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Do litoral de SP à Turquia: chefs-ativistas que se mobilizam em tragédias
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Depois dos "chefs capas de revista", e dos "chefs-filósofos", vivemos a era dos chefs-ativistas, aqueles que sujam as suas Crocs nas ruas em prol de movimentos e causas humanitárias.
Nessa categoria, têm ganhado mais destaque aqueles cozinheiros que, em busca de ajudar vítimas de tragédias recentes, trocam suas cozinhas por acampamentos de emergência.
Ou que até transformam seus restaurantes temporariamente em bases para preparar comida para quem perdeu muito (ou tudo) com alagamentos, furacões, desabamentos e outros desastres naturais — inclusive no Brasil.
Midiático e onipresente
Exponente máximo dessa tendência é o espanhol radicado nos EUA José Andrés, que começou levantando a voz a favor dos imigrantes quando Trump defendia políticas de restrições a eles e se tornou mais onipresente nas tragédias pelos mundo do que o António Guterres (o português que é o secretário-geral da ONU).
Quem o segue nas redes sociais (onde está sempre online), vê que se trata de um homem imparável. De terremotos a outros desastres ambientais de escala mundial, passando pela recente guerra da Ucrânia, basta a situação complicar que lá está para conclamar um exército e ajudar alimentar as pessoas necessitadas.
Do furacão Maria, em Porto Rico, ao terremoto no Haiti, Andrés, que é fundador da organização não-governamental World Central Kitchen (WCK), criada para distribuir alimento a pessoas vítimas de desastres naturais, se tornou a face mais midiática desse movimento.
Indicando até mesmo para um Nobel da Paz em 2019 por seu trabalho humanitário, ele contabiliza já ter servido mais de 70 milhões de refeições pelo mundo — o documentário "We Feed People", realizado pelo National Geographic e recém-incluído no Disney+, conta melhor esta história.
Tragédia turca
Recentemente, a equipe da WCK esteve na Turquia para ajudar os desabrigados pelo terremoto de magnitude de 7,5 que atingiu o país. Serviram mais de 3 milhões de refeições preparadas em 10 cozinhas montadas com a ajuda de 43 restaurantes locais, além de centenas de voluntários, claro.
Ações como essa têm mobilizado outros cozinheiros a irem a campo. Também na Turquia, o chef local Fatih Tutak (do TURK, restaurante com duas estrelas Michelin em Instambul) dirigiu um caminhão de comida até Iskenderun, uma das cidades que mais sofreram com o terremoto.
Procurou um lugar seguro para parar e cozinhar com os donativos que chegaram de todas as partes do país. Na primeira semana, serviu mais de 12 mil pessoas por dia — muitas delas que ficaram sem teto.
"Se cada cozinheiro puder vir e cozinhar um dia, uma noite, já ajuda muito. São milhares de pessoas sem nada, algo que nunca vi na minha vida", disse em uma entrevista antes de voltar a Istambul para retomar as atividades do restaurante — não sem antes postar uma foto no Instagram, claro. Vivemos a era do posto, logo existo.
Heroi à brasileira
Mas as redes sociais também são importantes para mobilizar. Depois da tragédia das chuvas que destruíram cidades e desabrigaram centenas de pessoas no litoral norte de São Paulo, o trabalho do chef caiçara Eudes Assis ganhou projeção nacional por conta delas.
Dono e chef do Taioba Gastronomia, em Camburi, e criador do Projeto Buscapé, que educa crianças através da cozinha e dos esportes, Assis conseguiu preparar logo na primeira semana mais de 50 mil marmitas e arrecadar mais de R$ 1 milhão em doações.
Até hoje, segue em trabalho na cozinha de seu projeto para poder ajudar parentes de vítimas e aqueles que perderam tudo, ou bombeiros e pessoas trabalhando na linha de frente.
Vaquinha viral
Criou uma campanha nas suas redes com a ajuda do filho, que logo ganhou compartilhamentos de colegas cozinheiros e, depois, pessoas com muitos seguidores de outras áreas.
Foram mais de 10 mil pessoas doando valores diversos em uma vaquinha virtual liderada por ele, além de uma arrecadação realmente significativa de arroz, feijão, sal, óleo, azeite, proteína, verduras e legumes, além de matérias de higiene e fraldas, e até ração animal.
Foi a coisa mais linda ver como as pessoas aceitaram participar. Em uma hora como essas, sabendo usar, a rede social é maravilhosa", disse ele em entrevista à "Folha de S.Paulo".
Com um celular na mão e boa intenção na cabeça, os chefs ativistas podem nem sempre mudar o mundo, mas conseguem levar comida a cada vez mais gente sem precisar de governos nem de superpoderes.
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