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Reportagem

'Só pode ser ele': pesquisador crê que nau de Vasco da Gama foi encontrada

Em 2007, pescadores quenianos encontraram, acidentalmente, os restos de um velho barco naufragado a 500 metros da costa da vila de Ngomeni, no litoral do Quênia, na África. E avisaram as autoridades - que, por sua vez, acionaram os pesquisadores locais.

Logo ficou claro que aqueles restos de grossas vigas de madeiras e alguns artefatos (pedaços de louça, presas de marfim e até uma espécie de penico) teriam pertencido a algum barco bem mais antigo do que se imaginava, e os quenianos pediram a ajuda de historiadores de outros países.

Entre eles, de Portugal, já que tudo indicava que se tratava de uma nau portuguesa, o que foi confirmado em seguida.

E com uma surpresa: aqueles restos poderiam ser do lendário galeão São Jorge, uma das embarcações que fizeram parte da terceira e última expedição de Vasco da Gama à Índia, em 1524.

A mais antiga nau portuguesa encontrada

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Imagem: Reprodução

De acordo com registros históricos, o galeão São Jorge teria afundado naquele ano de 1524, "em algum ponto da costa leste da África", quando seguia para a Índia, como parte de uma frota de 20 embarcações sob o comando de Vasco da Gama - que também morreria no dia de Natal daquele mesmo ano, já na Índia, possivelmente de malária.

E aquela suspeita aumentava significativamente o valor histórico do achado, pois seria a nau portuguesa mais antiga já encontrada.

Até hoje, 18 anos depois, os pesquisadores ainda não garantem categoricamente que aquele naufrágio encontrado na costa queniana é o do famoso galeão perdido da frota de Vasco da Gama - até porque outras naus portuguesas também se perderam na costa africana, ao longo dos tempos.

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Mas restam pouquíssimas dúvidas de que não o seja.

99% de certeza

"Estou 99% certo de que se trata do galeão São Jorge e muito me admiraria se não o fosse", disse recentemente à agência de notícias Lusa, de Portugal, o arqueólogo subaquático português Alexandre Moreno, do Instituto História, Territórios e Comunidades, da Universidade portuguesa Nova, de Lisbo, que há 25 anos estuda antigas embarcações portuguesas. "Até agora, todas as evidências arqueológicas comprovam isso de forma categórica".

"Já sabemos, com total certeza, de que se trata de uma embarcação portuguesa da primeira metade do século 16, e que, pelo que transportava, seguia para a Índia, após de ter feito escalas na África para embarcar mercadorias, como as presas de marfim, que seriam usadas para negociar com os líderes indianos", explica o arqueólogo.

"Além disso, no naufrágio foram encontrados restos de potes do mesmo tipo que eram usados na época para transportar farinha, possivelmente para a fabricação de pães na Índia", diz ainda Moreno.

"Resta apenas comprovar cientificamente que não se trata de outro galeão português que afundou naquela mesma região 20 anos depois, em 1544, o Nossa Senhora da Graça, que também seguia para a Índia. Mas, de acordo com documentos da época, toda a carga do Nossa Senhora da Graça, bem como os seus canhões, foram resgatados após o naufrágio. E o galeão encontrado em Ngomeni ainda contém mercadorias e armamentos. Portanto, só pode ser ele: o São Jorge", vibra o pesquisador.

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Um achado histórico

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Imagem: Pictures From History/Universal Images Group via Getty Images

A importância do achado tem a ver não apenas com o fato de ser uma embarcação da frota original de Vasco da Gama - considerado o maior navegador português da história -, como pelo relativo bom estado que seus restos se encontram, mesmo após cinco séculos debaixo d´água.

Ainda é possível ver pedaços inteiros das vigas, com cerca de 20 centímetros de espessura, que davam forma ao casco, bem como as dimensões do barco, tido como um dos maiores da época.

"Isso nos permite ter uma clara ideia de como eram as embarcações portuguesas do século 16, que eram construídas para as longas travessias até a Índia. Ao contrário das caravelas, os galeões eram embarcações resistentes e de guerra, já que os portugueses queriam expandir seus domínios mundo afora. É um achado fantástico, que queremos transformar em uma espécie de museu subaquático", completa Moreno.

O barco que foi parar no deserto

Para ajudar nas pesquisas in loco, os arqueólogos treinaram alguns pescadores quenianos, que desde 2007 vêm ajudando nos trabalhos de escavações submersas - algo nem sempre muito fácil, apesar da baixa profundidade em que se encontram os restos do galeão encontrado, a apenas seis metros da superfície.

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Imagem: National Museum Kenia

Mas, ainda assim, é um trabalho que exige muita técnica, porque tudo é feito debaixo d´água.

Bem mais fácil foram as escavações de outra antiga nau portuguesa também encontrada na costa da África, apenas um ano após este achado no litoral do Quênia.
Era a nau Bom Jesus, que também seguia para a Índia, após ter partido de Portugal em 1533.

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Imagem: Reprodução

Mas o que facilitou muito os trabalhos arqueológicos na Bom Jesus foi o local onde a nau naufragada se encontrava: soterrada pelas areias do deserto da Namíbia e não debaixo d´água, por conta do recuo do mar naquela parte da costa africana.

Mas, ainda mais curioso que isso foi a forma inesperada como ela foi encontrada, que pode ser conferida clicando aqui.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

7 comentários

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Marco Antonio Caetano

Mais uma grande história do Jorge de Souza. Eu adoro essa coluna.

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Francisco e de a Oliveira

Obrigado Jorge ótima matéria!!!! Posso ter entendi errado o texto, se os retos da embarcao estavam a 6 metros de profundidade o calado dos galeões não era tão grandes assim… uma vez me disseram que esse tipo de monarca o tinha mais de 10 metros de calado

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Jose Maria Lustosa de Melo

Quase 600 anos depois? Não creio!

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