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Castelo alemão inspirou Cinderela e foi construído por rei secretamente gay
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O Castelo da Cinderela é um ícone pop e sinônimo dos parques da Disney, já que é uma das principais atrações do Magic Kingdom. Mas quem diria que o reino mágico infantil seria inspirado por um alemão gay igualmente fantasioso?
Estou falando de Luís II, um dos reis da Baviera, região sul da Alemanha, e que também foi apelidado de "Rei Cisne" ou "Rei de Conto de Fadas". Estes títulos conectados a um mundo de fantasia foram também resultado indireto da sua profunda admiração pelo compositor Richard Wagner.
E o que isso tem a ver com turismo LGBTQIA+? Bom, eu arrisco dizer que bastante, já que Luís — ou Ludwig, no idioma original — muito provavelmente era gay. Sua relação com a homossexualidade nunca foi bem resolvida e isso, me parece, acabou impactando diretamente nas excentricidades de seu reinado e na construção de uma das principais atrações da Baviera ainda hoje.
A atração em questão é o Castelo de Neuschwanstein, que fica próximo à Füssen — Füßen, em alemão — uma cidade na região alemã de Munique. Além de ser um local fantástico para visitar em qualquer época do ano, ele também inspirou o Castelo da Cinderela construído no Walt Disney World Resort, em Orlando (curiosidade: o castelo do parque na Califórnia e em Paris é o da Bela Adormecida, não da Cinderela, é diferente. Durma com essa, beijos!).
Rei gay: conheça a "queen" bávara e bárbara dos contos de fadas
A vida do Rei Luís II se assemelha a de outros gays ao longo da História: sofrida, escondida e sem final feliz. Ele nunca se interessou muito por assuntos da corte, onde foi criado, e viveu a realeza sem grande conexão com seu pai e com sua mãe. Na adolescência, se tornou BFF (best friends forever) de seu ajudante, o príncipe Paulo, com quem cavalgava, lia poesia em voz alta e com quem encenava cenas das óperas românticas de Wagner. Adivinha quando a amizade acabou? Quando Paulo ficou noivo. O primeiro crush hétero a gente nunca esquece, né?
Para este nosso recorte, é importante destacar que Luís teve diversas e conhecidas "amizades íntimas" com vários outros homens ao longo da vida, como seu escudeiro Richard Hornig, o ator de teatro húngaro Josef Kainz e o cortesão Alfons Weber. Mas a bicha reprimia seus sentimentos por conta de sua fé católica, anotando seus pensamentos em um diário. Sim, a religião vem sendo ferramenta de tortura há muito tempo, infelizmente.
Os diários, algumas cartas e outros documentos pessoais sugerem (não vamos afirmar, né?) que ele era gay e lutava contra isso a vida todinha. Seu reinado foi de 1864 a 1886 e a homossexualidade não era punível na Baviera desde 1813. Se tem um lado bom é que ele era adorado pelas pessoas — e ainda é recordado como "Unser Kini" ("Nosso Querido Rei", no dialeto bávaro) — que não davam a mínima para isso, desde que (sempre tem um porém) ele tivesse um herdeiro. Em seu favor, ele tentou, quase casou, mas não rolou. Mas entendo o "póbi"? lembra do crush hétero?
Talvez seja por conta dele que a paixão do rei pela obra de Wagner só cresceu ao longo da vida. Quando assumiu o trono aos 18 anos, convocou-o para visitar a corte e isso ajudou a abrir portas para o compositor nos anos seguintes.
Depois do desinteresse pela política e sua excentricidade na construção de castelos e palácios, ele foi deposto com um complô que tinha até laudo médico atestando sua loucura, mesmo que os especialistas nunca o tenham examinado. Três dias depois, foi encontrado morto em um lago e evidências sugerem que ele tenha sido assassinado por inimigos.
Antes de morrer, ele construiu o belíssimo castelo sobre o qual falávamos!
Castelo de Neuschwanstein: inspiração para Cinderela e inspirado em Wagner
Com a criação da Grande Alemanha, que tirou um pouco do poder da Baviera, Luís foi se retirando da política e se dedicando a projetos pessoais, como é o caso do Castelo de Neuschwanstein. O projeto tem referências de outros castelos, franceses principalmente, e foi financiado pela fortuna pessoal do rei, mesmo que ainda estivesse no poder.
O palácio, de estilo Neo Romântico, está imponentemente situado num penhasco alpino — é a coisa mais linda, gente, juro! — e foi inaugurado em 1869, com vista para o Castelo de Hohenschwangau, onde o rei Luís II passou boa parte de sua infância. Nas paredes, a decoração tem representação das lendas descritas nas óperas de Wagner. Eu disse que ele era fã do cara!
Apesar do investimento para a construção ter sido pessoal, a Baviera sofreu financeiramente no período com as excentricidades do rei — incluindo piqueniques ao luar onde seus jovens pajens dançavam nus - e suas gastanças sem limite, mesmo que seus ministros tenham desaconselhado. Ele se irritou e queria demitir todo mundo, trocando por outras pessoas. Mas conseguiram depor o rei, secretamente gay, antes disso.
Curiosamente e ironicamente, o Castelo de Neuschwanstein foi tido como um dos responsáveis pela ruína financeira da Baviera, mas é hoje uma fonte de renda do estado. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Dica: conheça Neuschwanstein em qualquer época do ano — fui em pleno inverno de fevereiro e tava lindo coberto de neve — e combine com a visita ao Castelo de Hohenschwangau, ali do lado. A vista mais bonita para fotografar Neuschwanstein é a da Ponte Marienbruck, mas de um dos terraços do castelo tem-se uma vista de todo o vale.
É sensacional! Isso que eu chamo de Vale dos Homossexuais!
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