Histórias do Mar

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Reportagem

'Não façam o que eu faço': o jovem que desafia os navios no Rio Amazonas

O amapaense Igor Cardoso, de 26 anos, tem um hobby tão estranho quanto perigoso: navegar — com uma simples canoa a motor — bem diante de gigantescos navios em movimento, em pleno Rio Amazonas.

Sendo que, por "bem diante", entenda-se "diante mesmo", a míseros centímetros da ponta de imensos cascos de aço, capazes de passar por cima por tudo o que encontrar pela frente — que dirá uma simples canoa, com um palmo e meio de altura.

"Tem que saber se aproximar do navio, conhecer muito bem o rio e manter o motor sempre nos trinques", diz Igor, que justamente por conta da maneira louca como arrisca sua vida, passou a ser conhecido como o "Doido dos Navios", na pequena comunidade de Vitória do Jari, no Amapá, onde ele vive — e de onde zarpa, com sua veloz canoa a motor (uma "rabeta", como são chamadas aquelas embarcações na região), sempre que avista um grande navio se aproximando no imenso rio.

Quanto mais perto, melhor

O prazer de Igor (também chamado de Igorshow, nas redes sociais, onde já tem mais de 60 000 seguidores no instagram, e quatro vezes mais no Tik Tok ) não é apenas se aproximar dos navios em movimento, e sim se enfiar bem na frente deles.

Quando isso acontece, com o celular em uma das mãos e o acelerador do motor na outra, ele filma suas estripulias, para depois postá-las no Tik Tok e vibrar - além de faturar algum dinheiro - com os recordes de visualizações que seus vídeos vêm obtendo.

"Tem alguns vídeos meus que já passaram de 150 milhões de visualizações", orgulha-se o amapaense, que, quando não está no meio do rio, desafiando os navios, ganha a vida como professor de artes e geografia em uma escola pública da comunidade onde vive - e que hoje transformou isso em uma fonte extra de renda.

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"Um dia, resolvi filmar uma aproximação que fiz de um navio e postei na internet. Quatro horas depois, seis milhões de pessoas já tinham visto o vídeo, que viralizou geral. Hoje, meus vídeos têm mais audiência do que os dos principais influencers do meu estado", diz Igor, orgulhoso, mas ao mesmo tempo preocupado de que isso possa "influenciar" outros jovens a tentar fazer o mesmo que ele.

"Não façam o que eu faço"

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Imagem: Reprodução/Instagram

"Não façam o que eu faço", ele alerta. "É preciso ter as manhas, e isso só se consegue com muita prática e certa dose de loucura", admite o amapaense, que também reconhece que o que faz é algo que beira a insensatez - porque navios não têm freios e basta algo dar errado para ele ser atropelado.

"Sim, é muito perigoso", admite. "Se o motor da rabetinha der uma falhadinha, você já era. É por isso que eu sempre reviso tudo nele, para não dar nenhum pipoco na hora agá".

Mesmo assim, Igor acredita que as chances de ser atropelado pelos navios que ele "escolta", muitas vezes a menos de um metro de distância, são pequenas.

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"Já observei que quando um navio se aproxima de um tronco de árvore boiando no rio, a própria marola que ele gera empurra o tronco para o lado, e não para debaixo do casco. Então, o mesmo deve acontecer com uma canoa. Eu acho..."

"O cara era mais louco que eu"

Por sorte - pura sorte, talvez -, Igor até hoje não comprovou sua teoria. Mas já passou alguns bons sustos. Como quando decidiu delegar o comando da canoa a um cunhado, para que pudesse filmar com mais facilidade.

"O cara era mais louco que eu e quase fomos parar debaixo do navio", recorda Igor.

"O piloto até disparou a buzina, quando viu a gente entrando na frente do casco e desaparecendo de vista. Saiu até gente no convés ver se o navio tinha passado por cima da gente", diverte-se o amapaense, que garante que sempre fez esse tipo de brincadeira, por puro prazer e adrenalina.

"Aqui na nossa região, isso é comum. Tem muita gente que faz. Eu fui apenas o primeiro a filmar, postar na internet e deu no que deu: milhões de visualizações. Eu jamais esperava tudo isso", diz.

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"Precisa pensar rápido"

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Imagem: Reprodução/Instagram

Nos vídeos, Igor sempre aparece a pouquíssima distância da proa (a parte dianteira) dos navios em pleno movimento, às vezes a centímetros da marola que eles geram, mas olhando a todo instante para trás, a fim de controlar a velocidade que deve imprimir ao motor de sua canoa, para não ser alcançado por aqueles gigantes de aço.

"Precisa pensar rápido, torcer para o motor não falhar e ter um pouco de sangue frio", diz Igor, para desespero da família, que nunca viu com bons olhos aquele seu passatempo esquisito.

Atualmente, ele vem fazendo cada vez mais vídeos, e ganhando algum dinheiro com isso. Também já está ensinando o filho, de apenas seis anos de idade, a pilotar a canoa que usa nas filmagens.

"Mas não para ele fazer o que eu faço", desconversa o "Doido dos Navios", que virou febre no Tik Tok.

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Outro aventureiro mais que ousado

Além da permanente possibilidade de ir parar debaixo dos cascos que aborda, Igor também corre o risco de ter a sua frágil canoa sugada pelos hélices dos navios, ao passar rente a eles, como às vezes ele também faz e documenta.

Em ousadia, o que Igor faz só tem algum paralelo em outras maluquices já protagonizadas por aventureiros um tanto desmiolados, em busca de alguma visibilidade para os seus "feitos" na água.

Um deles é o iraniano, radicado nos Estados Unidos, Reza Baluchi, que por três vezes já tentou "navegar" entre a Florida e as Ilhas Bermudas - uma distância superior a 1 500 quilômetros de mar -, correndo dentro de uma bola inflável, dessas que costumam divertir crianças em piscinas.

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Imagem: Reprodução

Nas três tentativas, o iraniano fracassou, sendo que na última delas chegou a ser preso pela polícia e proibido de tentar novamente.

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Mas nem assim Reza desistiu do seu plano maluco. Ele garante que em breve irá tentar uma vez mais fazer aquela travessia, "andando" sobre o mar, dentro de sua bolha giratória (clique aqui ler esta outra curiosa história).

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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