a cada vez mais frequente - e violenta - questão dos abusos e maus tratos que pescadores, sobretudo asiáticos, costumam sofrer a bordo de barcos pesqueiros, não raro com o "desaparecimento" das vítimas, sob o falso argumento de "acidentes no mar" - como, ao que tudo indica, também seria o caso do pescador resgatado na semana passada.
Não são, porém, apenas pobres pescadores explorados que costumam ser vítimas do acobertamento que a imensidão deserta dos mares permite.
Também os imigrantes e os clandestinos que embarcam ilegalmente em navios em busca de uma nova chance de vida em outro país, padecem do mesmo risco, e, às vezes, acabam sendo abandonados no mar em situações nas quais as chances de sobrevivência são mínimas.
Mas, felizmente, há exceções.
Um caso igual com final feliz
No Brasil, um dos casos mais dramáticos do tipo ocorreu 24 anos atrás, quando um menino nigeriano chamado Eyitope Aiyegbusi, então com apenas 17 anos de idade, embarcou como clandestino em um navio que ia da África do Sul para os Estados Unidos, mas, descoberto, foi lançado ao mar pelo comandante do navio na altura do litoral do Rio Grande do Norte, amarrado a um barril e com apenas um colete salva-vidas.
Por pura sorte, após um dia à deriva no mar, o garoto foi avistado e resgatado por um barco de pesca brasileiro, e não só sobreviveu como vive até hoje em Natal, agora rebatizado Gofu Corleoma, após ganhar o direito de permanecer no país - uma triste história, mas que, tal qual a do pescador resgatado na semana passada, teve um final feliz, como pode ser conferido clicando aqui.
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