Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Em ilha gay dos EUA, hotéis dispensam uso de roupa e 'sereios' são souvenir
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Dos 28 países em que já pisei até hoje, os EUA foram o 27º e um pouco antes da pandemia começar, ou seja, nunca foi minha prioridade, fugindo completamente do que costuma ser a primeira viagem internacional dos brasileiros. Sempre tive para mim que meu estilo de viagem era outro. Entretanto, qual foi a primeira cidade estadunidense do meu roteiro? Pois é, Orlando — mais clichê impossível.
Mas clichê não é meu forte, então Orlando serviu só para alugar um carro e pegar estrada até uma cidade próxima, Tampa, onde fiquei alguns dias antes de seguir para outro destino, ainda mais colorido: Key West, a ilha gay da Flórida.
O trajeto total é de mais de 6h30 de carro, mas, mesmo que seja possível fazer em um dia, vale muito a pena fazer uma parada cerca de 1h30 depois de Miami, que também serve de ponto de partida. O motivo? Uma estrada que passa por cima do mar.
Ao sul do estado da Flórida, fica um conjunto de diversas ilhas chamadas de Florida Keys. As cinco principais são Key Largo, Islamorada, Marathon, Big Pine Key e Key West, mas há diversas ilhas menores na região. As principais são conectadas pela Overseas Highway, uma rodovia que se estende por cima do oceano, ligando as ilhas maiores até alcançar Key West, onde fica o ponto mais ao sul dos EUA continental, a cerca de 145 quilômetros de Cuba.
Como cheguei cansado, meu pernoite foi em um hotel boutique em Islamorada, a 4 horas de Key West. O hotel tinha uma ilha privativa e drinque de boas vindas, o que garantiu um tempo de descanso antes de pegar a estrada de novo. O almoço no Robbie's Marina ainda pode render um passeio de snorkel.
Logo depois de Islamorada é quando a Overseas Highway começa a ficar realmente sobre o mar com qualquer pedaço de terra ou muito para trás ou muito à frente. A dica é passar por lá de dia para curtir o visual quase que surreal. Dirigir sobre o mar já é uma baita experiência por si só.
Key West, a ilha gay da Flórida
No fim da estrada sobre o mar, quem esperaria encontrar o arco-íris? Key West é uma das cidades mais LGBTQIA+ dos EUA, quase hétero-friendly. Desde que me descobri gay e comecei a gostar de viajar, Key West sempre aparecia nas pesquisas online e figurava como um lugar que eu precisava conhecer. E não me arrependi — quero voltar, inclusive.
Um dos diferenciais ao buscar hospedagem em Key West são os resorts gays, muitos com uso de roupa opcional. Nesse caso o foco são homens gays, de todas as idades. Me hospedei por uma noite no Equator Resort e foi uma experiência muito legal poder nadar pelado nas piscinas ou descansar sem roupa na varanda do quarto. Para uma pessoa que se considera nudista, como eu, foi libertador.
Esse hotel é uma entre diversas opções na pequena cidade. Há também outros, como o New Orleans House e o Alexander's Guesthouse. Mas um dos mais famosos é o Island House, onde fui jantar em um dos dias. Além de a comida ser boa e o excelente atendimento, não vou negar que foi bem divertido ver ali ao lado a piscina do hotel, com homens pelados passando para lá e para cá enquanto eu jantava.
O paraíso gay continua na Duval Street, rua principal onde estão a maioria dos comércios, restaurantes e bares de Key West e é também a rua mais gay da cidade. É lá que fica, por exemplo, o Gay Key West Visitors Center, ponto de atendimento ao turista LGBTQIA+.
E, passando por lá, não é difícil ver bandeiras do arco-íris penduradas ou lojas temáticas como uma que vende leques temáticos e outra com souvenires que incluem tritões — a versão masculina das sereias — ou homens-fada sensuais para decorar a casa.
Um dos points na Duval Street é o La Te Da, uma mescla de hotel, restaurante, bar e cabaré. Ali, assisti a um show de drag queen com Randy Roberts performando Cher e outras divas. Vale muito a pena também deixar-se perder a pé pela região da Duval Street.
Acabei aquela noite com o próprio Randy Roberts em um outro bar muito doido com decoração de macacos e música duvidosa — pois karaokê — chamado Bobby's Monkey Bar — e foi ótimo. O 801 Bourbon Bar também é uma boa pedida de bar e balada e fica pertinho das faixas de pedestre com cores do arco-íris.
Os principais eventos LGBTQIA+ de Key West ao longo do ano são:
- Key West Pride, em junho;
- Key West Tropical Heat, em agosto;
- Key West WomenFest, em setembro;
- Key West Headdress Ball, em outubro;
- Bear Weekend, em outubro/novembro.
E, estando numa ilha, nada melhor que curtir o mar e o clima praiano. Mas se a imaginação permitir fazer isso a bordo de um passeio de barco focado no público gay, a cidade também tem empresas especializadas, como a Blu Q. Key West não tem uma praia gay oficial, pois todas são amigáveis, mas a Higgs Beach é onde boa parte da comunidade renova a marquinha.
As informações completas e atualizadas sobre a vida queer na cidade ficam disponíveis no site de turismo local Gay Key West e na seção LGBTQIA+ do site do órgão de turismo de Florida Keys.
O paraíso gay para quem não é gay
Se a pegada não for desfrutar o lado gay da ilha, Key West oferece opções para todos os gostos. Para se hospedar, minha dica é o Marquesa Hotel, mais familiar e requintado, mas igualmente amigável. Para quem gosta de arte e história, o Museu Tennessee Williams, em homenagem a um dos mais célebres residentes gays da cidade, ou o Casa-Museu Ernest Hemingway, a casa do autor do livro "Por Quem os Sinos Dobram", são opções que mostram um pouco da arquitetura local e pincelam a história da cidade.
Um passeio histórico interessante é no Parque Estadual Fort Zachary Taylor, que tem também uma praia bem tranquila para descansar logo após o tour pelo forte que dá nome ao parque. Como toda ilha turística, é possível fazer passeios de barco para ver golfinhos ou o sol entrando no mar no fim de tarde, ou ainda se arriscar em tours de snorkel, parasailing ou eco-tours em caiaques, entre outros.
Independentemente do tipo de viajante, uma visita a Key West deve incluir, pelo menos, duas coisas: assistir ao pôr do sol que estará entre os mais lindos já vistos e celebrado com muita gente na Mallory Square; e experimentar o tradicional key lime, uma espécie de torta de limão característica da região.
A ilha gay da Flórida tem braços abertos para todo mundo. E, como eu costumo dizer: se o destino recebe bem a comunidade LGBTQIA+, vai receber bem qualquer pessoa. Só aproveite!
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.